Kaspars Grinvalds/Shutterstock Quando mudamos nossa forma de enxergar o estresse podemos passar a vê-lo de maneira mais positiva e nos beneficiar dele

Quem nunca passou por alguns momentos de relativo estresse? E por momentos de uma quantidade razoável de estresse? Talvez você esteja pensando que passar por muitos momentos de estresse é algo fora da curva? Fique tranquilo, você está dentro de certa normalidade. Não é só com você que isto acontece. Mas vamos explicar cientificamente como o estresse pode ser benéfico e positivo para promover mudanças significativas em sua vida.

Por anos os profissionais da área da saúde tentam ensinar às pessoas que o estresse é algo ruim, que adoece o ser humano, aumenta o risco de adquirir qualquer doença, desde um simples resfriado até doenças mais sérias, cardiovasculares.

Desmistificando o Estresse

Neste momento, nossa intenção é desmistificar o estresse. Uma pesquisa realizada por Kelly McGonigal, com 30 mil adultos, nos Estados Unidos, durante oito anos tinha o objetivo de investigar a “quantidade” de estresse que os participantes tiveram no último ano. Eles também perguntavam: “você acredita que o estresse é prejudicial à sua saúde?” Aliado às perguntas, houve também procura, em registros públicos, para saber a causa dos óbitos naquele mesmo período.

O que estes pesquisadores descobriram? Bem, primeiro as más notícias: houve um aumento de 43% de risco de morte para aqueles que tiveram muitos momentos de estresse. Mas essa era a verdade para aqueles que acreditavam que o estresse é algo prejudicial à saúde. Aqueles que tiveram muitos momentos de estresse, mas não acreditavam que fosse algo prejudicial não estavam tendenciosos à morte. De fato, elas tiveram os menores riscos de morte quando comparado a qualquer outra pessoa no estudo, incluindo aquelas que tiveram relativamente pouco estresse.

Durante os anos de pesquisa, estimou-se que 182 mil americanos morreram prematuramente não de doenças decorrentes do estresse propriamente dito, mas sim da crença de que o estresse era algo ruim para a própria pessoa. Quando paramos para pensar nisso, estimamos quase 20 mil óbitos por ano, ou seja, a 15ª maior causa de mortes nos Estados Unidos, matando mais pessoas do que o câncer de pele, HIV/AIDS e homicídios.

Este estudo causou grande espanto à pesquisadora e a fez pensar “será que mudar como pensamos sobre o estresse pode nos tornar mais saudáveis?” A resposta veio de um novo estudo científico e a resposta é afirmativa. Sim, um novo estudo comprovou que quando o ser humano muda a opinião sobre o estresse, pode também mudar a resposta corporal ao estresse.

Testes de Estresse

Para explicar como o estudo foi feito, a pesquisadora explica que o teste foi feito em laboratório a partir de um comando específico. O teste de estresse social consistia em solicitar aos participantes que fizessem um discurso improvisado de cinco minutos relatando suas fraquezas pessoais a uma banca de avaliadores especialistas sentados de frente para essa pessoa. Para que ficasse bem claro que eles estavam sob pressão, havia luzes fortes e uma câmera bem direcionada para o rosto dos entrevistados e os entrevistadores foram orientados a dar feedback não verbal negativo.

Outras dinâmicas com o mesmo objetivo foram feitas, por exemplo, ao pedir para você contar em ordem decrescente a partir de 999 numa sequência de 7 em 7, aparentemente um teste de matemática fácil e sem conexão com o estresse certo? Errado! Durante o teste, sem aviso prévio, e para tensionar mais a situação, algumas pessoas foram orientadas a perturbar vocês durante a contagem, solicitando mais agilidade, ou para pararem e recomeçarem do início.

Certamente esse movimento causaria certo incômodo, que aqui conceituaremos como estresse. Considerando alguns sintomas físicos como: coração batendo mais forte, respiração mais acelerada, sudorese, facilmente confundiríamos com ansiedade ou pensaríamos que não estamos lidando muito bem com a pressão.

Outro estudo feito pela Universidade de Harvard, com uma nova amostragem de pessoas, “educou” os participantes a repensar sua resposta ao estresse como algo útil, como sinais de fortalecimento do corpo, como uma forma de preparação para a ação. A respiração mais acelerada já não seria mais um problema e sim uma possibilidade de oxigenar melhor o cérebro. Está curioso para saber qual foi o resultado?

De um modo geral, um resultado extraordinário, os participantes estavam menos ansiosos, autoconfiantes. Em uma resposta característica ao estresse, a taxa cardíaca sobe, os vasos sanguíneos se contraem, isso esclarece o motivo pelo qual o estresse muitas vezes está associado a doenças cardiovasculares, por isso, ficar nessa condição pode ser prejudicial ou até perigoso. Mas pasmem! O estado de alegria e coragem tem os mesmos estímulos do que o de estresse. O que a nova ciência nos aponta é para a capacidade que a mudança biológica tem de poupar a vida de uma pessoa que aos 50 anos poderia ter um ataque cardíaco induzido pelo estresse para uma vida saudável até os 90. O que importa aqui, é a maneira como pensamos o estresse.

Quero propor que você mude seu mindset, e passe a pensar como o estresse pode ser bom, como o batimento mais acelerado do coração, o suor, estão na verdade, te ajudando a se levantar e atender ao chamado do desafio. Quando você encara o estresse dessa maneira, seu corpo passa a acreditar nesta afirmação e sua resposta ao estresse é mais saudável.

Uma nova ideia plantada pela Dra. McGonigal consiste em aceitar que o estresse torna as pessoas mais sociáveis. Para falar desse assunto, precisamos entender como a oxitocina pode ser altamente eficaz e como ele é produzido. A oxitocina é um dos hormônios mais “famosos”, ele também é conhecido como “hormônio do abraço”, ele geralmente é produzido quando abraçamos alguém.

Oxitocina – O Hormônio do Estresse

Mas esta é apenas uma das facetas da oxitocina. Ela é um neuro-hormônio que ajusta os instintos sociais do cérebro e te levam a fazer coisas que fortalecem relacionamentos próximos. A oxitocina te dá a informação de que o indivíduo precisa de contato físico com amigos e familiares, também realça a empatia das pessoas, deixa mais disposto a ajudar e apoiar as pessoas com as quais você se importa.

Mas aqui está o grande segredo da oxitocina. É um hormônio do estresse, sua glândula de secreção interna bombeia essa substância como uma parte de resposta ao estresse, tanto quanto a adrenalina que faz seu coração bater mais forte.

Quando a oxitocina é liberada como resposta a uma situação de estresse está te impulsionando a procurar apoio, esta resposta biológica está suscitando que você procure uma pessoa com quem possa compartilhar e não guardar o sentimento exclusivamente para você. Basta perceber como você age quando passa por algo difícil em sua vida pessoal ou profissional: busca alguém ao seu redor buscando respostas ou acolhimento.

Como saber qual a parte saudável do estresse? A oxitocina é um hormônio que não age somente no cérebro, ela tem efeitos colaterais no corpo, uma das principais funções é proteger seu sistema cardiovascular dos efeitos do estresse, é um anti-inflamatório produzido pelo nosso organismo, ela ajuda os vasos sanguíneos a ficarem relaxados durante o estado de estresse, mas o processo mais lindo acontece no coração. É um órgão que possui receptores para esse hormônio, que por sua vez, ajuda as células cardíacas a se regeneraram e se curarem de qualquer dano causado pelo estresse. Os benefícios físicos, já citamos acima, mas vale relembrar: aumenta a necessidade de contato e apoio social, e aí, o mais extraordinário acontece, quanto mais você mais você libera esse hormônio, mais saudável é sua resposta ao estresse e mais rápido você se recupera, aumenta sua capacidade de ser resiliente.

Mais uma pesquisa foi feita. Cerca de 100 adultos em idade entre 34 e 93 anos foram questionados com as mesmas perguntas: a) quanto estresse você teve no ano passado?;  b) quanto tempo você passou ajudando amigos, vizinhos ou pessoas em sua comunidade? Além das respostas, foram analisados dados públicos para analisar quais dos entrevistados teriam morrido nos cinco anos após dar a resposta.

Descobriu-se que para cada grande experiência de vida estressante como dificuldade financeira ou crise de família, aumentava em 30% o risco de morte, mas esse índice não o mesmo para todos. Todos aqueles que dedicaram um pouco de seu tempo cuidando dos outros não apresentaram aumento nos casos de morte causados por estresse. Importar-se com alguém cria resiliência, conceito original da física que quer dizer sobre a condição que um dado objeto tem de voltar ao estado à sua forma original, depois de ter sofrido deformação.

Para encerrar este texto, mas não uma mudança de paradigma, queremos provocar uma reflexão. Até quando você vai deixar o estresse dominar seu corpo de modo negativo e te privar de todos os benefícios que ele é capaz. Faça sua escolha, encare a resposta ao estresse como algo útil. Eduque seu corpo para que ele tenha a biologia da coragem. Conecte-se com as pessoas quando você está sob o estresse, isso não quer dizer que você precisa estar nervoso e descontrolado. Mas uma situação em que algo estiver sutilmente fora do lugar habitual. Exercite a resiliência. Pratique o bem.

Acesse seu coração quando estiver estressado. Um coração sensível que encontra a alegria e o significado quando está conectado com os outros, bate para lhe dar força e energia necessárias para que você siga no caminho da ressignificação do estresse. Afirme profundamente que você pode confiar em si mesmo para que as mudanças na vida sejam graduais e efetivas.

Lembre-se sempre de se lembrar, de nunca de esquecer de que você não precisa enfrentar seus desafios sozinho, escute seu coração, abrace alguém próximo a você e compartilhe desta poderosa ferramenta chamada estresse.