O perfeccionismo é um comportamento humano que faz com que as pessoas desejem fazer tudo da melhor forma possível, com pouca ou nenhuma tolerância às falhas. Esta é a ideia que um perfeccionista tem, de que não pode errar, que deve ser a mais bonita, o mais inteligente, o mais bem-sucedido etc. São pessoas que buscam ter e seguir um alto padrão e sempre fazer absolutamente tudo certo para ser o melhor em tudo também.
Nas entrevistas de emprego, esse comportamento é bem-aceito, tornando-se quase um clichê. Nos consultórios dos psicólogos, em compensação, é frequentemente uma das causas de transtornos, sobretudo relacionados à ansiedade.
É válido ressaltar que esse alto padrão é estabelecido pelo próprio perfeccionista, que, muitas vezes, cria metas e objetivos excessivamente elevados e distantes da realidade. O não cumprimento dessas tarefas ou deveres pode acarretar em sérios problemas para a pessoa, que se sente incapaz.
Se você é assim, entende exatamente do que estou falando. Se você conhece alguém com esse perfil, com certeza, também identificou nesses exemplos similaridades com seus parentes, colegas e amigos próximos.
Essa característica pode significar uma competência que faz toda diferença na vida pessoal e profissional da pessoa. Por outro lado, o indivíduo pode ter bastante dificuldade de adaptação a novas situações, o que pode limitar muito o seu sucesso.
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Principais traços e hábitos dos perfeccionistas
Um indivíduo perfeccionista pode apresentar as características a seguir (mas não necessariamente todas elas):
- Demonstra um perfil metódico e minucioso;
- Possui dificuldades de aceitar e aprender com seus erros;
- É detalhista e examina todas as possibilidades para evitar que algo dê errado;
- Pune-se severamente quando erra e sente-se sempre culpada;
- Apresenta dificuldades para trabalhar em equipe;
- É inflexível com os erros dos outros;
- Não confia nas outras pessoas, pois acha que ninguém fará suas demandas tão bem quanto ela;
- Trabalha para ser reconhecida;
- Critica veementemente os outros. Só ela pode se destacar;
- Faz tudo com muita atenção, comprometimento e entrega sempre o seu melhor;
- Nunca acha que chegou lá, por melhor que seja; sempre falta algo;
- É extremamente resistente a críticas.
Estes são alguns dos comportamentos dos perfeccionistas no dia a dia. Se olharmos com atenção, é possível distinguir comportamentos que podem ser benéficos e comportamentos que são claramente negativos, podendo nos prejudicar seriamente.
Bom ou mau?
Dentro dessa esfera de vantagens e desvantagens, existem autores que defendem o perfeccionismo como um comportamento disfuncional, ou seja, um traço de personalidade sumariamente negativo, exigindo assim o amparo da pessoa por meio de tratamento psicológico.
Entretanto, Hamachek (1978), postulou em sua obra que o perfeccionismo pode ser um comportamento normal e adaptativo, sendo um aliado no que diz respeito ao cumprimento de tarefas com exatidão.
Desse modo, sugeriu que os comportamentos perfeccionistas deveriam ser subdivididos em duas classes:
- Perfeccionismo normal adaptativo: ligado ao reforço positivo e ao desejo de conduzir as tarefas com perfeição;
- Perfeccionismo neurótico: diz respeito a um grau excessivo de exigências que, na maioria dos casos, são inalcançáveis.
Os padrões perfeccionistas são intimamente ligados ao fracasso, pois existe uma preocupação exacerbada, por parte do indivíduo, relacionada ao não cumprimento adequado daquilo que ele se propõe a fazer. Sua frustração se torna gradativa, à medida que suas expectativas não são cumpridas. Consequentemente, os desafios passam a se tornar ainda maiores, fazendo disso um ciclo insustentável.
Benefícios do perfeccionismo
Orientado sob essa ótica, o perfeccionismo, quando não ocorre de modo exagerado, pode sim contribuir para as nossas atividades do dia a dia. Esse comportamento torna-se útil para diversas funções e atividades, desde pessoais até mesmo profissionais.
De uma forma positiva, podemos dizer que quando essas pessoas assumem funções que exijam um perfil mais detalhista; como aquelas ligadas a normas, números e processos, os perfeccionistas têm mais chances de se sair bem e conseguir fazer um trabalho que os levem a ficar um pouco mais satisfeitos do que em outras tarefas.
O perfeccionismo é bom quando ele nos estimula a dar o nosso melhor. No entanto, ele não deve nos dar a sensação de que a perfeição possa ser alcançada. Ela não existe e, portanto, é irracional persegui-la.
Malefícios do perfeccionismo
Quando a pessoa é perfeccionista, ela cria para si mesma uma rotina de cobranças tão altas e tão desgastantes que não consegue relacionar-se bem consigo mesma nem com as pessoas à sua volta. Sabe aquele profissional que não consegue entregar suas tarefas dentro do prazo, pois nunca acha que seu trabalho está bom? Assim, faz e refaz suas demandas um milhão de vezes, e quando as entrega, sente-se muito inseguro, pois não acredita que tenham ficado realmente boas.
Isso gera angústia, ansiedade e até mesmo depressão. Este padrão de exigência alto demais não deixa a pessoa descansar sua mente, ser leve e bem-resolvida consigo mesma. Isso a faz entrar num ciclo vicioso e, autodestrutivo, que pode levá-la inclusive a desenvolver compulsões.
Origens do comportamento perfeccionista
Existe uma grande preocupação e um considerável número de estudos acerca dos motivos que levam ao surgimento de comportamentos perfeccionistas nas pessoas.
Grande parte dessas atitudes é originada no relacionamento entre pais e filhos. Sugere-se que em relações saudáveis, onde existe afeto e carinho, bem como o incentivo para que a criança se desenvolva e encare de forma positiva os desafios cotidianos, criam-se condições que são capazes de gerar indivíduos com mais confiança e aptos a lidar com situações mais adversas.
Por outro lado, relações com déficit afetivo, problemas de comunicação e outras complicações são capazes de gerar no indivíduo uma insegurança em relação a si mesmo, além da incapacidade de lidar bem com as frustrações. Quando pais ou responsáveis fazem cobranças excessivas às crianças e adolescentes, eles mesmos tendem a repetir esse padrão consigo mesmos futuramente.
Assim, o indivíduo estabelece padrões muito altos para cada fase de sua vida, incluindo a infância, a adolescência e a idade adulta. Se sentir que esses padrões não estão sendo alcançados, surgem a frustração e os problemas de autoestima.
Como lidar com esse comportamento?
Do mesmo modo que o perfeccionismo pode trazer alguns bons resultados para o trabalho e contribuir positivamente para a vida, ele também pode ser extremamente nocivo. Inclusive, casos mais graves podem dar origem a sérios problemas, como a depressão.
Portanto, é importante ficar atento ao modo como agimos, se estamos nos cobrando de modo excessivo e se essa cobrança está prejudicando nossa saúde física e mental. Esses sinais podem ser muito sutis, daí a importância de analisarmos nossos sentimentos com frequência.
Se você se identificou com tudo isso, busque entender o que te faz agir desse modo e procure ajuda especializada para evitar que essa cobrança excessiva, ao invés de te impulsionar, limite seus resultados e sua felicidade em todos os sentidos.
Nesse contexto, os psicólogos poderão contribuir significativamente para que você possa conhecer mais de si, além de compreender melhor o motivo pelo qual você se cobra tanto. Aprendendo as técnicas e ferramentas necessárias para que você aprenda a lidar consigo mesmo, você conseguirá cobrar-se dentro de padrões saudáveis e funcionais.
Por fim, nunca se esqueça de duas coisas fundamentais:
- A perfeição não existe e, portanto, é inútil e ilógico persegui-la.
- Todas as pessoas, sem exceção, cometem erros. Você tem o direito de errar e de aprender com o erro.
Que este artigo lhe ajude a identificar possíveis comportamentos nocivos e a resolvê-los para que você conduza a sua vida com mais flexibilidade e tranquilidade. Deixe seu comentário abaixo e não se esqueça de compartilhar essas informações com quem mais possa beneficiar-se delas.
Fique atento e cuide-se!