Um mergulho na vulnerabilidade, na imperfeição e na libertação emocional à luz de Brené Brown e da Psicologia Marquesiana
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O que acontece quando deixamos de sentir?
Vivemos uma era em que a aparência virou armadura.
As redes sociais encenam felicidade.
O mundo corporativo exige performance.
E até nos círculos espirituais, há quem esconda a dor atrás de frases prontas de “iluminação”.
Mas, em meio a tudo isso, uma verdade simples e poderosa resiste:
A alma não adoece pelo que sente, mas pelo que deixa de sentir.
Este artigo é um convite à reconexão com essa verdade.
Inspirado nas contribuições de Brené Brown — a pesquisadora que nos ensinou que vulnerabilidade não é fraqueza, mas potência — e fundamentado na minha experiência de mais de 30 anos conduzindo processos de cura emocional, espiritual e sistêmica, te convido a mergulhar com coragem no que há de mais humano em nós: a nossa capacidade de sentir.
1. Quem é Brené Brown e por que sua teoria toca o mundo?
Brené Brown é pesquisadora da Universidade de Houston, doutora em Serviço Social, e uma das maiores vozes mundiais sobre vulnerabilidade, vergonha, coragem e autenticidade. Sua abordagem une ciência, empatia e humanidade.
Mas o que a torna especial não é apenas o que ela estudou — é o que ela viveu e teve coragem de revelar ao mundo.
Ela nos ensinou que:
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A vergonha é universal.
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A vulnerabilidade é inevitável.
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E coragem não é ausência de medo — é agir com o coração exposto.
Seu TED Talk “O poder da vulnerabilidade” ultrapassou 60 milhões de visualizações.
Suas obras, como A Coragem de Ser Imperfeito e Atlas of the Heart, impactaram milhões de pessoas e mudaram profundamente a forma como falamos sobre emoção no século XXI.
2. Por que temos tanto medo de sentir?
Porque fomos ensinados a temer a exposição.
A associar dor com fraqueza.
A esconder a tristeza para não parecer instável.
A suprimir a raiva para não sermos julgados.
A negar a fragilidade para não sermos descartados.
Desde cedo, ouvimos:
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“Engole o choro.”
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“Seja forte.”
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“Não é nada, logo passa.”
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“Vai trabalhar, foca no que importa.”
A sociedade nos treinou para funcionar — não para sentir.
O resultado? Milhões de adultos “funcionais” que produzem, vencem, entregam… mas que vivem emocionalmente desconectados.
3. A vergonha: o inimigo invisível da alma
Segundo Brené Brown, a vergonha é a emoção mais tóxica da experiência humana.
Ela se diferencia da culpa:
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Culpa: “Fiz algo errado.”
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Vergonha: “Eu sou errado.”
A vergonha não precisa de palavras. Ela vive nos silêncios.
Ela atua nos bastidores do nosso comportamento.
Faz você rir quando queria chorar.
Faz você agradar quando queria dizer “não”.
Faz você se esconder, mesmo desejando ser visto.
Na Psicologia Marquesiana, a vergonha silencia o Self 2 — o centro emocional da alma.
E quando o Self 2 se cala, o Terceiro Self entra em modo de contenção: reprime, bloqueia, congela.
4. A coragem de ser imperfeito
Brené Brown nos oferece um antídoto poderoso para esse ciclo de autossilenciamento:
A coragem de ser imperfeito.
Ela afirma:
“A verdadeira coragem não é a força que vence, mas a entrega que se mostra — mesmo tremendo.”
A imperfeição não é algo a ser corrigido.
Ela é a ponte para a compaixão, a conexão e o pertencimento.
Na Psicologia Marquesiana, essa visão é fundamental.
É quando o Self 1 reconhece suas limitações que o Self 2 pode emergir com sabedoria emocional.
A cura começa quando dizemos:
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“Eu não sou perfeito. Mas sou digno de amor.”
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“Eu falhei. Mas continuo inteiro.”
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“Eu sinto. E me permito ser humano.”
5. O Atlas do Coração: as 87 emoções humanas
Em Atlas of the Heart, Brené Brown apresenta uma das maiores contribuições à psicologia emocional: a identificação e classificação de 87 emoções humanas distintas.
Elas estão organizadas em grupos como:
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Pertencimento e exclusão
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Desconforto e vulnerabilidade
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Tristeza e luto
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Alegria, contentamento e prazer
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Raiva, frustração e ressentimento
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Amor, carinho e conexão
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Esperança, otimismo e desespero
E a sua tese é clara:
“Você não pode transformar o que não consegue nomear.”
Em dezenas de formações e retiros que conduzi, notei:
a maioria das pessoas não consegue nomear nem 10 emoções que sente por dia.
O resultado? Confusão interna, repressão de dores legítimas, e bloqueio da prosperidade emocional e relacional.
Emoção não nomeada é emoção não curada.
6. A coragem de sentir na vida pessoal e profissional
Na vida pessoal:
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Chorar diante dos filhos.
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Dizer: “Estou com medo, mas sigo.”
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Pedir ajuda.
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Admitir que não sabe ou que precisa de apoio.
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Parar de fingir que está tudo bem — quando não está.
Na vida profissional:
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Dar feedback com humanidade.
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Dizer “não sei”, sem vergonha.
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Assumir um erro e buscar reparo.
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Humanizar processos e relações.
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Criar culturas de verdade — não de perfeição.
A vulnerabilidade bem conduzida não enfraquece a liderança — fortalece.
Ela constrói confiança, empatia e conexão real. E isso sustenta toda prosperidade duradoura.
7. O Self 2 precisa da vulnerabilidade
Na teoria dos Três Selfs da Psicologia Marquesiana:
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O Self 1 é racional, lógico, executor.
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O Self 2 é emocional, intuitivo, sensível — a alma viva.
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O Terceiro Self é o filtro protetor — armazena o que ainda não conseguimos integrar.
Para que o Self 2 floresça, ele precisa de um campo seguro.
E esse campo nasce quando temos coragem de nos mostrar com imperfeição, vulnerabilidade e verdade.
A alma não se revela para quem finge.
Ela se revela para quem se entrega.
8. Os 4 pilares da coragem emocional no PSC
Da integração entre Brené Brown e a Psicologia Marquesiana, emergem quatro pilares da coragem emocional:
1. Vulnerabilidade guiada
Sentir com presença, sem se perder.
2. Aceitação da imperfeição
Tirar a máscara e enxergar valor em quem se é.
3. Expressão emocional livre de julgamento
Chorar, dizer, tremer, sorrir — sem medo de ser.
4. Ressignificação como ato de amor próprio
Transformar dor em presença, vergonha em dignidade.
9. Exercício prático – O Ritual da Verdade Emocional
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Feche os olhos. Respire fundo.
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Pergunte-se: O que estou evitando sentir hoje?
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Escreva, sem censura, tudo o que vier.
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Escolha uma emoção e diga em voz alta:
“Eu me permito sentir [nome da emoção], e mesmo assim, sou digno de amor e pertencimento.” -
Repita por 7 dias.
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Observe como isso abre o coração, a mente — e até o corpo.
10. Conclusão: A alma não precisa de perfeição — precisa de permissão
Você não veio ao mundo para encenar equilíbrio.
Você veio para sentir.
Você veio para viver.
Você veio para se reconhecer humano e, a partir daí, construir uma vida com alma, propósito e verdade.
“A coragem de sentir é o primeiro passo para a alma florescer.”
“É o sim que cura, que conecta, que salva.”
Não fuja mais do que sente.
Não se esconda atrás do que deveria ser.
Abrace o que você é.
Imperfeito, sim. Mas inteiro.
Porque, no fim das contas, como gosto de dizer:
“Não há nada mais forte do que uma alma que se permite ser humana.”
José Roberto Marques
Cientista da Alma Humana, fundador do Grupo IBC, criador do método PSC e da Psicologia Marquesiana