Uma separação é sempre uma situação delicada, principalmente quando há filhos envolvidos. Quando a decisão é tomada de forma amigável, as chances de as crianças sofrerem algum tipo de trauma são reduzidas significativamente. Por outro lado, quando as duas partes não conseguem se entender e uma delas decide colocar o filho contra a outra acontece à chamada alienação parental, uma conduta altamente nociva e que pode ter graves consequências na formação emocional e comportamental dos descendentes.

O Que é Alienação Parental?

O termo alienação parental foi criado, em 1985, pelo psiquiatra norte-americano, Richard Gardner. Acontece quando um dos genitores, geralmente aquele que ficou com a guarda, faz uma espécie de “lavagem cerebral” na criança, levando-a a rejeitar o pai ou a mãe. Na maioria das vezes isso ocorre através de ideias falsas, como, por exemplo, de que o progenitor ou a progenitora não lhe ama, lhe abandonou, trocou de família, que é uma pessoa agressiva e má, que quer fazer-lhe mal ou levar o filho para longe.

No ano de 2010, foi sancionada no Brasil uma lei que tem como objetivo combater a alienação parental, que acontece em cerca de 80% dos casos de separação no país. Ela conta com medidas que podem incluir o acompanhamento psicológico dos filhos, multa ou até a perda da guarda por aquele que cometeu a alienação. É realmente um assunto bastante sério e que deve ser tratado como tal.

Os Males Causados Pela Alienação Parental

Uma criança ou adolescente que vive uma situação de alienação parental pode carregar as marcas disso por toda a sua vida. Veja quais são as principais consequências desse trauma:

Percepção Prejudicada: ao se tornar adulto, o indivíduo pode ter dificuldades para perceber os diversos desdobramentos que uma mesma situação pode ter, pois cresceu acreditando que só existe o que é bom ou ruim. No caso de uma separação, por exemplo, é delicado julgar as coisas apenas por certo e errado, pois cada uma das partes tem a sua razão e os seus motivos.

Dificuldade de Se Relacionar: a criança que cresceu com a ideia de que foi rejeitada por um dos pais pode ter grandes dificuldades para se relacionar, principalmente pela insegurança e pelo medo de sofrer novamente.

Transtornos Psíquicos: o trauma pode acarretar em uma série de transtornos, como ansiedade, fobia social, depressão, bipolaridade, comportamento agressivo e maiores chances de desenvolver vícios relacionados a drogas e álcool.

Problemas de Identidade: a identidade de uma pessoa é formada de acordo com as percepções que ela tem do mundo ao seu redor. Impedir que ela tenha contato com um dos seus genitores é negar a ela o direito de constituir sua personalidade e história por inteiro.

Ausência de uma Parte da História: os pais são aqueles que deram origem ao filho, nesse sentido, ser privado da presença de um deles é impedir que a criança conheça uma parte importante da sua história, família e origem, anulando assim uma parcela dele como ser humano.

Sentimento de Culpa: naturalmente, a criança ama seus pais, então, ela pode vir a sentir uma grande culpa por amar alguém que é ruim (de acordo com o que ouve de um deles) e tentar sufocar esse sentimento.

A alienação parental é uma forma de abuso e maltrato em relação aos filhos, pois esta atitude negativa leva os descendentes a rejeitar um dos seus genitores injustamente e privarem-se da convivência com uma pessoa que é importante, amada e fundamental para a sua formação como seres humanos.

A Alienação Parental é Prejudicial Para Toda a Família

Além dos problemas que pode causar no desenvolvimento e na personalidade do indivíduo, a alienação parental é prejudicial para toda a família. Como eu disse uma separação já envolve questões delicadas, mas isso não significa que precise ser cercada por brigas, injúrias e desentendimentos. Por mais que possa haver mágoas e assuntos mal resolvidos, colocar os filhos contra a outra parte apenas irá fazer com que tudo se torne mais doloroso para todos.

Impedir o filho de ver o pai ou a mãe, usá-lo como forma de se vingar ou exigir bens do ex-cônjuge em troca da permissão para manter contato com a criança são exemplos de alienação parental. Ações que podem trazer consequências graves para toda a família e que deixam de considerar algo que é extremamente importante, que é o bem-estar emocional e psicológico dos filhos, independente de os pais estarem casados ou não.

Colocar fim a uma relação que já não vai bem é um direito de todos os indivíduos, inclusive é muito mais saudável tomar essa decisão do que fazer com que os filhos convivam diariamente com brigas e desentendimentos e se sintam responsáveis por isso. Entretanto, tudo deve ser resolvido apenas entre o casal, deixando os herdeiros neutros, sem obrigá-los a tomar partido e apoiar um dos lados.

Como Evitar a Alienação Parental

A alienação pode ser evitada, mas, para isso, é importante que tanto o pai quanto a mãe estejam dispostos a manter a neutralidade dos seus sentimentos ou ressentimentos na presença dos filhos durante o processo e, também após a separação ser concluída. Então, o ideal é ter uma conversa franca com o ex-cônjuge para que possam entrar em um acordo e os herdeiros não sejam envolvidos em seus conflitos. Dentre as atitudes que evitam a alienação estão:

  • Não falar mal do ex-cônjuge na presença da criança e nem quando ela estiver por perto, para se certificar de que ela não irá ouvir nada que desabone o pai ou a mãe;
  • Agir com naturalidade quando a criança disser que deseja ver o outro genitor, sem demonstrar ciúme ou qualquer tipo de mágoa;
  • Reprimir qualquer coisa que o filho fale de negativo em relação ao genitor, ao invés de concordar com ele. Incentive-o sempre a respeitar o pai ou a mãe;
  • Conversar sobre a separação, mas sem entrar em mais detalhes do que o necessário, principalmente se eles prejudicarem a imagem que a criança tem em relação ao pai ou à mãe;
  • Evitar discussões indiretas, diretas, xingamentos ou qualquer tipo de ataque ao ex-cônjuge perto da criança.

Por mais desafiador que pareça entrar em um acordo com o ex-cônjuge é a melhor maneira de evitar que os filhos passem por essa situação traumática causada pela alienação parental. Lembre-se sempre que existe ex-esposo e ex-esposa, mas nunca ex-filho, pois essa relação é eterna. Colabore para a felicidade do seu filho e jamais estenda e ele suas frustrações. Trabalhe isso!

Minha dica final é que honre os seus filhos e também a história que viveu ao lado da pessoa de quem está se separando. Ao invés de pensar que o relacionamento deu errado, pense que deu certo enquanto durou e, além disso, deu origem aos bem mais preciosos que alguém pode possuir: os filhos.

Desejo sabedoria nesse momento de mudança e recomeço e que consiga ter a inteligência emocional para lidar com a situação da melhor maneira possível. Busque libertar-se da mágoa e do ressentimento, vá viver sua vida, se dê novas oportunidades para ser feliz e não deixe que sentimentos ruins jamais prejudiquem a alegria das suas crianças. Mais do que um crime previsto em lei, este é um crime contra a sanidade dos seus filhos, contra sua felicidade e bem-estar emocional.  Lembre-se disso, evolua e faça o seu melhor!

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