É importante falarmos das técnicas mais divulgadas de hipnoses, como aquelas de auditório, para entendermos o que não é a hipnose ericksoniana. Aliás, se você já fez a formação em Coaching Ericksoniano, lembrará que eu raramente uso o termo hipnose e prefiro o termo linguagem – já que a linguagem é o mecanismo que leva a esse estado diferenciado de consciência.
Quando falamos em hipnose, o que nos vem à cabeça é uma imagem mais ou menos comum: um especialista em ciências ocultas, com ares de mágico, uma indumentária vistosa e às vezes até com um sotaque estrangeiro, a entoar um pêndulo, para o qual um olhar concentrado por alguns instantes já é capaz de nos tirar a consciência. Essa figura, tão exaustivamente explorada pelo cinema e pelos desenhos animados, tem muito de floreio e folclore e, na prática, guarda poucas semelhanças com um hipnoterapeuta de fato.
A Hipnose de Palco
A associação com esse tipo imaginado de hipnoterapeuta não é de todo errônea, afinal, foi com praticantes de características razoavelmente semelhantes que essa arte foi trazida ao público, notoriamente no século XIX e início do século XX. O que esses pioneiros faziam era misturar pitadas dos conhecimentos científicos sobre o tema, que à época ainda engatinhavam, com elementos de espetáculo circense, a fim de angariar a atenção e a audiência do grande público.
A estratégia deu certo para muitos charlatões e ajudou e irritou outros tantos profissionais que se esforçavam para imprimir seriedade ao trabalho. Mas essa difusão, por meio do espetáculo, sobretudo, contribuiu para propagar a hipnose e torná-la menos estranha aos ouvidos de todos.
A ideia de fingir estar hipnotizado é uma possibilidade que sempre povoou a mente dos espectadores mais desconfiados das hipnoses de palco. Embora uma trapaça desse tipo seja o avesso de qualquer ética no exercício da profissão, é algo que poderia fazer algum sentido para uma finalidade puramente de marketing e que se orientasse somente pelo propósito de angariar atenção para o espetáculo. Naturalmente, essa hipótese inexiste na hipnose terapêutica, afinal de contas, que coachee teria necessidade de fingir para si mesmo ou para seu coach?
Hipnose Terapêutica
Ademais, fingir estar hipnotizado é clinicamente impossível, já que os padrões cerebrais são completamente distintos entre quem de fato está sendo hipnotizado e quem simula um estado de transe. Em pessoas sob o efeito da hipnose, o córtex motor manda sinais para o precuneus, uma área envolvida no imaginário mental e nas memórias. Para ficarmos nas minúcias neurológicas, vale afirmar que fingidores jamais teriam condições fisiológicas de ativar o funcionamento dos precuneus.
Avançando algumas décadas além e vários outros degraus acima da evolução científica, o que Milton Erickson propôs com seu tratamento não foi à reedição dessa hipnose como um evento de gala ou entretenimento. Seu trabalho se concentra em um esforço singular para criar e manejar ferramentas terapêuticas que deem acesso ao inconsciente e seus caminhos tão intrincados.
O hipnoterapeuta americano se valeu dos seus conhecimentos de médico, psiquiatra e psicólogo para desenvolver um ferramental que desse conta dos processos, insights, trâmites e linguagens da mente humana que escapam do filtro da racionalidade consciente. Erickson somou seus esforços e sua observação pertinaz aos estudos que já à época apontavam para a força das formas de comunicação não verbal, quase todas elas derivadas das formas inconscientes de expressão.
Sua trajetória é, portanto, do gabinete de pesquisador e estudioso para o consultório de terapeuta e praticante da hipnose, e nunca do palco para o consultório, como os primeiros praticantes da hipnose espetáculo propunham. A maior difusão da seriedade do seu trabalho, aliás, certamente foi afetada pelo conhecimento generalizado que se tinha desses modelos exibicionistas de hipnose, já que, a priori, todos os adeptos dessas práticas, como o próprio Erickson, foram considerados meros promotores de espetáculo.
Modelo de Hipnose de Milton Erickson
Hipnotizar com uma simples voz de comando, a partir de uma palavra de ordem ou de um gesto qualquer, como estalar os dedos, parece tentador e talvez até exista quem o consiga com competência. Contudo, não é disso que tratamos quando falamos de hipnose ericksoniana. O fato de Erickson ter sido – e ainda ser, em alguns casos, prontamente associado a essas formas tradicionais de hipnose não impediu que ele desenvolvesse um trabalho pouco ou nada espelhado nesse modelo.
Para que suas pesquisas e técnicas avançassem, seu olhar não precisou estar voltado para esses modelos tradicionais. A bem da verdade, o fato é que as técnicas e práticas do hipnoterapeuta, que efetivamente funcionam há algumas gerações, foram um grande serviço prestado à causa da hipnose, do qual até mesmo os autointitulados hipnólogos tradicionais muito se beneficiaram.
Ao elaborar um modelo com respaldo técnico, embasamento científico e comprovação prática, Erickson nada mais fez do que emprestar à hipnose uma reputação que ela jamais tinha experimentado. A hipnose ericksoniana, portanto, não é a hipnose de palco que todos estamos acostumados a ver na televisão. Todo o glamour e o tom performático do hipnoterapeuta de turbante da nossa imaginação são deixados de lado.
As técnicas e recursos desenvolvidos são todos elaborados com a convicção de que o inconsciente é bastante atento a qualquer tentativa de ludibriá-lo, isto é, a porção não consciente da nossa mente não deixa de ser muito perceptiva acerca das sugestões que lhe são dadas.
Gostou de saber um pouco mais sobre o que é hipnose e não é? Expanda suas possibilidades e aprenda a dominar a linguagem ericksoniana. Faça a formação em Coaching Ericksoniano e ouse ir além como coach e ser humano!