Você já se perguntou como nós, seres humanos, desenvolvemos os valores que nos permitem julgar se algo é bonito ou feio, ou se uma atitude é boa ou ruim? Ou ainda, quais são os princípios éticos e uma conduta social ilibada? As respostas a estas questões há muito tempo têm sido pesquisadas, e alguns estudos revelam que nossos valores estão relacionados com a evolução da espécie, sobretudo na questão neurobiológica: tanto em relação à anatomia quanto fisiologia e até na química cerebral.
As descobertas na área da neurociência são de fato espetaculares, elas nos permitem, por exemplo, ver, através de imagens, quais áreas do cérebro mostram-se ativadas quando a pessoa manifesta esta ou aquela classe de valor a respeito de algo, alguém ou alguma atitude. Entre algumas descobertas, estão, a indicação de neurônios, redes neurais específicas ou liberação de substâncias químicas envolvidas na manifestação da empatia, por exemplo.
A Homeostasia
Em outras pesquisas, encontramos a relação dos valores associada a um mecanismo de regulação vital: a homeostasia, que consiste em caracterizar a tendência existente em alguns organismos com a finalidade de promover o equilíbrio e conservação de elementos fisiológicos e do metabolismo por meio de alguns mecanismos de regulação.
No caso do ser humano, a homeostasia tem como objetivo manter a regulação da vida através de uma interação entre os sistemas vitais e o cerebral. Contudo, esta ação regulatória não é automática, mas sim intencional, feita através de escolhas e preferências inconscientes.
O sistema humano homeostático existe para cumprir algumas funcionalidades, entre elas, a manutenção da nossa saúde, a prevenção de circunstâncias que nos levem à morte e à procura por estados de vida extraordinários, ao invés de precários.
Quando pensamos no conceito de químico puro, o organismo é considerado em estado de homeostasia quando substâncias químicas estão concentradas de forma adequada, com temperatura estável e pressão apropriada. Trazendo este conceito para nossa vida, a função do processo homeostásico, no nosso inconsciente funciona da mesma forma, ele incorpora de forma inerte, ou seja, sem esforço, os valores que favorecem a saúde para repelir aqueles que em certas condições de operação nos levariam à morte, ou à redução da sobrevivência.
A homestase tem como objetivo otimizar a sobrevivência. Sendo assim, é possível afirmar que quando classificamos algo com bom ou ruim, estamos na verdade, alinhando com as categorias de ação relacionadas a específicas faixas de regulação homestásica.
O que denominamos boas ações são, de fato, aquelas que nosso inconsciente julga ser essencial para levar ou manter o estado saudável e o bem-estar para nós, um grupo ou até uma comunidade inteira. Do outro lado, o que é denominado como ruim, pode conduzir a nós, ao grupo ou ainda a comunidade ao mal-estar, doenças ou até a morte.
Outros valores como a eficiência e a ineficiência passam pelo mesmo processo. A parte ineficiente da ameaça regulatória é caracterizada por grande consumo de energia, desempenho inadequado, impedimentos, entre outros. No outro polo, encontramos os valores humanos que classificam objetos ou ações como belas na faixa homeostática da eficiência, uma vez, que o desenho motor e perceptivo de um organismo ou objeto podem ser capazes de usá-la como tal.
Valores Segundo Davidson e Paul Broca
Na obra de Davidson (2005, p. 67-90) encontramos estudos de mapas cerebrais, sobretudo, na área do córtex ventromedial pré-frontal, cuja atividade é mais intensa em pessoas que se mostram mais solidárias e compassivas. Neste trabalho, também encontramos a heterogeneidade entre as pessoas nos seus estilos afetivos e de valores. Ao analisar este estudo, a partir do viés da teoria homeostática de valores, podemos nos questionar sobre a evolução destes juntamente com a espécie com a intenção de preservar e assegurar a sobrevivência, assim como, é possível pressupor que este funcionamento poderiam ter causado as modificações cerebrais. O circuito que conecta os lobos pré-frontais e os mediais temporais, constituem a maior rede ativada durante o exercício de alguns valores (morais e éticos).
Paul Broca, um neurologista francês, em 1878, apontou para um fato que até então não era conhecido: na superfície medial do cérebro dos mamíferos, bem abaixo do córtex, poderia ser visto uma grande quantidade de núcleos de massa cinzenta, o que denominou de sistema límbico, cuja forma se assemelha a uma borda em torno do tronco cerebral. Atualmente este sistema também inclui a amígdala.
Depois desta descoberta, muitas pesquisas foram realizadas, e hoje, acredita-se que as funções afetivas específicas, as emoções, são desenvolvidas nessa região. Algumas emoções como a raiva, a tristeza, paixão, amor, ódio, alegria, medo são invenções dos mamíferos a partir do funcionamento do sistema límbico.
Para finalizar, é preciso lembrar que este sistema trabalha em conjunto em prol desta ou daquela emoção, nenhuma delas, trabalha isoladamente em nenhum estado emocional específico. Alguns estudiosos defendem que as emoções e os valores estão ligados pelo fato de envolverem avaliações. Desta maneira, podemos correlacionar emoções e valores. Vejamos, para que nós nos indignemos (emoção) é preciso sentir ou julgar uma situação injusta, sendo assim, ficarmos aborrecidos quando nos deparamos com algo que consideramos injusto.
Podemos perceber aí uma estreita correspondência entre avaliação da importância dos valores pelas pessoas e a frequência com a qual passamos pelas experiências emocionais cotidianamente para emoções e determinados valores que partilham das mesmas metas subjacentes, por exemplo:
– Medo (emoção) está associado com valores de Segurança
– Desgosto e/ou desprezo (emoção) estão associados negativamente com valores de conformidade.
– Afeição e preocupação com os outros (sentimentos) estão relacionados com valores como benevolência e universalismo cujas tendências são pró-sociais.
– Orgulho (emoção) estão relacionados com valores de realização ou autodeterminação.
– Culpa e vergonha (emoção) estão relacionados com valores de conformidade.
Para finalizar, torna-se necessário mais uma vez frisar que as emoções são ativadas pelo cérebro, a partir de uma sequência conectada de valores. Desta maneira, a conexão que se estabelece entre ambos está baseada não na reação aos estímulos, mas na preparação para eles.
Lembre-se sempre de se lembrar e nunca esquecer de que a partir do momento em que suas ações são consistentes com seus valores estabelecidos, emoções positivas são produzidas. As emoções baseadas em valores produzem emoções poderosas e ecológicas ao longo do tempo.
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