Quando se pensa na eficácia da metáfora, é fundamental ter em mente que o que vale para ela é o mesmo que vale para a hipnose ericksoniana em geral: não há contraindicação ou efeito colateral. Seu uso, portanto, jamais deve ser encarado como algo de validade duvidosa. Trata-se de uma ferramenta promissora e que traz frutos positivos. Na fragilidade da metáfora, está também a sua força.
Ela é apenas uma história, um símbolo, uma ideia sintetizada. Por não ter a pretensão de ser uma diretriz, ordem ou uma regra absoluta que não pode deixar de ser seguida, ela cumpre seu papel terapêutico sem impor nada ao coachee. Levar a metáfora em conta é um gesto voluntário, que é parte da disposição individual de buscar melhorias, sem, no entanto, representar uma obrigatoriedade.
O coachee só acolhe a metáfora por reconhecer nela uma vantagem e não uma obrigação, por isso não encontra barreiras em sua mente. O uso de contos para influenciar no comportamento das pessoas não é algo novo. A prática de contar histórias é tão antiga quanto à própria capacidade de comunicação.
Fruto da oralidade e da necessidade de manter uma memória, os grupos humanos sempre cultivaram o hábito de transmitir os grandes feitos de sujeitos e povos. Muitas dessas histórias encerram com o que os contos infantis chamam de “moral da história”, que se caracteriza por uma espécie de conclusão da narrativa em que as peripécias do personagem suscitam uma reflexão no leitor/ouvinte. Assim, o conto não seria um mero lazer, mas influenciaria no modo como as pessoas veem o mundo e agem nele.
As imagens metafóricas são sempre transformativas e por isso podem gerar uma troca cognitiva e emotiva. O sucesso da metáfora está em se fazer passar, no fim do processo, por uma mensagem objetiva e direta. Após ter sido transmitida indiretamente e assimilada dessa mesma forma pelo sujeito, ela tem a capacidade de fazer com que o coachee lhe dê um tratamento como o de uma mensagem objetiva, para a qual ele mobiliza todos seus esforços intelectuais e racionais a fim de alcançar o que o foi proposto.
As Metáforas no Trabalho do Coach
O coach assume uma posição na qual acredita que as limitações do coachee são estritamente subjetivas e estão enraizadas nos domínios do inconsciente, sendo menos ineficaz, portanto, tratá-las apenas com a linguagem que fala aos ouvidos da mente inconsciente. A metáfora, nesse sentido, camufla-se de uma mensagem objetiva para que tanto a lado consciente quanto o inconsciente concorram para alcançar o objetivo sugerido e perseguido.
No processo de ressignificação, muito próprio do trabalho com o Coaching, as metáforas são ferramentas básicas. Para isso, é necessário não só conhecer uma quantidade significativa de metáforas, mas compreender como os mecanismos narrativos desses contos podem atingir as emoções do coachee a ponto de surtir um efeito observável no seu escopo comportamental.
As metáforas motivam não unicamente o comportamento verbal, a fala e a escrita, mas também o comportamento não verbal: os gestos, as emoções, os pensamentos, as experiências humanas em geral.
As metáforas, no entanto, não partem apenas do coach para o coachee. É preciso também reconhecer as metáforas que as pessoas usam para tentar expressar as sensações desencadeadas por um processo específico. Quem nunca tentou explicar algo com “é como se…”?
A própria forma como falamos sobre nossa vida, nossa história, é uma forma metaforizada, pois vem de uma perspectiva própria. O coachee precisa, no processo de Coaching Ericksoniano, ter liberdade para criar suas próprias metáforas.
Todas as emoções como a angústia, a ansiedade, o remorso, a culpa, certas confusões ou crenças limitantes, como “não consigo” e “eu não sei”, podem ser abordadas com sucesso por meio do processo de metáforas incorporadas. No fim das contas, as metáforas funcionam como um mapa autorreferenciado que dá ao sujeito a oportunidade de se encontrar, de se conectar com as soluções que apenas ele mesmo está apto a construir.
O processo de trabalho através de metáforas incorporadas (baseado também no método de Robert Dilts) tem como pilar central a ideia de que os indivíduos possuem dentro de si todos os recursos que precisam, mas talvez, estes tenham sido tenham sido ofuscados por emoções negativas. Ao liberar estas emoções negativas, o indivíduo será capaz de acessar o estado inconsciente com fluidez.
Ao trabalhar com metáforas, há que se ter um esquema progressivo, que pode ser: 1) identificar o estado a ser tratado, 2) desenvolver a metáfora incorporada associada, 3) identificar um tempo anterior à metáfora do problema, 4) desenvolver ou criar uma metáfora de recursos, 5) convidar a metáfora de recursos para interagir com a metáfora do problema, 6) verificar os resultados. Em detalhes, cada etapa:
- Identificar o estado a ser tratado.
Padrões de comportamento ou emoções podem ser tratados como estado inicial de um problema. Aspectos da identidade ou da personalidade podem referir-se aos padrões de comportamento. Nesta etapa, o mais importante é o coach usar a própria linguagem de seu coachee, para ocorrer à conexão necessária que antecede o atendimento.
- Desenvolver a metáfora do problema.
Neste passo, as perguntas têm a intenção de investigar a localização no (ou ao redor do) corpo físico e determinar a forma, o tamanho ou o estado do problema. Algumas perguntas como: “Qual a forma que sua angústia tem?”; “Qual o tamanho dessa forma?”. Outras podem ser feitas para afinar e metaforizar o problema, como por exemplo, “você me diz que esta dor tem uma forma redonda e áspera, como o quê?”. Neste momento, o coachee criou sua própria metáfora da dor e a localizou em seu corpo, cinestesicamente, essa dor tem um reflexo concreto. A partir dela, podemos desenvolver e pedir mais detalhes quantos forem necessários para tornar consciente o que é conteúdo inconsciente.
- Identificar um tempo anterior à metáfora do problema.
Este passo consiste em convidar o coachee a “revisitar” um tempo anterior ao que ele vive o estado de problema. Sempre respeitando os sentimentos de seu coachee, isto pode trazer à consciência lembranças e sensações que ele desejará ter de volta. Observe que, a escolha desse tempo deve considerar os recursos que seu coachee possui para um mergulho profundo em suas emoções. Este momento deve ser posterior ao de identificação do estado de problema, pois a rememoração pode criar um novo estado, ou ainda, ser associado a uma lembrança traumática. Perguntas como: “é possível você se lembrar de um tempo em que a árvore se sentiu segura (ou confortável, feliz…)?”, damos continuidade com perguntas conscientes, como: “qual idade você tinha?”, “onde morava?”… Induzir seu coachee a reviver essas boas memórias é o que dará sustentação à continuidade do trabalho com metáforas.
- Desenvolver uma metáforade recursos.
Uma metáfora de recursos é a forma de criar “metáforas auxiliares”, ou seja, representações de algum aspecto da pessoa ou das crenças espirituais que podem em forma de “personagens” que representam o sentimento vivido na etapa 3 com o objetivo de colaborarem na solução da a metáfora criada para o problema. Alguns exemplos de auxiliares podem ser: leão, urso, anjos, ou Buda.
- Convidar as metáforas para interagir.
Depois que o coachee desenvolveu a metáfora do problema e a metáfora de recursos, o ideal é sugerir que estas duas metáforas interajam, com a intenção de provocar um diálogo entre elas. O coach pode perguntar: “os anjos estão interessados em sair nesta aventura com o círculo áspero?”, o coach continua: “e o que aconteceu?”. As perguntas são infinitas e tudo o que o coach precisa é manter o processo funcionando até que chegue a uma solução. A solução se dá quando a metáfora do problema for transformada ou alterada, ou quando, as metáforas auxiliares mais jovens ajudarem a alcançar um ponto de parada lógico. Neste caminho, a metáfora do problema pode se transformar em outro elemento diferente, por exemplo, o anjo pode se transformar em luz ou voltar a ser um humano. O ponto de parada para o coachee, é o momento em que o elemento da metáfora de recursos faz uma pausa em sua jornada, seja para dormir, seja para comer ou algo parecido.
Esta fase nem sempre é direta e simples. Talvez outros estados tenham que ser tratados, ou ainda, podem ser necessárias metáforas de recursos adicionais. Esses passos adicionais devem ser avaliados pelo coach a depender da severidade do estado de problema. Quando o coachee chega ao estado de “eu não sei” e for incapaz de criar uma saída com as metáforas que tem, pode ser necessário ser curado antes que o estado original a ser tratado fique evidente, dando a sensação de voltar à “estaca zero”.
- Verificar os Resultados.
Esta última etapa é importante, pois através dela, dos resultados obtidos, é possível determinar se houve mudança na metáfora do estado de problema. O consciente adulto não precisa compreender o significado da mudança. Outra parte da verificação é apurar se todas as partes do indivíduo que foram usadas no decorrer deste processo permaneceram ou voltaram ao local da forma adequada. Os inconscientes mais jovens podem querer ou demandar crescimento e os auxiliares, voltar à fonte. Com perguntas do tipo: “alguma das partes que tratamos hoje precisa de algo mais?”; “o quadrado quer crescer”; “na sua percepção, o processo está completo para você?”, podemos validar esses movimento de crescer ou regredir.
Esse processo de Metáforas Incorporadas é eficaz em diferentes estados de problemas, pois permite que os indivíduos, mesmo os mais resistentes, mergulhem em seu inconsciente de forma profunda e crie as analogias necessárias para compreender através do Self 2 como resolver determinados conflitos.
Existem muitas formas de usar esse processo, uma delas, talvez a mais eficaz é remediar os padrões negativos de comportamento. Dessa maneira, a pessoa se torna mais congruente e capaz de responder aos desafios da vida com maior autonomia. Com a energia negativa liberada, há condições de experimentar uma criatividade maior e possibilidades melhores de usar as emoções como se fossem valiosos recursos.
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