Toda novela, filme e até mesmo desenho animado tem papéis mais ou menos definidos, com destaque para três: herói, vilão e vítima. É interessante que esses papéis surjam para que o enredo encontre um ponto de conflito até que tudo seja resolvido pelo herói.

Se pararmos para pensar, perceberemos que há momentos na vida em que parece que nós mesmos somos personagens de uma novela. No entanto, na vida real, os papéis não são definitivos. Às vezes somos vítimas, às vezes heróis, às vezes vilões.

Isso acontece não apenas em decorrência dos acontecimentos da vida, mas também por conta dos jogos psicológicos que constantemente fazemos uns com os outros. Para saber mais sobre o tema, continue a leitura do artigo a seguir.

Jogos Psicológicos

A teoria dos jogos psicológicos foi desenvolvida por Eric Berne, psicólogo e psiquiatra canadense. Segundo o autor, há determinados momentos da vida em que as pessoas não sabem como lidar com eles de maneira autônoma, ou seja, assumindo a responsabilidade por suas próprias atitudes, demonstrando seus valores. Quando isso ocorre, elas caem em modelos repetidos e de desfecho previsível, aprendidos desde a infância: o herói, o vilão e a vítima.

As pessoas assumem esses papéis para tentar resolver os seus problemas e lidar com as outras pessoas de modo que consigam alcançar os seus objetivos. Essas interações ocorrem em dois níveis: o nível social (as interações que estabelecemos com as outras pessoas) e o nível psicológico (as reações intenções que existem por trás desses diálogos).

É o que ocorre, por exemplo, quando uma pessoa começa a falar coisas negativas sobre si mesma, na esperança de que o seu interlocutor a interrompa e comece a dizer coisas boas a seu respeito. A verdadeira intenção estava ali encoberta, mas não foi exposta de modo claro.

Segundo Berne, esse é um padrão disfuncional de relacionamento, pois evita que as pessoas exponham o seu verdadeiro “eu”, apenas para evitar o desconforto. No entanto, o uso prolongado dos jogos psicológicos prejudica as relações entre as pessoas, pois promove manipulação. Esses jogos são muitas vezes inconscientes, e os fazemos com familiares, amigos, parceiros e colegas de trabalho.

Para evitar a intimidade e a exposição real de quem somos, utilizamos três máscaras, que trocamos frequentemente, dependendo das circunstâncias: o vilão, o herói e a vítima.

Quando somos vilões?

Embora seja cruel admitir, a verdade é que todos nós já fomos vilões na vida de alguém, ainda que não intencionalmente. Sempre que criticamos a conduta de alguém, estamos, de certa forma, nos colocando em posição de superioridade, citando que nós jamais agiríamos como aquela pessoa age.

Ou seja, toda vez que você fala mal de alguém pelas costas, criticando o indivíduo e não a atitude dele, você está assumindo a postura de um vilão. Toda vez que você defende os seus interesses, mesmo que isso prejudique alguém, você está agindo com vilania em relação àquela pessoa.

Para que as pessoas deixem de ser “vilãs”, elas precisam da proteção da estrutura das regras da sociedade. Isso permite que elas desenvolvam um senso ético que mantenha as suas atitudes dentro de padrões de honestidade e de comunicação não-violenta.

Para que deixemos de ser vilões, precisamos aprender a criticar as atitudes das pessoas, e não as pessoas em si. Quando falamos para alguém “eu seria mais feliz se você não fizesse fazer parte da minha vida”, estamos agindo como vilões, já que estamos reclamando do indivíduo como um todo, e não de um comportamento específico dele, que nos provocou desagrado.

Quando somos heróis?

Os heróis, assim como os vilões, também entram na vida das outras pessoas julgando-se em posição de superioridade. O que difere os dois personagens, porém, é a maneira como expressam essa noção de superioridade.

Enquanto o vilão julga e critica, o herói age no sentido de querer “salvar” a pessoa de si mesma, mostrando a ela como ela está errada. É uma postura que até pode ser benéfica em alguns casos, porém, em muitos deles, é uma postura invasiva e intrometida, já que a “ajuda” que ele oferece pode não ter sido solicitada.

Para que sejamos heróis de verdade, precisamos identificar se o outro realmente está necessitado de ajuda e se a está solicitando. Se quiser oferecer ajuda, tudo bem, mas permita que a pessoa responda se quer ou não.

Muitas vezes, as pessoas vestem a máscara do herói e saem por aí querendo “salvar” a vida dos outros pelo simples fato de que querem fugir dos problemas que existem nas vidas delas mesmas. Preocupam-se com os problemas dos outros porque não têm coragem de olhar para a sua própria realidade e identificar as suas próprias fraquezas e vulnerabilidades.

Quando somos vítimas?

Por fim, o papel que é, provavelmente, o mais fácil de ser identificado é o da vítima. Toda pessoa, em determinados momentos, veste essa máscara. Isso ocorre quando a pessoa não assume responsabilidade nenhuma sobre os seus atos e sobre as consequências que a vida lhe devolve.

“Sou pobre porque nasci pobre”. “Sou infeliz porque me casei com você”. “Fui demitido porque os outros me odeiam”. Tudo o que dá errado na vida das pessoas que se comportam como vítimas é considerado culpa do outro, como se elas mesmas não tivessem cometido nenhum erro.

É claro que há casos em que as circunstâncias externas de fato nos prejudicam. Entretanto, todos nós precisamos reagir a essas interferências, com base em nossa inteligência, em nossas competências e em nossas atitudes. É assim que assumimos a autoria do nosso próprio destino, sem atribuir culpas a terceiros.

Se você convive com alguém que se vitimiza, faça a essa pessoa a seguinte pergunta: “O que podemos fazer para resolver esse problema?” Assim, você dará poder ao indivíduo para que ele encontre uma solução por conta própria.

Os 3 Ps que removem as máscaras

Para que possamos remover as máscaras do vilão, do herói e da vítima, há três soluções, conhecidas como os 3 Ps:

  • Proteção das regras: permite que o vilão compreenda quais atitudes são honestas e altruístas e quais são egoístas e prejudiciais ao outro;
  • Permissão de dizer “não” para o herói: assim, a pessoa tem a possibilidade de dizer ao herói se precisa ou não da sua ajuda, sem que a sua intervenção ocorra sem necessidade, de forma invasiva;
  • Poder de assumir a própria responsabilidade: permite que a vítima entenda que ela é uma força ativa, com poder de alterar a sua realidade, e não apenas uma vítima inerte aos acontecimentos da vida.

Como é possível perceber, o fato é que todos nós, desde a infância, fazemos jogos psicológicos, assumindo algum desses papéis para evitar a exposição de quem nós realmente somos. Isso é visível nas novelas, mas na vida real pode não ser tão simples de perceber. Por isso, é fato que a existência humana é extremamente complexa. Dessa forma, vestir essas máscaras é anular a si mesmo e construir relacionamentos de manipulação, o que é totalmente disfuncional.

E você, ao ler este artigo, percebeu algum momento da sua vida em que já tenha vestido alguma dessas máscaras? Na verdade, nós as trocamos a todo instante, sem que percebamos. Por isso, fique atento! Se este artigo fez sentido para você, deixe o seu comentário no espaço abaixo. Por fim, compartilhe-o nas suas redes sociais para que mais pessoas possam se beneficiar deste conteúdo!

Imagem: Por ra2 studio