Liderança consciente em um mundo em constante transição

Caros leitores, líderes e buscadores de um propósito maior,

Na minha jornada como coach e especialista em comportamento humano, mergulhado nas complexidades da liderança e da gestão, encontro com frequência um paradoxo poderoso: o desejo de controle versus a fluidez que o tempo exige. É nesse ponto de tensão que a obra O Jogo Infinito, de Simon Sinek, ressoa com ainda mais força — especialmente quando olhamos para um atributo essencial para a liderança sustentável: a coragem existencial.

Liderar no jogo infinito é menos sobre acumular vitórias e mais sobre sustentar uma jornada de propósito, aprendizado e contribuição contínua. A verdadeira prosperidade, nesse modelo, não está no controle absoluto ou nos resultados imediatos, mas na disposição de evoluir. E para isso, é preciso soltar.

A coragem existencial como prática espiritual no ambiente corporativo

A coragem existencial não é um conceito religioso. Ela é, antes de tudo, uma conexão interna com algo que vai além do ego — e que exige agir mesmo diante do medo. Medo de mudar, de errar, de não ser aprovado. É a disposição de liderar apesar do que se perde: o controle, a previsibilidade, a zona de conforto.

Como sempre compartilho em minhas reflexões: coragem não é ausência de medo — é movimento, mesmo quando sabemos que teremos que abrir mão de algo. Esse ato de desapegar é, muitas vezes, a chave para florescer como líder, como equipe e como organização.

O paradoxo do controle e o bloqueio do florescimento

A cultura do controle é uma armadilha da mentalidade finita. Buscamos regras claras, metas mensuráveis e rotas seguras para minimizar o incômodo da incerteza. Mas o controle excessivo mata o espaço para a inovação, o erro construtivo e o crescimento real.

O medo do imprevisível paralisa. E líderes que operam a partir desse medo constroem ambientes de desconfiança, onde as pessoas não se sentem livres para colaborar ou mostrar vulnerabilidades. Sem segurança psicológica, não há equipes de confiança. E sem confiança, a mentalidade infinita não se sustenta.

Desapegar para florescer: as camadas do soltar consciente

Abraçar o jogo infinito exige práticas contínuas de desapego intencional. São várias as camadas que precisamos liberar para florescer de verdade:

Desapegar de antigos modelos mentais

O mundo muda. E o que funcionava ontem pode ser o maior limitador de amanhã. Flexibilidade existencial começa com a coragem de abrir mão de formas rígidas de pensar.

Desapegar do protagonismo egóico

O jogo infinito não é sobre ser o herói da história. É sobre criar as condições para que todos prosperem juntos. O verdadeiro líder não coleciona cargos, ele promove transformações.

Desapegar da necessidade de aprovação

A busca por validação constante nos desvia da nossa Causa Justa. Liderar com propósito muitas vezes exige decisões que contrariam expectativas externas, mas que honram o que realmente importa.

Desapegar da visão linear de sucesso

Não existe linha de chegada no jogo infinito. O sucesso é movimento, adaptação, reinvenção. Quem enxerga a meta como fim, perde a beleza da jornada.

Florescer é leveza. É resultado de liberar o que aprisiona, e não de acumular mais peso. Como digo: líder que floresce não é o que carrega, é o que libera.

Como a coragem existencial ativa os pilares do jogo infinito

A coragem de soltar sustenta, silenciosamente, todos os cinco princípios da mentalidade infinita:

1. Ter uma Causa Justa

Abrir mão do ego permite conexão com um propósito que realmente importa — algo que une, inspira e transcende resultados.

2. Construir equipes de confiança

Desapegar do controle central e da necessidade de estar sempre certo cria espaço para ambientes seguros, colaborativos e autênticos.

3. Estudar rivais dignos

Soltar a ideia de “derrotar” o outro dá lugar à visão de abundância. Concorrentes se tornam espelhos de melhoria, não ameaças.

4. Demonstrar flexibilidade existencial

Desapegar de modelos obsoletos permite ajustes radicais de rota, sempre que for necessário proteger e avançar o propósito.

5. Liderar com coragem

A coragem existencial é a raiz da liderança corajosa. É a base para tomar decisões que não agradam o agora, mas sustentam o amanhã.

Praticando o desapego intencional na liderança

Incorporar a coragem existencial no cotidiano exige disciplina emocional. Algumas práticas que podem sustentar esse movimento:

  • Revisões internas regulares: Identifique onde você está preso, onde o medo comanda.

  • Alinhamento com o propósito: Avalie se suas decisões diárias refletem sua Causa Justa.

  • Rituais de presença: Técnicas de mindfulness e coaching executivo ajudam a manter a clareza em meio ao caos.

  • Espaço para a escuta e a vulnerabilidade: A liderança não precisa ter todas as respostas, mas precisa saber fazer as perguntas certas.

O desapego dói. Mas também liberta. E nos leva de volta ao que é essencial.

Liderar com alma é soltar para servir

O jogo infinito da liderança não é simples — mas é profundamente recompensador. Nele, coragem existencial não é apenas uma virtude: é a fundação silenciosa que sustenta legados.

Soltar não é perder. É permitir que algo novo emerja. É abrir espaço para o crescimento da equipe, da organização e de si mesmo. É parar de lutar pelo controle e começar a servir com propósito.

Se a pergunta que fica é:

“O que preciso soltar hoje para florescer no meu jogo infinito?”,

então já demos o primeiro passo.

Com coragem e foco na jornada,

José Roberto Marques