O cérebro é um órgão extremamente poderoso. Ele registra tudo aquilo que vivenciamos, desde o momento do nascimento, até o momento atual. Contudo, há momentos dos quais nos lembramos e outros de que acabamos nos esquecendo.
Como o cérebro decide o que vale a pena arquivar e o que vamos esquecer? A resposta se dá em uma palavra: emoção. Os momentos de maior carga emocional, sejam eles positivos ou negativos, são aqueles que se transformam em memória.
É o que sentimos, por exemplo, quando voltamos a uma casa em que passamos a infância. Ao olhar para aqueles ambientes, tocar nos objetos e sentir os cheiros, automaticamente nos lembramos do que vivemos ali.
Alimentação e memória
O cérebro também faz essas associações com nossos hábitos alimentares. Às vezes isso é positivo, como quando comemos um bolo de laranja e nos lembramos com carinho da avó que costumava fazê-lo em nossa infância.
No entanto, as associações também podem se manifestar de forma bastante negativa. Se você brigou com o chefe, com o marido ou com a esposa e, numa tentativa de sentir-se melhor, devorou uma barra de chocolate, isso também é registrado. E nem é preciso que isso se repita muitas vezes para acontecer esse registro. Bastam poucas repetições, e a mente já cria a associação.
Em consequência, cada vez que você passar por um momento emocionalmente difícil, seu cérebro te lembrará que um alimento bem açucarado, como o chocolate, aliviou essa sensação ruim.
Esse mecanismo é o responsável pela construção de comportamentos compulsórios, em que comemos não porque precisamos, mas porque construímos uma dependência emocional com aquele alimento. Isso pode ocorrer com chocolate, massas, pizzas, enfim, qualquer alimento em que o indivíduo desconte suas frustrações.
É como se você estivesse adquirindo um vício. Assim como as pessoas usam o cigarro, o sexo, as compras, as drogas ou a bebida alcoólica para extravasar a solidão, o estresse ou a falta de motivação em suas vidas; alguns utilizam o alimento como válvula de escape.
Hábitos que se constroem desde a infância
Nem é preciso ressaltar o quanto essa relação de dependência com a comida é negativa, tanto para a saúde emocional quanto para a saúde física.
Entretanto, é importante salientar que as origens desse tipo de comportamento frequentemente estão na infância. É o caso do bebê que chora e prontamente recebe a mamadeira, da criança que tirou nota baixa na escola e é consolada com um delicioso bolo de chocolate, da adolescente que brigou com o namorado e divide um pote de sorvete com as amigas em questão de minutos.
Pais tendem a fomentar esses hábitos nos filhos durante a infância. Já na idade adulta, o indivíduo sozinho constrói essas associações.
Cérebro: mocinho ou vilão?
O vínculo emocional que desde a infância estabelecemos com a comida é registrado pelo cérebro. A tendência, portanto, é que muitos desses comportamentos sejam reproduzidos na idade adulta, se uma mudança profunda não for efetuada. Por isso talvez seja tão difícil para muita gente gostar de vegetais e ir à academia, por exemplo.
O cérebro, porém, faz isso com a melhor das intenções. Como um mecanismo evolutivo da humanidade, resultado de milhões de anos, ele é programado para sempre poupar energia, procurar pelo prazer e evitar a dor.
Dessa forma, obviamente, sair com os amigos para comer uma pizza é um momento prazeroso, desses que dão graça à vida, e não é preciso abrir mão dessas refeições prazerosas.
O que é preciso fazer é verificar se você não está fazendo uma associação emocional negativa com os alimentos de que você gosta: essa pizza está sendo desfrutada numa ocasião especial com amigos, ou simplesmente porque você está preocupado ou ansioso por algum motivo?
É preciso fazer esse tipo de questionamento para desconstruir essas associações emocionais com a comida. Além disso, é importante que cuidemos também das gerações futuras, evitando dar os alimentos preferidos (geralmente aqueles ricos em açúcar ou gorduras) tão logo a criança ou o adolescente manifestem algum descontentamento.