Desde os dias de Freud e o início da ciência psicológica, os psicólogos têm colocado em foco tudo o que aflige a mente humana e este, em parte, também é um dos objetivos da Psicologia Positiva. As pessoas procuram os profissionais de psicologia quando elas estão em um estado de desordem: sofrendo de ansiedade, psicose, neurose, depressão. E assim, a Psicologia tornou-se um estudo sobre o lado escuro da mente. É a ciência que olha para o que está faltando, a parte do copo que está “meio vazia”. Ao longo dos anos, muitos teóricos questionaram este foco na doença. Por que fomos ignorando os aspectos positivos da função mental humana?
As Origens da Psicologia Positiva
Conta-se que até a II Guerra Mundial a Psicologia tinha três missões distintas: curar as doenças mentais, tornar a vida das pessoas mais preenchida e realizada, e identificar e desenvolver talentos (Seligman, 2002). Após a II Guerra, a Psicologia abandonou este foco no positivo e passou a dedicar-se à investigação e ao tratamento das doenças mentais, negligenciando os aspectos saudáveis dos seres humanos. A situação mundial vivida nesse período influenciou decisivamente o caminho traçado, pouco tendo contribuído para o estudo das virtudes humanas na segunda metade do Séc. XX (McCullough, 2000).
Martin Seligman nos conta que a fundação Veterans Administration e o National Institute of Mental Health, fomentou a prática do tratamento psicológico nos EUA tendo como objeto o choque, as frustrações, as ansiedades e toda sorte de patologias decorrentes de experiências traumáticas. A situação da Europa seguiu as mesmas tendências. Temos que aceitar que esses estudos trouxeram grandes avanços no que concerne ao tratamento dos distúrbios psicológicos.
Foram descobertos, diagnosticados e tratados vários transtornos, e por meio dessas práticas clínicas foram desenvolvidos diversos instrumentos de diagnóstico e avaliação, além de terapias e outras formas de intervenção. É por meio do sucesso dessa vertente psicológica baseada no sofrimento que, inegavelmente, fomentou-se o avanço da Psicologia como ciência, e que os estudos dos aspectos positivos continuaram latentes até dias muito recentes.
Os chamados “Psicólogos Humanistas”, como Abraham Maslow (1954) e Carl Rogers (1959), que propagavam uma nova visão sobre o acompanhamento humano, que evidenciasse e privilegiasse os aspectos positivos do desenvolvimento, embora tenham plantado a semente de um pensamento que seria muito promissor, não conseguiram, em suas pesquisas, uma produção de dados empíricos suficientes para dar corpo e voz ao trabalho.
Segundo Seligman e Csikzentmihalyi (2000) a falta de rigor metodológico e inconsistência de resultados teriam sido os principais responsáveis pelo enfraquecimento da Psicologia Humanista. Esta corrente da Psicologia deu ênfase a aspectos positivos de desenvolvimento humano, mas as suas contribuições científicas receberam pouca atenção.
Foi o professor Martin Seligman que tomou medidas reais para corrigir esse viés. Seligman realizou um grande esforço de investigação em depressão e estados mentais. Através da experiência, ele descobriu que o pensamento pessimista era um padrão aprendido, o que sugere que o otimismo também pode ser aprendido. E se o otimismo pode ser aprendido e ensinado, então o que mais poderia nos ensinar a melhorar o nosso bem-estar e as nossas chances de felicidade com a vida?
O Início da Psicologia Positiva
Foi para responder a essa pergunta e outras decorrentes dela que formalizou-se a Psicologia Positiva como campo de estudo e pesquisa. O início dessa institucionalização deu-se com Martin Seligman assumindo a presidência da American Pychological Association, em 1998. De acordo com Seligman (2002), “a Psicologia deveria possibilitar muito mais do que somente reparar o que está errado, devendo identificar e nutrir o que existe de melhor nos indivíduos, para que o reconhecimento das virtudes humanas possa contribuir para a prevenção das patologias e dos danos”. Dessa ideia central, Seligman sugere que a vertente da Psicologia que estava nascendo deveria se dedicar a compreender e construir as forças humanas positivas, numa linha contrária, mas ao mesmo tempo complementar ao do tratamento das patologias, que se tornara o objeto por excelência dessa ciência.
Segundo este mesmo autor, a Psicologia Positiva tem como objetivo “ser uma catalisadora da mudança do foco da Psicologia, da preocupação em reparar apenas as piores coisas na vida, para também construir a excelência na vida”. De acordo com esta nova abordagem, a Psicologia, além de estudar as patologias, as fraquezas e os danos, deverá também estudar as forças e as virtudes, focando no que existe de melhor e procurando desenvolvê-lo (Seligman & Cskiszentmihalyi, 2000). Sheldon e King (2001) definem a Psicologia Positiva como o estudo científico dos aspectos virtuosos usuais presente nos indivíduos (primeiro uma ciência da felicidade, mas por fim ela se estabelece como ciência do bem-estar subjetivo).
O que a PP chama de “forças humanas” são características humanas, habilidades ou sentimentos que desempenham um papel importante na prevenção e também no tratamento da doença mental. São elas: coragem, foco no futuro, otimismo, competências interpessoais, fé, trabalho ético, esperança, perseverança, a capacidade de flow e de compreensão (Seligman, 2002). O pressuposto dessa teoria está em afirmar que conhecer os danos e as fraquezas pessoais não é suficiente para promover a prevenção.
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