Quando tratamos de Constelações, estamos falando de uma abordagem psicoterapêutica que busca trazer à tona as dinâmicas que ocorrem dentro de um determinado sistema.
O objetivo, com isso, é identificar as fontes de desarmonia, os sentimentos e emoções que impactam diretamente nos comportamentos, crenças e tomadas de decisão da pessoa, reequilibrar esta energia e melhorar sistematicamente sua qualidade de vida.
Dentro deste contexto e, de acordo com o modelo fenomenológico, devemos buscar observar o mundo sob o viés da nossa percepção primária, ou seja, sem julgamentos ou baseados apenas na lógica do conhecimento intelectual racional. Esse olhar sem filtros ou convenções pré-estabelecidas nos apoia a perceber, por meio dos nossos sentidos (tato, olfato, visão, sensação, por exemplo) a nossa realidade não necessariamente como sendo uma verdade absoluta e inquestionável. Existem muitas coisas que vão além!
Um exemplo prático disso é que quando estamos realizando uma constelação. Os movimentos feitos pelos representantes são essencialmente realizados com base em suas sensações. Cada movimento traduz a energia e a emoção por traz de cada papel. Negar isso seria negar as informações que estas impressões e sentimentos trazem a cada pessoa e a oportunidade que temos de, ao saber de tudo isso, interpretá-las de modo mais assertivo e verdadeiro.
Esta capacidade de perceber as emoções, intenções e histórias é o que torna o processo de constelar possível, pois traz à tona os sentimentos de cada pessoa que compõe aquele sistema abordado, elucidando questões que, na maioria das vezes, não são conhecidas ao constelado, que não estão claras na superfície, mas que, mesmo assim, afetam sua vida de algum modo.
Neste sentido, segundo o biólogo inglês, Rupert Sheldrake, estas esferas de energia invisíveis são os chamados campos mórficos, que podem ser considerados os mecanismos pelos quais disseminamos ideias e comportamentos por meio do espaço e do tempo. É exatamente no campo fenomenológico que o campo mórfico acessa, por exemplo, as memórias familiares dos nossos ancestrais. Também é nele que podemos acessar e identificar as pessoas, os fatos e as circunstâncias que estão impactando negativamente a vida do constelado nos dias de hoje.
Muitas vezes, as respostas que o cliente busca para sanar suas dores, dificuldades e lacunas pessoais não estão necessariamente em seu momento atual, mas no entendimento dos acontecimentos do passado que levaram aquilo. Em se tratando de Constelação esta é uma afirmação que faz muito sentido, pois ao constelar descobrimos, por meio da percepção das interferências no campo mórfico, como as histórias dos antepassados estão conectadas às dos nossos clientes.
Esta energia presente e ao mesmo tempo oculta, reverberada através dos anos é realmente poderosa e, pode inclusive, trazer desarranjos importantes à vida de um parente hoje. Para ilustrar como isso acontece, Rupert dos dá o exemplo de um membro da família que foi excluído do seio familiar por alguma situação drástica ou traumática como, por exemplo: rejeição, prisão, morte precoce, assassinato ou mesmo suicídio.
Se não descoberto e eliminado, este campo mórfico marcado pela exclusão do familiar impactará nas próximas gerações, levando também ao afastamento inconsciente de outros membros da família e criando sempre algum tipo de desarmonia entre os parentes.
Logo, é fundamental que esta fonte de desequilíbrio energético seja identificada, curada e transcendida. Em outras palavras, isso quer dizer que apenas quando o parente excluído for reinserido no contexto familiar é que aquele ciclo de segregação e rejeição será quebrado definitivamente. Somente assim também que as próximas gerações poderão seguir a salvo das suas más influências.
Neste sentido, a abordagem da Constelação Familiar é uma ferramenta que pode ajudar a solucionar as questões pendentes e auxiliar o constelado no processo de reconstrução de sua própria história. Para isso, é preciso identificar memórias inconscientes, energias negativas passadas de geração em geração e buscar formas efetivas de transcendê-las.
Reconhecer e fazer uso do poder da percepção, da sensibilidade sobre a lógica, ou seja, do reconhecimento e entendimento das sensações e emoções que cada energia provoca nos indivíduos é essencial. Na prática é isso que leva o constelado a mudanças positivas no mindset, mudança de comportamentos e ao alcance de resultados extraordinários.
Por fim, termino com mais uma poderosa reflexão de Maurice Merleau-Ponty e que diz – “Por meu campo perceptivo, com seus horizontes espaciais, estou presente em meu meio, coexistindo com todas as outras paisagens que se estendem além, e todas essas perspectivas formam juntas uma única onda temporal, um instante no mundo.”.
Aproveite seu momento: sinta, perceba, interaja e faça parte, pois o único tempo que temos é o aqui e agora. Como tal, devemos cuidar para que, ao sermos a memória do passado e a projeção do futuro, possamos nos perceber, perceber o outro e o mundo ao nosso redor, buscando sempre ser o melhor que podemos ser também em nosso tempo presente sem jamais deixar de lado a nossa sensibilidade para captar o mundo e fazer parte dele. Permita-se!