A raiva é uma emoção humana e, sendo assim, faz parte da vida das pessoas em alguns momentos. Se alguém bate em seu carro por pura falta de atenção, a raiva vai surgir. Essa emoção tem uma função evolutiva de existir, que é a de fazer com que possamos nos defender diante das ofensas e das injustiças, lutando para proteger a nossa integridade e também a daqueles a quem amamos. É ela que nos ajuda a estabelecer e impor limites e lutar por nossos direitos.

No entanto, como toda e qualquer emoção, ela precisa ser administrada com inteligência, de modo que possamos extrair da raiva apenas o que ela pode nos oferecer de verdadeiramente útil. Quando a raiva é mal “utilizada”, ela pode desencadear o chamado comportamento explosivo.

O que é o comportamento explosivo?

Comportamento explosivo é uma expressão informal para um transtorno da mente, chamado Transtorno Explosivo Intermitente. Algumas pessoas desenvolvem a crença de que esse comportamento é um traço de sua personalidade, o que não é verdade. Trata-se de uma atitude patológica que precisa de atenção.

Essa condição é caracterizada por episódios recorrentes de descontroles emocionais extremos. O indivíduo apresenta reações de raiva e agressividade incontroláveis e desproporcionais aos acontecimentos causadores. Por isso, as pessoas com esse transtorno são vistas como difíceis de lidar e, por conta da raiva, podem ter interpretações equivocadas sobre os acontecimentos.

Quais são as causas desse problema?

Como ocorre na maioria das condições psicológicas, as causas desse transtorno são multifatoriais. Acredita-se que o principal fator desencadeador do problema seja a questão genética, o que é verificado, sobretudo, nas famílias em que há outros transtornos mentais existentes, como depressão, transtornos ansiosos e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

Entre os fatores ambientais, é fato que a maioria dos casos desse transtorno se desenvolve em indivíduos que cresceram em famílias ou que frequentam ambientes em que a postura agressiva é vista como natural. É o caso de pessoas expostas à violência desde a infância e que, por normalizarem o comportamento, o reproduzem na idade adulta.

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Por fim, há também o fator biológico, tendo em vista que disfunções na produção do neurotransmissor serotonina (o mesmo problema associado à depressão e ao transtorno de ansiedade) também podem desencadear o problema.

Esse transtorno costuma dar os primeiros sinais na adolescência, intensificando-se na vida adulta. É mais recorrente em homens e também pode surgir de forma concomitante a outras condições psicológicas, como depressão, transtorno bipolar e transtornos ansiosos. O uso prolongado de álcool e drogas pode causar ou intensificar a condição.

Como diferenciar a raiva normal do comportamento explosivo?

Quando você bate o carro, quando alguém o ofende ou quando os filhos estão indisciplinados enquanto você precisa trabalhar, é natural que a raiva surja. Não podemos reprimi-la, pois nenhum sentimento deve ser represado. No entanto, a expressão da raiva não pode ocorrer de forma violenta, colocando em risco a própria segurança e a segurança das outras pessoas.

Por isso, a raiva “normal” é aquela em que o indivíduo entende o porquê de ela ter surgido e está consciente da existência desse sentimento. Já o comportamento explosivo se expressa em uma explosão de fúria, de intensidade alta e desproporcional ao contexto. Os principais sintomas desse transtorno incluem:

  • Descontrole sobre a agressividade;
  • Quebra de objetos do próprio indivíduo ou alheios;
  • Sudorese intensa, formigamento e tremores musculares;
  • Aceleração dos batimentos cardíacos;
  • Ameaças verbais;
  • Agressões físicas;
  • Impulsividade;
  • Enxaqueca;
  • Irritabilidade e impaciência;
  • Sentimento de culpa e arrependimento depois do episódio.

Quando a raiva é desproporcional aos fatos e assume características explosivas em pelo menos três episódios em um ano, configura-se um quadro de comportamento explosivo. No entanto, é preciso que haja acompanhamento médico (psiquiátrico) e psicológico para chegar a esse diagnóstico, com base no histórico do indivíduo.

O que é possível fazer para resolver o problema?

Os episódios comuns de raiva podem ser administrados por meio de uma conversa com amigos e familiares, de modo que o indivíduo recupere a calma e a racionalidade diante das situações adversas. Quando esse processo é mais lento e difícil do que o normal, há o transtorno explosivo intermitente. Essa condição não tem uma cura definitiva, mas pode ser tratada e controlada.

Sendo um transtorno da mente, é importante que ele seja adequadamente diagnosticado por um psicólogo ou por um médico psiquiatra. Além disso, é importante contar com a ajuda dos amigos e dos familiares mais próximos para lidar com os acessos de raiva.

A psicoterapia é uma grande aliada para os indivíduos que enfrentam esse problema, pois ela os ajuda a desenvolver mecanismos para identificar as situações que desencadeiam a raiva e para lidar com a emoção de forma saudável. A terapia em grupo ou familiar pode ser uma boa sugestão para que o indivíduo consiga restabelecer laços de paz e harmonia com aqueles com quem convive.

Há casos, porém, em que, além da psicoterapia, é necessário o tratamento medicamentoso, geralmente com antidepressivos e estabilizadores do humor, que são substâncias que promovem redução da agressividade e equilíbrio emocional.

Além disso, há práticas complementares que também ajudam o indivíduo a administrar aquilo que sente e a canalizar a raiva para algo mais útil, como a prática regular de atividade física e a meditação. Nos casos de menor gravidade, calmantes naturais podem ser úteis também.

Quais as consequências para quem não faz o tratamento?

Na ausência do tratamento, a tendência é que os episódios de raiva sejam cada vez mais intensos e recorrentes. Isso tem como consequência um aumento nas atitudes tomadas de forma impulsiva, o que pode causar prejuízos em diferentes áreas da vida.

Dessa forma, quando não tratadas, as pessoas com esse transtorno podem ter acessos raivosos que culminam em brigas verbais e físicas, perdas de emprego, suspensão ou expulsão de instituições de ensino, divórcios, perda da guarda dos filhos, problemas de relacionamento em geral, conflitos com vizinhos, acidentes de trânsito, quebra de bens próprios ou alheios e hospitalizações por ferimentos decorrentes desses episódios de agressividade.

É importante ressaltar que o comportamento explosivo já é um quadro com uma natureza delicada e tende a ficar ainda mais grave quando o indivíduo faz uso de álcool ou drogas.

Como você pode perceber, o comportamento explosivo pode ter múltiplas causas e sintomas dolorosos, que provocam sofrimento tanto na vida de quem desenvolve o transtorno como na vida daqueles com os quais a pessoa convive. Contudo, com o acompanhamento psicológico e psiquiátrico, os tratamentos disponíveis fazem com que o indivíduo volte a ser senhor de suas emoções, agindo de forma consciente e equilibrada.

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