Winston Churchill é um dos maiores nomes da história recente. Estadista britânico, saiu vitorioso ao conduzir a Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra Mundial. São muitos os livros e documentários que retratam suas conquistas, sempre acompanhadas por seus discursos de retórica inigualável.

O herói

Por ter derrotado Hitler, Churchill passou a ser visto como um líder bem-sucedido. Ele alertou a Grã-Bretanha sobre os perigos que o líder nazista representava quando poucos o levavam a sério. Aliás, muitos de seus opositores utilizavam esses alertas para mostrar que Hitler não era assim tão perigoso e que Churchill não era lá muito sábio.

Ao tornar-se primeiro-ministro, a Grã-Bretanha estava em situação complicadíssima. A Alemanha avançava pela Europa, a França já havia se rendido e os Estados Unidos ainda estavam em posição de neutralidade. Muitos concordavam que o ideal seria que a Grã-Bretanha também se rendesse.

Em resposta, Churchill afirmou que: “As nações que caíram em combate ressuscitaram, mas as que se renderam mansamente terminaram”. Com uma retórica apuradíssima, o primeiro-ministro convenceu seus opositores de que valeria a pena continuar na guerra. Assim, as tropas britânicas prosseguiram e saíram vitoriosas do conflito contra os alemães.

O vilão

O mesmo heróico e bem-sucedido Churchill talvez nem fosse lembrado se a Segunda Guerra Mundial não tivesse ocorrido. E se fosse, seria de forma negativa. O futuro líder inglês foi eleito ao parlamento em 1900. Ainda na Primeira Guerra Mundial, defendeu a Campanha de Galípoli, na qual a Grã-Bretanha teve desastroso despenho. Também não foi bem-sucedido ao conduzir as políticas na Irlanda, a economia britânica no período entre guerras e a defesa a Eduardo VIII, simpatizante do Nazismo.

No processo de independência da Índia, Churchill também foi muito criticado por considerar os indianos “um povo bestial, com uma religião bestial, com uma população que se procriava como coelhos”. Também considerava o líder pacifista Mahatma Ghandi, que lutava pela independência de seu país, um “fanático malévolo”.

Há quem diga que, quando o assunto era a Índia, não havia muitas diferenças no modo de pensar e de agir entre Hitler e Churchill.

O que a história de Churchill diz sobre o conceito de liderança?

Em primeiro lugar, podemos compreender que ninguém é perfeito. No caso de Churchill, quando estava certo, estava muito certo; mas, quando estava errado, estava muito errado.

Não se pode dizer que havia um “Churchill do bem” que lutava contra Hitler e um “Churchill do mal” que lutava contra Ghandi e se manteve indiferente à Fome de Bengala, que vitimou mais de 3 milhões de indianos em 1943. Seus triunfos e fracassos partiram de uma mesma mente que relutava em admitir a derrota.

Às vezes, isso dava certo. Às vezes, não. O fato é que as circunstâncias mudavam, mas o caráter e a personalidade de Churchill continuavam os mesmos. E não se pode negar que Churchill era único. Por louca e audaciosa que parecesse a ideia de manter a Grã-Bretanha na guerra, somente alguém como Churchill teria optado por seguir em frente, enquanto muitos outros líderes recomendavam o contrário.

Singularidade

Churchill foi um dos líderes que causam impacto na humanidade. E isso só é possível para pessoas que fazem aquilo que ninguém mais faria e que correm riscos que ninguém mais correria. É uma ousadia e tanto, mas que não é exclusividade de Churchill.

Steve Jobs, por exemplo, cortou 70% dos produtos da Apple para salvar a empresa da falência, nos anos 1990. São decisões que não se esperam, mas que, quando dão certo, são um verdadeiro sucesso.

Pessoas como Steve Jobs e Winston Churchill não são encontradas em cada esquina. São indivíduos que podem colecionar desafetos e tomar decisões catastróficas. Contudo, não se pode negar que são líderes de alto impacto, pois agem com autenticidade e singularidade. Enxergam as situações sob pontos de vista que ninguém mais vê, o que muitas vezes pode significar a solução.

Somente um líder como Churchill seria capaz de derrotar Hitler. Mas também foi o mesmo Churchill que lidou tão mal com as questões na Índia. Essa singularidade é uma faca de dois gumes, que pode produzir um grande sucesso ou um grande fracasso. No caso de Churchill, os dois lados da moeda apareceram em sua trajetória.

Contudo não há como negar que pessoas assim são repletas de ousadia e coragem. Por isso, os líderes mais vitoriosos e os mais fracassados quase sempre têm uma infinidade de traços em comum, mais do que com qualquer outro líder mediano. Resta saber para onde canalizarão suas forças.