Image Point Fr/Shutterstock As metáforas são o principal instrumento utilizado pelo Coach especializado em Linguagem Ericksoniana, para ajudar o coachee em seu processo de desenvolvimento

Na Língua Portuguesa, metáfora é uma figura de linguagem em que uma palavra ou uma expressão não possuem um sentido literal, mas que na verdade revela uma relação de semelhança entre dois termos.

Etimologicamente a palavra metáfora, nos remete a uma reflexão sobre como esta técnica pode ser um recurso valioso para o processo de Coaching Ericksoniano. Em latim, “meta” significa “algo” e “phora” significa “sem sentido”. Esta palavra foi trazida do grego onde “metáfora” significa “mudança” e “transposição“.

As metáforas são palavras que quando comparadas, um termo substitui o outro. Uma comparação na essência, em que a palavra não está posta, mas sim subentendida. Por exemplo, quando dizemos: “sou como uma leoa para meus filhos” está claro de que um ser humano jamais poderia agir como um felino deste porte, mas fica evidente que esta pessoa protege, luta e defende seus filhos como muita força e coragem.  Neste caso, a comparação é em relação à força do animal a de um indivíduo.

O Poder de Mudança Proporcionado pelas Metáforas

Por ser de suma importância na comunicação humana, a metáfora é uma ferramenta muito utilizada por nós em diferentes situações cotidianas. Pesquisas nas áreas de sociologia, filosofia e antropologia demonstram que utilizamos em média quatro metáforas por minuto em nossas conversas tanto formais quanto informais.

A surpresa desse resultado deixa, claro, o quanto nós nos utilizamos dessa forma de linguagem sem darmos-nos conta. A todo instante, são criadas associações e analogias inconscientes para dizer ou representar aquilo que não queremos ou não conseguimos expressar realmente em relação aos nossos sentimentos. Quem nunca falou?

Eu estou sempre dando murro em ponta de faca.

PSC

Eu carrego o mundo nos meus ombros.

Eu vejo uma luz no fim do túnel.

Aplicação no Processo de Coaching

As metáforas são utilizadas nos processos de Coaching como uma das formas de comunicação com o coachee. E se na linguagem convencional a metáfora já desfruta de uma posição privilegiada como peça para comunicação entre as partes, na linguagem ericksoniana isso não poderia ser diferente.

Como um apoio à comunicação, ela tem o poder de condensar em uma ideia simples que talvez não conseguiríamos explanar nem em horas de explicação tradicional. No linguajar do dia a dia, as metáforas têm a capacidade de suavizar ou potencializar o que o significado ao pé da letra exprime com dificuldade. No Coaching, as metáforas ericksonianas são a chave para desencadear processos de cura, transformação e ressignificação.

Há uma tendência a chamar de metáforas um grupo bem particular de histórias, provérbios, lendas que tenham uma lição de valores ao final. São narrativas curtas em que o leitor sempre aprende algo. E, nas induções, há narrativas, também chamadas de metáforas, que são um conjunto de imagens mentais, como um sonho consciente em que alguém conduz uma narrativa imaginária que vai se construindo no momento. Esse modelo se apoia em narrar uma história com a qual o leitor se identifica e que transmite de forma implícita – pois a metáfora é uma ferramenta de comunicação indireta –, pelo nível de comunicação inconsciente, um conhecimento que ajudará a pessoa em uma mudança de crenças que a levará a uma mudança pessoal.

O discurso lógico, oriundo do hemisfério esquerdo do cérebro, ou seja, a nossa fatia consciente, traz os signos, elementos próprios e relativos à consciência. Se o objetivo, contudo, é acionar a nossa porção inconsciente, nada mais correto do que ir a busca do idioma falado pela mente inconsciente: os símbolos.

A coexistência desses dois modelos, o lógico e o analógico, se dá numa batalha, ora pacífica ora cruenta, travada a cada instante e por cada um dos indivíduos. Uma das formas mais inteligentes de arbitrar essa disputa é justamente por meio das metáforas. Distraindo o consciente, a metáfora supera as dificuldades subjetivas, autoimpostas, e acaba por passar por cima das crenças limitantes que tanto nos engessam e dos medos que nos paralisam.

Acreditar que as coisas ou nós mesmos somos tão somente de tal ou qual maneira é comumente uma crença que nos detém, nos impede de seguir adiante. O Coaching, ao contrário, é sempre um convite para irmos além, estabelecermos novos limites, superarmos as adversidades, alcançarmos resultados extraordinários. Metaforizar, portanto, pode ser um atalho para isso, ajustando nossas limitações para o tamanho incomensurável das nossas capacidades de mudança e conquista.

Recorrer a metáforas é também um excelente recurso para que o coachee não se esqueça da mensagem recebida. Nossa tendência para recordar de metáforas e alegorias é imensamente maior do que para lembrar de conversas lógicas. Quando metaforizamos, portanto, estamos dando para o coachee a chance de ter em mente, e sempre à mão, uma ferramenta que lhe permita falar a língua do seu próprio inconsciente.

O objetivo geral do uso da metáfora é ter uma história que gere novas condutas, provoque emoções e reflexões no coachee. Como uma síntese, ela condensa os elementos relevantes e essenciais, deixando em segundo plano os latentes, não explícitos. Seu uso corriqueiro nas artes, na estética, na poesia e nas diversas formas de comunicação já tentadas pelo homem não atrapalha, contudo, um aspecto que Erickson tinha em mente: o de que as metáforas têm uma dimensão profundamente terapêutica.

Metáforas são histórias. Quanto a histórias não há resistência. Ninguém resiste a belas histórias. Por isso, as metáforas atravessam todas as barreiras e chegam ao nível mais profundo de comunicação que duas pessoas podem atingir. Milton Erickson nos ensina que a hipnose é uma comunicação entre inconscientes e a metáfora é um excelente signo para essa comunicação. José Roberto Marques

Por meio do discurso indireto, das referências sutis e da abordagem terapêutica metafórica, nossas resistências acabam sendo domadas, nossos espíritos são apascentados, permitindo que aflorem nossas potencialidades de resolução dos problemas, que são sempre infinitamente maiores que os próprios problemas em si.