Grande parte do sofrimento humano não nasce apenas da dor, mas da separação interna entre o que pensamos, sentimos e fazemos.

Quantas vezes você já percebeu que entende algo racionalmente, mas ainda assim continua sofrendo? Isso acontece porque a mente humana é composta por diferentes dimensões que precisam conversar entre si.

A Psicologia Marquesiana chama essas dimensões de Três Selfs, e compreender como elas funcionam é o primeiro passo para integrar mente, corpo e alma. Quando essa integração acontece, a emoção deixa de ser um peso e se torna um caminho de cura.

A fragmentação interna: quando o eu se divide

Carregamos memórias que tentamos esquecer, sentimentos que escondemos e vozes internas que parecem vir de lugares diferentes dentro de nós. É como se existissem vários “eus” tentando se comunicar, mas sem um idioma comum.

Essa falta de integração é o que gera ansiedade, culpa, repetição de padrões e distanciamento da própria essência. A mente fragmentada pensa uma coisa, sente outra e faz outra ainda.

Para haver cura emocional e espiritual, é preciso reconciliar as três vozes da alma, chamadas de Self 1, Self 2 e Terceiro Self.

O Self 1: a voz racional

O Self 1 representa o nível consciente da mente. É o espaço da lógica, do planejamento, da estratégia e do julgamento. Ele ajuda a interpretar o mundo, organizar a vida e dar sentido às experiências. Mas quando o Self 1 atua sozinho, ele se torna um navegador que enxerga o mapa, mas não sente o mar.

É por isso que muitas pessoas “entendem tudo” racionalmente, mas continuam presas às mesmas emoções de medo, rejeição ou abandono. O Self 1 pode compreender a dor, mas não consegue transformá-la, porque a verdadeira cura não acontece pela razão.

O Self 2: a alma viva e emocional

O Self 2 é o coração da mente emocional. Ele guarda as experiências vividas com intensidade, especialmente aquelas registradas na infância e nos momentos de vulnerabilidade. Nesse nível inconsciente e sensível estão armazenados os traumas, os vínculos afetivos, os desejos não expressos e também a conexão com o divino.

É no Self 2 que acontece a linguagem da fé, da intuição e da emoção dominante. Ele é a morada da alma viva. Como diz José Roberto Marques, “o Self 2 é a morada da emoção dominante, a alma viva dentro da mente”.

A fé não nasce de uma ideia, mas de um sentimento verdadeiro, pulsante e transformador. Toda nova emoção que queremos instalar como verdade precisa ser sentida aqui.

O Terceiro Self: o guardião do subconsciente

O Terceiro Self é o campo de proteção psíquica. Ele funciona como um filtro emocional que decide o que pode vir à tona, o que permanece guardado e o que deve ser esquecido. É ele que protege a mente quando algo é percebido como perigoso, doloroso ou insuportável.

A cura acontece quando o Terceiro Self percebe que há segurança suficiente para liberar o que estava reprimido. Isso ocorre quando uma nova emoção, mais forte e amorosa que a anterior, é vivida com verdade. Esse é o momento em que a nova emoção dominante substitui o trauma e integra uma nova narrativa emocional.

Os Três Selfs em ação

Imagine um homem que foi abandonado pela mãe na infância. Durante anos, seu Self 1 repete frases racionais como “ela fez o melhor que pôde” ou “isso me tornou mais forte”. Mas, dentro dele, o Self 2 ainda sente abandono e insegurança. Enquanto isso, o Terceiro Self guarda essa dor, acreditando que seria perigoso revivê-la.

Em um processo de cura, esse homem visualiza sua mãe quando criança, percebe sua inocência e sente um amor intenso. Nesse instante, o Self 2 registra a nova emoção, o Terceiro Self aceita a substituição e o Self 1 cria novos significados a partir dessa experiência. Essa é a Mente Integrada em ação.

Mente fragmentada sofre, mente integrada cura

Quando os três níveis estão desalinhados, o sofrimento se instala. O Self 1 diz “você já superou”, o Self 2 responde “ainda dói”, e o Terceiro Self guarda “é perigoso lembrar disso”.

Mas quando a mente se integra, todos os níveis reconhecem a mesma verdade emocional. O Self 1 entende, o Self 2 sente e o Terceiro Self aceita. É nesse estado de coerência emocional que a cura acontece.

A nova arquitetura da alma humana

A teoria dos Três Selfs é a base da Psicologia Marquesiana. Ela mostra que a alma precisa ser sentida, não explicada. A cura começa quando a emoção é vivida com verdade e coerência em todos os níveis da mente.

A mente integrada é aquela que pensa com consciência, sente com verdade e guarda apenas o que já foi curado. Se você deseja curar uma dor antiga, não basta compreendê-la. É preciso sentir uma emoção nova e mais forte que a anterior. Se quer se libertar de padrões inconscientes, é necessário que o Terceiro Self aceite essa nova emoção como segura.

O caminho da emoção que cura

Quando o Self 2 sente uma nova emoção, o Terceiro Self a reconhece como segura e o Self 1 passa a criar novos significados a partir dela.

Esse é o estado de mente integrada. A alma deixa de lutar consigo mesma e passa a cooperar com a própria evolução. A razão e a emoção deixam de competir e passam a se complementar. Esse é o coração da cura emocional. Esse é o início da alma reconciliada.

Conclusão inspiradora

Integrar a mente é unir razão, emoção e espírito em um só movimento de verdade. Quando pensamos o que sentimos e sentimos o que acreditamos, nasce dentro de nós uma paz silenciosa que se chama coerência. É nela que o passado encontra sentido, o presente encontra leveza e o futuro se abre como um campo de possibilidades.

A mente integrada é o estado da alma que aprendeu a amar sem medo e a pensar com compaixão.

José Roberto Marques
Mentor, escritor e fundador do IBC Coaching