Antonio Guillem/Shutterstock Educar a alma vai além dos conhecimentos escolares, consiste numa educação psiquíca

Pensar em um modelo de educação que tem como objetivo viabilizar a arte da convivência deverá promover, em primeira instância, o que Roberto Crema, antropólogo e psicólogo, denominou de alfabetização psíquica. Mas afinal, do que se trata e como promover essa mudança de ideologia educacional?

Esta é uma tarefa bem ousada, mas ao mesmo tempo de extrema importância, além de ser aparentemente simples: trata-se de colocar alma nos espaços escolares, desde a educação infantil até a universidade, com a intenção de levar o aprendiz a desenvolver a inteligência psíquica.

Esta ideia está baseada nos estudos junguianos acerca do desenvolvimento das funções básicas: pensamento, sentimento, sensação e intuição. A educação, tal qual, como concebida hoje, ocupa-se, com sorte e de forma fragmentada, apenas com o pensamento e a sensação.

Aqui, tem-se um pedido inusitado, do ponto de vista pedagógico, mas não tão estranho considerando o viés da Psicologia, que consiste em incluir nos currículos educacionais temas como sentimento e intuição em harmonia com as outras que já estão sendo desenvolvidas. A tarefa é muito pertinente quando a consideramos como um resgate de uma consciência mais ampla, de integridade e inteireza.

Inteligência Emocional e Educação

O desenvolvimento da inteligência emocional é também, a educação da alma. Todos nós sabemos que existem alguns mecanismos que garantem o equilíbrio aos seres humanos e os ajudam no processo de sobrevivência tanto na esfera individual quanto coletiva.

Hoje, precisamos desenvolver uma pedagogia baseada no desenvolvimento dos vínculos de afeto entre crianças, professores e pais. Sentimentos como alegria, tristeza, raiva e medo devem ser trabalhados para que as crianças aprendam a lidar com eles. A alegria é uma lição fundamental, pois ela vem acompanhada de certas manifestações físicas que nem sempre são nomeadas. Assim como a tristeza, que muitas vezes é vista como algo ruim, mas na prática, funciona como uma estratégia saudável para aprender a lidar com as perdas e ressignificar esses momentos.

Encontramos ainda a raiva, é inquestionável a necessidade de saber lidar com este sentimento nas relações que estabelecemos com as pessoas à nossa volta. O medo é um dos sentimentos que estão intimamente relacionados à necessidade de preservação da vida, ele tem a intenção de nos proteger no confronto com o desconhecido.

No momento em que o aprendiz reprime ou não acessa estes sentimentos, ele desencadeia disfunções no repertório emotivo, este, por sua vez, é eliminado – para que outro seja adquirido – ou ainda, substituído.

Ao realizar uma análise transacional, verificamos que este movimento consiste em criar disfarces, emoções distorcidas, que ocultam as naturais, uma vez que elas estão interditadas. Os disfarces mais comuns são: a ansiedade, depressão, fobia, inadequação, culpa, vergonha, ressentimento, ódio, inveja, ciúme, vingança, triunfo maligno, entre outros.

Há ainda, que se desenvolver outra inteligência: onírica. O sonho é capaz de constituir um determinado nível de realidade cuja lógica além de ser própria, é complementar à da vigília. Apenas para conceituarmos, o conceito de vigília vem do latim “vigília”, e significa a ação de estar desperto, em um estado de consciência que antecede o sono.

Inteligência Onírica

Imagine se cada um tivesse seu próprio Livro dos Sonhos para registrar, cuidar e aprender com os sonhos de cada noite? Seria extraordinário! A condição ideal para o autodesenvolvimento. É cientificamente comprovado que os sonhos desempenham uma função de compensação que corrige a unilateralidade da consciência no estado de vigília.

Da mesma forma que os pensamentos, os sonhos representam preciosas amostras de como enxergamos alguns fatos em nossa vida cotidiana. Além de ser um importante elemento do processo de individuação. Uma vez que nos mostram algumas direções criativas, soluções que não imaginávamos, advertências além de nos vincular ao inconsciente coletivo.

Como metáforas, os sonhos constituem “histórias” plenas de inúmeros sentidos. Aprender a cuidar deles e honrá-los diariamente através da ampliação da arte de interpretar é parte indispensável da existência lúdica, e é talvez, mais importante do aprender a ler ou somar.

Por fim, a alfabetização psíquica, exige também o desenvolvimento da inteligência relacional. A descoberta da importância do grupo na vida do indivíduo foi a maior descoberta feita por Carl Rogers, no século XX.

Coaching na Educação

A partir destes estudos, foram criadas e aperfeiçoadas técnicas e dinâmicas de grupo, que além de variadas podem ser extremamente sofisticadas. Como Coaching, é a arte de perguntar, ficar curioso, lançamos nosso questionamento: por que estas técnicas ainda não fazem parte do cotidiano escolar? Como é possível ensinar a convivência sem a atividade prática de envolvimento grupal e comunitário?

De que maneira é possível os alunos aprenderem estratégias de facilitação competente, para que, possam adquirir competências atitudinais frente aos conflitos, dificuldades e impasses sem a coexistência?

Nossos aprendizes experimentam hoje nas escolas e universidades uma dose de educação profilática, que facilita o desenvolvimento da responsabilidade, ou seja, da habilidade em responder, de maneira preventiva diante de tantos desafios, em um nível ainda individual, social e ambiental, cuja origem encontra-se na ignorância psíquica em relação ao poder que os recursos da alma nos oferecem.