
Illustration Forest/Shutterstock Sobre formas de indução, Milton Erickson foi enfático: “Encontre a sua!”.
As sociedades não mais comportam personagens, cidadãos ou pessoas que não desempenhem variados papéis. Ninguém mais se define por uma identidade única. Somos todos em um só tempo: pais, mães, filhos, contribuintes, eleitores, vegetarianos, flamenguistas, corintianos, gestores, servidores, empresários, assalariados etc. – e, ainda assim, coaches. E do mesmo modo como já não há mais nada imutável, não existe mais vidas monocromáticas. Para o bem e para o mal, somos todos multicoloridos.
Para assumir tantos papéis simultaneamente, a vida nos impõe itinerários a serem seguidos. Mas a grande questão é que com vidas e seres humanos nem sempre se pode aplicar receitas de bolo. Quando nos guiamos apenas por isso, corre-se o risco de nem tudo sair como o planejado e a massa azedar.
E mesmo se fôssemos criaturas que pudessem ser dosadas aos moldes de uma receita específica, o resultado seria um tanto insosso. Seríamos tudo, menos humanos. Afinal, a graça e o tempero da nossa existência estão naquele componente imprevisível e que a vida faz questão de sempre manter em segredo.
Milton Erickson sabia disso e também por lidar com um objeto tão delicado e insuscetível à padronização como o inconsciente humano jamais pretendeu estipular os protocolos. Como o coach informal que era, ele sabia que sugerir um caminho é, sim, uma atitude de terapeuta, mas que impor percursos que foram seguidos por outros é um erro, pois cada um tem seu ritmo e sua maneira, sem que nenhum de nós possa, no entanto, dizer que nosso jeito, pelo único fato de ser nosso, é a única maneira a ser seguida.
Nos inconscientes que soube tão bem desvendar e revelar, a tortuosidade dos caminhos, a multiplicidade das ideias em ebulição, a riqueza das experiências adquiridas, a importância dos potenciais inexplorados e a singularidade das necessidades de cada um só davam a ele a oportunidade de assumir algo que no Coaching encaramos como um lema a ser dito para todos os nossos coachees, sobretudo os marinheiros de primeira viagem: seu jeito é o jeito certo!
O Modelo Ericksoniano
O modelo ericksoniano rechaça a ideia de um atendimento protocolar e, por isso, não há um modelo único de padronização das induções aos atendimentos. E isso se explica pelas variadas razões que temos abordado até aqui. Há, no entanto, roteiros a serem seguidos e esse é um recurso de que nos utilizamos também no Coaching. Eles são válidos como um norte a ser buscado, embora o caminho não esteja todo ele sinalizado – sobretudo porque não há um único caminho.
Os roteiros ericksonianos, entretanto, têm todos uma característica comum: eles podem e devem ser deixados de lado quando qualquer desvio de rota chamar mais atenção do terapeuta ou do seu cliente. Mais do que esse mapa a ser usado, a perícia do condutor da sessão, o terapeuta ou coach, é o único elemento, além do próprio coachee, que realmente pode ser tomado como imprescindível.
Mas é sempre importante lembrar que o coach não exerce nenhum poder sobre a outra pessoa. Mesmo diante de roteiros de indução, é a própria pessoa que se abre a essa possibilidade e se dispõe a ela. Os recursos interiores são movidos pelos coaches e todo o processo é protagonizado pelo próprio sujeito.
Sobre formas de indução, Milton Erickson foi enfático: “Encontre a sua!” Questionado em uma entrevista sobre os melhores modelos de indução ao transe, ele explica que há formas variadas e todas estão certas, todas, geralmente, começam com comandos conscientes: “olhe fixamente para um objeto”; “relaxe e se acalme”; “ouça a harmonia da música”; “imagine…” e por aí vai…
Ele explica, então, que o transe induzido não é o fim, apenas o meio. Logo, não importa o meio que você use, o segredo está no diálogo com o inconsciente, é ali que reside toda a mágica da linguagem ericksoniana e, por conseguinte, do Coaching Ericksoniano.
Mas ele dá um recado: “não me imite!”. O terapeuta diz já ter visto pessoas tentando imitar suas palavras, seu jeito de falar – bastante comprometido pela poliomielite – etc. Mas tudo isso é um erro. Cada um deve encontrar a sua forma de fazer.