Não é o trauma que adoece, é o que a alma precisou esconder para sobreviver. Por trás de cada dor não expressa existe uma emoção que não encontrou espaço para sair. Quando o sentimento é reprimido, ele não desaparece, apenas se esconde em algum canto da alma e se manifesta mais tarde como ansiedade, tensão, doenças físicas ou tristeza sem causa aparente.
Catarse é o instante em que a emoção aprisionada finalmente encontra uma saída. É quando o corpo, o cérebro e a alma entram em comunhão para liberar o que ficou retido. Na Psicologia Marquesiana, a catarse é compreendida como um processo natural e espiritual, em que o sentir se transforma em força curadora.
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A dor que não sai, envenena
Desde cedo somos ensinados a controlar as emoções. Engolimos o choro, abafamos a raiva, disfarçamos a dor. Com o tempo, o corpo se acostuma a guardar o que deveria fluir e a alma começa a sufocar. O sofrimento emocional não vem da dor, mas da repressão da dor.
O que não é chorado, gritado, sentido ou acolhido se transforma em couraça emocional, em desequilíbrio químico e em padrões de repetição. A catarse rompe esse ciclo e devolve ao corpo a liberdade de respirar, ao cérebro o equilíbrio e à alma a capacidade de confiar novamente.
O que é catarse
A palavra catarse vem do grego katharsis, que significa purificação ou liberação. Na tragédia grega, era o momento em que o público chorava com o herói e se purificava pela emoção.
Na psicologia moderna, Freud e Breuer descreveram a catarse como a liberação das emoções reprimidas, permitindo que o paciente revivesse e soltasse o que estava preso.
Na Psicologia Marquesiana, a catarse é mais do que uma técnica, é uma linguagem viva da alma. Ela acontece quando o Self 2, o campo emocional profundo, é ativado e o Terceiro Self autoriza a liberação do que estava guardado. É a alma dizendo em silêncio: eu preciso ser sentida para ser curada.
Catarse não é explosão, é expressão
A catarse é muitas vezes confundida com descontrole emocional, mas, na verdade, é o oposto disso. É a liberação consciente e segura de uma emoção que foi reprimida por muito tempo. Ela pode se manifestar de muitas formas: lágrimas, tremores, respiração alterada, calafrios, lembranças súbitas ou até um riso inesperado.
O corpo é sábio. Ele guarda o que precisa, mas também sabe quando é hora de soltar. Quando a emoção é liberada de maneira consciente, o sistema nervoso se reorganiza e o fluxo natural da vida retorna.
A neurociência da catarse
Durante uma experiência de catarse, o sistema límbico é ativado, especialmente a amígdala e o hipocampo, regiões ligadas à memória e às emoções. Há liberação de substâncias como noradrenalina, que auxilia na reorganização emocional, e ativação do nervo vago, responsável por trazer calma e relaxamento.
O cérebro entende que o perigo passou e permite que a emoção reprimida se transforme em aprendizado. A memória emocional é recodificada com uma nova carga afetiva, mais leve e segura. Essa é a base neurobiológica da cura emocional.
A catarse e os três selfs
A catarse acontece quando o Self 2 é acessado com segurança emocional. É ali que a dor está registrada e é ali que ela precisa ser vivida. O Self 1, racional, apenas observa e permite o processo. O Terceiro Self, guardião do subconsciente, aceita a nova emoção como verdade e a integra ao sistema emocional.
Como ensina José Roberto Marques, a catarse é a cura do que o Self 1 tentou explicar, mas o Self 2 nunca conseguiu soltar. Quando isso acontece, o trauma se dissolve e uma nova emoção dominante, de amor, perdão ou compaixão, toma o lugar da antiga dor.
O valor espiritual da catarse
Em diversas tradições espirituais, a liberação emocional é um caminho de purificação. Na Bíblia, as lágrimas são símbolo de arrependimento e reconexão com Deus. Nas tradições indígenas, os gritos e cantos libertam a energia ancestral. No zen-budismo, o silêncio profundo pode conduzir à lágrima da entrega.
A catarse espiritual é a oração da alma. É o momento em que a emoção se transforma em devoção e o sentir se torna uma forma de fé. Quando a emoção é vivida com verdade, o Self 2 se reconecta à Fonte e o Terceiro Self reconhece essa experiência como cura.
A sequência natural da cura emocional
Toda cura emocional segue uma ordem natural. Primeiro, o Self 2 é ativado e traz à tona a dor reprimida. Depois, a emoção emerge de forma espontânea. Em seguida, o sentir é acolhido e compreendido. Uma nova emoção, amor, compaixão ou perdão, é instalada, e o Terceiro Self a integra como verdade.
Sem catarse, a emoção não é liberada. Sem liberação, a dor continua no comando. Sem uma nova emoção dominante, o trauma se repete.
O processo de liberação emocional
Na Psicologia Marquesiana, o Método PSC utiliza a catarse com consciência e responsabilidade. O processo acontece em um campo seguro, conduzido com presença amorosa e intenção clara. Após a liberação, uma nova emoção é conscientemente instalada.
A segurança emocional cria o ambiente para o sentir. A intenção direciona a energia. E a substituição consciente consolida a cura. É assim que a catarse se transforma em uma prática espiritual e científica de libertação.
O choro que cura é o choro da alma
Catarse não é fraqueza, é força. É a alma decidindo não carregar mais o que já não precisa. Quando a emoção transborda, o corpo se liberta. Quando o corpo se liberta, o cérebro se reorganiza. Quando o cérebro se reconcilia com a emoção, a alma volta a respirar.
José Roberto Marques ensina que a emoção que cura só entra quando a emoção que estava presa encontra uma saída. O choro que cura é o choro da alma, aquele que limpa, que devolve a presença e que transforma o sofrimento em sabedoria.
A catarse é o ponto em que o sofrimento se transforma em libertação. É o instante em que o coração aprende que sentir é o primeiro passo para se curar.
José Roberto Marques
Mentor, escritor e fundador do IBC Coaching