Romolo Tavani/Shutterstock A Mitologia de Chronos e Kairós nos traz muitas lições e reflexões sobre nós e o poder do tempo

Na antiga Grécia, o convívio do homem com o tempo era algo muito particular, especialmente porque essa medida era associada à proximidade da morte – representante de uma das forças que potencialmente movimentavam a humanidade. Nas discussões gregas, temas relacionados à “temporalidade” eram discutidos com base em mitos, pois consistia na melhor forma de substituir palavras ou termos, através de analogias, e dessa maneira tornar a comunicação acessível e eficaz.

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Entenda a Mitologia de Chronos e Kairós

Um dos mitos largamente utilizados pelos gregos era o de Chronos. Comandante dos Titãs (povo anterior aos Deuses Olímpicos) era conhecido como um ser intolerante; filho mais novo de Urano e Gaia, que na mitologia grega, eram as divindades que personificavam o Céu e a Terra. Gaia tramou junto com Chronos a posse do trono, que era de Urano. O plano de castrar o pai representava uma vingança de Gaia que estava extremamente aborrecida com seu “esposo”, que passou a lhe devolver ao ventre todos os filhos gerados por ela quando não os aprisionava em cavernas.  Uma vez destronado, Urano amaldiçoou Chronos determinando que ele seguiria o mesmo destino: ser destronado por um filho.

Dessa maneira, Chronos deu início à Era dos Titãs, casou-se com sua irmã Réia e com medo de seguir a sina do pai, devorava os filhos assim que nasciam para garantir que nenhum deles pudesse se revoltar contra ele no futuro. Mas Réia, extenuada com o fato de perder todos os seus filhos, salvou Zeus – o último filho. Passado o tempo, a hipótese do pai se confirma, Zeus o enviou junto com os Titãs, que apoiaram Chronos na guerra, para o Tártaro – lugar mais distante no reino dos mortos – e resgatou seus irmãos, a criação.

Todas as palavras que derivam de Chronos, tais como: cronômetro, cronológico, cronograma nos remetem à ideia de um tempo que pode ser controlado que não deixa esquecer- nos os prazos, as entregas; que acaba; é inflexível; que passa de uma forma relativa à presentificação, uma característica do tempo vivido por cada um, sentido como presente e integrado na memória de quem vive como tal.

Dando continuidade à criação, Zeus, teve outros filhos, o último foi Kairós, que assim como o avô, Chronos, representava o tempo, mas não da mesma maneira, pelo contrário, este último era a personificação do tempo subjetivo, individual, cuja posse era cada um dos homens e deuses. Kairós era símbolo da oportunidade, a oportunidade agarrada, aquela que não se deixa passar. Essa ideia era representada pela imagem de um jovem atlético, que tinha asas nos pés e transitava em uma velocidade incrível pelo mundo inteiro de forma aleatória, deste modo, era impossível prever um encontro com ele.

O tempo, segundo Kairós, não pode ser definido, medido, quantificado, estipulado, mas por outro lado é pessoal, significa aguardar a melhor ocasião ou o momento certo, a ideia de movimento, sugere que deve-se estar atento ao instante único vivenciado. É um tempo que não reproduz o passado nem entrevê o futuro: Kairós é “o melhor no instante presente”.

O que Podemos Aprender e Trazer para os Dias Atuais

Ao observarmos as atitudes, fatos e acontecimentos, tudo aquilo retrata o estancamento, o limite, ou a limitação das situações temporais, o olhar crítico que avalia as possibilidades e os limites estamos trazendo o mito de Chronos para os dias de hoje. Em relação ao conhecimento, podemos pensar que a estreita relação com o tempo cronológico implica numa “delimitação intencional em blocos de tempo” (GARCIA, 2006). A ideia de Kairós é complementar à noção de temporalidade representada por Chronos, explícito como uma sutil compreensão de um conceito que “surge da totalidade de um instante imprevisível”, citando Garcia.

A consciência do tempo de Kairós requer uma percepção afinada das necessidades de todos os envolvidos, bem como daquilo que o grupo idealiza. As janelas de oportunidade que imprevisivelmente se abrem em determinados contextos, estão relacionadas com Kairós. Para nossa atividade produtiva, muitas vezes, é preciso que se perceba e explore o momento adequado, esta percepção requer atitudes atentas e criativas.

Quando você se percebe agindo em resposta às sutis necessidades momentâneas, recorrendo ao sentido de oportunidade informado por Kairós, suas ações ultrapassam as fronteiras representadas por Chronos. A dimensão de tempo que Kairós figura, tem seu significado agregado ao saber ‘quando’ e ‘como’ utilizar o momento oportuno.

Quanto você é capaz de criar no tempo e cronológico? E no tempo kairológico? Qual a qualidade da sua criação? Você acredita que verdadeiramente há diferença entre sua criatividade e produtividade dependendo do tempo? Quando você tem a sensação de que algo fluiu, de que você se “perdeu no tempo”, como você se sente? Já teve a sensação de que o momento presente está em movimento e que ele em breve não será mais presente?

Essa ideia sobre a fluidez é explicada também através de uma linha, uma sequência de fatos, instantes, flashes vividos no presente que vão se deslocando do passado, de algo que já foi, em direção a um momento futuro próximo, mas que ainda não chegou. Esses dois tempos são responsáveis por muitas vezes, aglutinar eventos para organizarmos mentalmente sequências de fatos e acontecimentos com mais atenção e para nos darmos conta de que, geralmente usamos palavras associadas ao tempo para explicar as associações entre causa e efeito, o que é orientado ou invariável.

Somos capazes de direcionar a fluidez do tempo, talvez esse seja o aspecto fundamental que define além da elasticidade, a noção de causalidade dos eventos, também podemos pensar que, de outro lado o tempo do inconsciente ou o consciente é o que marca essa “temporalidade”, na qual podemos lembrar o passado ou antecipar o futuro.

Na prática, percebemos que dois instantes podem ser sucessivos no tempo, contudo, não necessariamente ocorrem juntos, o que pode-se passar sem perceber é que estes dois momentos são concomitantes, quando lembramos ou imaginamos, ao conservar em forma de imagens o que não existe mais, ou ao projetarmos o que ainda não existe.

A contradição existente na palavra que empregamos hoje no nosso vocabulário semântico para designar tempo partiu desta “falsidade fundamental” e de uma impossibilidade: não é possível que uma palavra como ‘tempo’ se refira verdadeiramente ao tempo, pelo fato de que ao se referir a ele, o faz ser o que ele não é. ‘Tempo’ pretendia referir-se à continuidade e à infinitude, a um ‘passar’ que não nota que passa. Há sempre algo que escapa. Algo “sem fim, sem limites nem cortes, sem linha nem figura” (CALVO, 2001, p. 17).

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Reflexão Poderosa Sobre o Tempo

Ao aceitar que dentro do tempo do relógio existe a intensidade do tempo, Chronos e Kairós, se um minuto do tempo do relógio para mente consciente equivale a 60 segundos e o mesmo minuto do tempo do relógio para a mente inconsciente pode equivaler a memória de uma vida inteira, de mais de 50 anos de idade cronológica, porque escolhemos ou não escolhemos tanto tempo para obtermos nossas metas e objetivos em nossas vidas.

Quando concordamos com a existência do tempo de Chronos e do tempo de Kairós, qual será nossa “intenção positiva” de muitas vezes nos sabotar para necessitarmos de tempos tão longos e agora sabendo dessa base teórica, conhecendo que nossa mente inconsciente pode processar memórias de muitos anos em segundos, o que poderemos colocar em prática no final dessa leitura?

O caminho da competência, a mente inconsciente (Self 2) é puramente cognitivo e se faz mais rápido pelo estudo, usando nosso Self 1. Essa é o poder do conhecimento. Quando não se sabe sobre Chronos e Kairós criamos muitas mentiras e acreditamos como verdades.

Agora, podemos usar esta poderosa informação para cocriarmos com nossos coachees, clientes, amigos e com a gente mesmo, uma reflexão profunda de que nossas metas e objetivos podem ser alcançados, em menor tempo cronológico, usando o tempo que transcende os minutos e horas.

Bibliografia pesquisada

CALVO, A. G. Contra el tiempo. 2.ed. Madrid: Lucina, 2001

COMTE-SPONVILLE, A. O ser-tempo: algumas reflexões sobre o tempo da consciência. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

CORAZZA, S. M. “Labirintos da pesquisa, diante dos ferrolhos”. In: COSTA, Marisa V. (Org.) Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação. Porto Alegre: Mediação, 1996.

DAMÁSIO, A. R. “Lembrando de quando tudo aconteceu”. Scientific American Brasil, São Paulo, ano 1, n. 5, p.78-85, out. 2002.

DERDYK, E. Linha do horizonte: por uma poética do ato criador. São Paulo: Escuta, 2001.

GARCIA, J. CRONOS E KAIRÓS: Repensando a Temporalidade do Currículo. Disponível em: Acesso em 28 jun. 2006

POHLMANN, A. R., Intuições sobre o tempo na criação em artes visuais, artigo publicado em Santa Maria, v. 31 – n. 02, p. 283-294, 2006 educação. Disponível: https://www.ufsm.br/ce/revista

SABÓIA, I. B. de. Fortaleza, 2007. 199f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará. Centro de Humanidades. Departamento de Psicologia. Mestrado em Psicologia.

SCHOPENHAUER, Ar. Da morte. São Paulo: Martin Claret, 2002. (A Obra-Prima de Cada Autor, 66).

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