Autor: José Roberto Marques

Querida pessoa, durante séculos, a ciência e a filosofia nos ensinaram a temer o sentir. Fomos condicionados a crer que a emoção era uma perturbação da razão, um mero obstáculo à objetividade e ao pensamento claro. O ideal era ter uma mente fria, lógica e observadora, herdada do racionalismo cartesiano.

Com mais de 30 anos de experiência em treinamentos comportamentais, percebi, na prática, que essa visão fragmentada, o “paradigma da disjunção” mencionado por Edgar Morin, fragmenta o próprio ser humano.

Felizmente, as descobertas da neurociência no século XXI vieram para demolir essa separação ilusória entre mente e corpo, razão e sentimento. O retorno da emoção ao centro da ciência é, na verdade, o renascimento da dimensão sensível no conhecimento humano.

O Erro de Descartes: sinto, logo posso pensar

A grande revolução começou com o neurocientista António Damásio. Em suas obras, Damásio demonstrou que Descartes se equivocou ao afirmar “penso, logo existo”. A ordem é precisamente inversa: eu sinto, logo posso pensar.

A emoção, querido ser de luz, não é o oposto da razão; ela é o seu alicerce: a base biológica, cognitiva e existencial sobre a qual o cálculo racional se ergue. Sem emoção, não há valor, direção ou significado para as decisões.

O emblemático caso de Elliot, um paciente com lesão cerebral, provou isso dramaticamente. Ele mantinha seu raciocínio lógico intacto, mas perdeu totalmente a capacidade de sentir.

O resultado? Elliot se tornou incapaz de decidir, porque sem emoção, não havia prioridade nem impulso para a ação.

Damasio concluiu de forma definitiva que “A emoção é o suporte fisiológico da razão. Sem emoção, a razão é um motor sem combustível”.

O Corpo que Pensa: marcadores somáticos

O pensamento racional, portanto, não é autônomo. Ele depende do diálogo contínuo com as sensações corporais.

Damasio introduziu o conceito de marcadores somáticos: registros viscerais que o corpo usa para registrar o valor emocional de cada experiência.

Em outras palavras, o corpo sente antes que a mente saiba. Esses sinais bioquímicos agem como um sistema de orientação para a consciência, guiando minhas decisões futuras.

A Biologia da Emoção: o corpo como mente estendida

A neurocientista Candace Pert ampliou essa visão, mostrando que a emoção é ubíqua, ela está em todo o meu ser.

Em seu trabalho, ela demonstrou que as emoções são neuropeptídeos, mensageiros químicos distribuídos pelo corpo, indo além do cérebro, alcançando o sistema límbico, o intestino e até o sistema imunológico.

Como Pert ousou dizer: “As emoções são as pontes químicas entre mente e corpo”.

Isso significa que tristeza, medo, alegria ou amor não são apenas abstrações mentais; são eventos bioquímicos que modulam meus hormônios, genes e neurotransmissores. Meu corpo é uma rede inteligente e auto-organizada onde os sentimentos são processos celulares.

Ao revelar essa dinâmica, Pert dissolveu a dicotomia. Na realidade, há apenas uma unidade psicossomática, o corpo que sente e pensa ao mesmo tempo.

Da Neurobiologia à Frequência da Consciência: Psicologia Marquesiana

A minha metodologia, a Psicologia Marquesiana (PM), expande esse paradigma neurocientífico.

Enquanto Damásio e Pert provam o papel biológico, a PM propõe que a emoção é, acima de tudo, um fenômeno vibracional e informacional. Para mim, sentir é a forma mais profunda de saber.

O Eixo da Existência: a emoção dominante

Na visão Marquesiana, cada emoção possui uma frequência própria. Quando você, querido ser de luz, vive predominantemente em estados emocionais elevados, como amor, gratidão ou propósito, seu corpo entra em coerência neurocardíaca e hormonal.

Essa coerência é a chave para a harmonia interna e a manifestação de realidades compatíveis com essa alta vibração.

O ser humano é uma tríade viva, emoção, verbo e corpo, articulada pelos Três Selfs:

A emoção dominante que habita seu Self 2 define o “campo” em que você vive. É por isso que eu costumo dizer: “O campo emocional é a arquitetura invisível do destino”.

Se o campo emocional é o medo, sua realidade se organiza em defesa; se é o amor, ela se organiza em expansão.

A Emoção é Tecnologia Evolutiva: o Código da Aprendizagem

A emoção é o primeiro sistema de navegação da vida, que nos permitiu distinguir ameaça e segurança. Hoje, ela é o sistema operacional da consciência, e o autoconhecimento é a atualização desse software.

Estudos em neuroplasticidade mostram que toda aprendizagem significativa exige emoção. Sem um marcador de relevância afetiva, a informação não é consolidada na memória de longo prazo.

É por isso que a Psicologia Marquesiana foca na instalação de uma emoção dominante curativa. Ao fazer isso, o indivíduo reprograma sua biologia, suas crenças e, consequentemente, suas escolhas.

O Retorno do Coração à Ciência

O retorno da emoção à ciência é uma revolução epistemológica que exige que integremos o saber racional (logos), o saber experiencial (pathos, o sentir) e o saber intuitivo (nous).

A Psicologia Marquesiana propõe essa ciência híbrida, uma ciência da alma viva.

Damásio me mostrou que sem emoção não há decisão. Candace Pert revelou que sem emoção não há corpo íntegro. E eu acrescento: sem emoção coerente não há consciência plena.

O futuro da ciência será integrativo, vibracional e compassivo. Como afirmo: “O século XXI não é o século da tecnologia, é o século da emoção. Porque só quem sente profundamente pode transformar verdadeiramente o mundo”.

Referências Bibliográficas

Damasio, A. R. (1994). Descartes’ Error: Emotion, Reason, and the Human Brain. New York: Putnam.

Damasio, A. R. (2003). Looking for Spinoza: Joy, Sorrow, and the Feeling Brain. Orlando: Harcourt.

Pert, C. (1997). Molecules of Emotion: Why You Feel the Way You Feel. New York: Scribner.

Morin, E. (2001). O Método 1: A Natureza da Natureza. Lisboa: Europa-América.

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Immordino-Yang, M. H. (2016). Emotions, Learning, and the Brain. New York: Norton.

Lozanov, G. (1978). Suggestology and Outlines of Suggestopedy. New York: Gordon and Breach.

Marques, J. R. (2025). Os 7 Pilares da Psicologia Marquesiana. São Paulo: IBC Editora.

HeartMath Institute. (2018). Science of the Heart. Boulder Creek, CA.