As crenças são importantes para a motivação do ser humano naquilo que ele busca, porém, se elas não forem entendidas no seu funcionamento, podem causar sérios bloqueios. Neste sentido, apresento abaixo uma ampla explicação de como funcionam as crenças do ponto de vista do Coaching (que pouco se difere do que entendemos sobre crenças como conceito), ainda sobre como lidar com as crenças limitantes e torná-las crenças de valores.

No quarto nível da Pirâmide do Processo Evolutivo, vivenciamos nosso aspecto de “crenças e valores”. Este é um nível central da nossa evolução como seres humanos, ele divide nossa experiência mais superficial de nossa experiência mais profunda. Ele costuma ser o nível das descobertas mais surpreendentes sobre si mesmo, tanto em se tratando dos pontos positivos quanto dos pontos limitantes.Pois bem, iniciemos trabalhando o entendimento sobre o pensamento. O cérebro humano realiza cerca de 300 milhões de operações por segundo. Contudo quase todo esse processamento é inconsciente. Temos consciência de cerca de 2 mil operações, que representam apenas 0,0006% da atividade cerebral.

Sempre que trago esta informação, vem-me à mente uma pergunta chave: “O que seria do ser humano, se ele utilizasse 100% da sua capacidade mental?” Esta pergunta é poderosa. A resposta para ela é: “Compartilhe conhecimento”. De fato, a melhor forma de você ser feliz com o conhecimento que tem é compartilhando. Conhecimento não foi feito a fim de ser guardado para apenas um grupo de pessoas. No Coaching, acreditamos que compartilhar conhecimento faz com que ele se multiplique, porque o conhecimento de um somado ao conhecimento do outro se torna um novo conhecimento, muito maior e muito mais poderoso.

Rubem Alves, no seu livro Palavras para desatar nós, comenta que uma das causas que tem levado pessoas ao suicídio é o fechamento em  si mesmas. Por exemplo, pessoas do mundo artístico e literário que conquistaram uma grande parcela de conhecimento e não sabem o que fazer com ele. São como uma bateria que fica só recebendo carga; se não se der vazão a essa energia, ela explode, causando sérios danos aos que se encontram próximos.

O ser humano funciona de forma semelhante a um computador. O que você consegue ver na tela é apenas uma minúscula fração de todas as operações que acontecem na memória e no processador de um computador. Podemos comparar o mais superficial do que é visto na tela com o processamento feito no profundo do nosso inconsciente. Nosso consciente se comunica com o exterior (olhos, boca, ouvidos, tom de voz). E o inconsciente — aquilo que está dentro — faz parte do sistema de programação operacional do computador. Um erro na programação pode provocar um mau funcionamento, que se refletirá na tela, chegando a ser inviável a continuidade do trabalho. Erro no sistema pode provocar um mau funcionamento do computador (consciente), desviando-o da interação desejada pelo usuário, e desencadear um conjunto de erros, que pode até provocar pane. Se há algo que deseja e depende de você e se ainda não o alcançou, é porque seu inconsciente está te impedindo.

Porém há uma diferença do sistema do computador em relação à mente humana. No computador, o carregamento é sucessivo: linhas de comando incongruentes podem resultar em operações inúteis e/ou infindáveis; contudo um comando mais recente prevalece sobre o anterior, para uma mesma função. Assim, o computador funciona a partir de uma sucessão de linhas de programação linear e cronológica.

No ser humano, há um conjunto de ideias interligadas, cujas relações formam um sistema de crenças. As informações do ambiente, recebidas pelos sentidos, são decodificadas com “traduções” conforme aquilo em que queremos ou podemos acreditar. Durante as interações, dúvidas e conflitos, criam-se novas crenças! Diferentemente do computador, no qual as ordens de programação mais recentes podem suplantar as antigas, no processo de pensamento humano, quanto mais profundas e  antigas forem as crenças, mais elas influenciam o presente, intensificando ou criando crenças.

Exemplificando, há uma hierarquia nas crenças:

PSC

• As crenças mais antigas formam e influenciam as atuais, que vão condicionar a criação de novas;
• E o sistema se protege: as crenças mais recentes protegem as antigas, de modo que as mais profundas são quase inacessíveis.

Ainda não entendeu? Basta você se lembrar das histórias da vovó, aquelas contadas no passado, muitas vezes acreditamos mais nelas do que em dados científicos. O sistema de crenças por tradição, muitas vezes, sobressai em relação às experiências do mundo moderno.

Seja pela vovó, seja pela faculdade, fato é que simplesmente não funcionaríamos, como seres humanos, sem um sistema de crenças. Temos crenças, sobretudo, e elas constituem respostas automáticas sobre aspectos como: quem somos? Como somos? Do que somos capazes?
Como são as outras pessoas? Como é o mundo? Como se dão nossas relações com as pessoas e com o mundo?

Há crenças culturais, religiosas, sociais, do ambiente de trabalho, da comunidade e das pessoas com quem convivemos. Cada grupo de humanos tem uma programação diferente, conforme os hábitos desenvolvidos em sua região, as suas linguagens e outras peculiaridades, como as crenças políticas e religiosas, e também as necessidades distintas de sobrevivência, como as que envolvem o clima.

Para avançarmos um pouco mais neste entendimento, compreendamos um pouco mais do que já vimos no início deste capítulo, quando conhecemos o self 1 e self 2. O cérebro humano é dividido em três partes: intelectual, emocional e reptiliana.

Tudo no cérebro é produzido. As crenças são produções da mente. Primeiro, alguma imagem se forma em nossa consciência; depois, os sentidos, a interpretação das imagens; e tudo passa a ser real. A informação, seja ela de qualquer ordem, passa pelas três partes do cérebro e vira uma imagem. Há alguns anos, as informações nos chegavam em menor quantidade; hoje, diante da modernidade do mundo, as informações são bem mais volumosas, o que provoca muitas imagens
na mente humana, e nem sempre imagens muito bem organizadas, dada a correria com que as cidades industrializadas vivem.

Porém, por mais que tenhamos imagens novas e em grande volume, nossas mentes continuam muito mais ligadas às informações e imagens de nossos ancestrais biológicos, isto porque possuímos um cérebro reptiliano, localizado no cerebelo, o qual controla as funções autônomas
do corpo. O cérebro reptiliano, também chamado de Complexo-R, trabalha de uma forma binária: “confio ou não”. Quando somos dominados pelo medo, o cérebro reptiliano assume total controle, então a capacidade de raciocínio é obstruída; em alguns casos, totalmente anulada.

Fica fácil agora entender por que guardamos as informações dos nossos avós com muito mais facilidade do que as informações que recebemos por leituras e estudos. Primeiro, porque éramos crianças na época dos nossos avós. As informações eram repetidas muitas vezes e muitas vezes
trazidas com agrados (doces, passeios, presentes) ou por intimidação (chinelada, puxão de orelha). Nos dias de hoje, nem sempre recebemos uma recompensa de imediato, aí o conhecimento custa a ser assimilado e reconhecido pelo nosso cérebro.

Isso é muito comum quando criamos estereótipos e acreditamos neles. Pense rapidamente em médico… médico… é muito comum que pensemos em um médico homem, branco, vestido de branco, com um sorriso e um estetoscópio. Eu nunca fui atendido por um médico que andasse
com o estetoscópio pendurado no pescoço, mas é incrível como nossa mente aciona um padrão. Quando entramos pela primeira vez em um consultório e vemos um médico que fuja a um padrão, nossa mente, logo de cara, duvida que aquela pessoa seja o médico: “Nossa, é você o médico/médica?”

Isso acontece bastante com relação à idade. Nossas crenças nos mandam confiar mais nos mais velhos, como médicos, dentistas, professores, psicólogos, padres. Há também os padrões de vestimenta. Se alguém vê, na rua, um rapaz vestido com roupas largas, tatuagens, uma forma de andar mais despojada, pode pensar que ele seja um ladrão, porque tem uma crença de que “pessoas boas” se vestem de uma maneira X. Pode ser também que você tenha sido assaltado uma vez por alguém que se vestia de uma determinada maneira, e daí adiante sua mente entende aquela roupa como uma referência a uma situação de medo.

Parece brincadeira, mas traumas de infância, imagens violentas, envolvimentos em situações conflituosas ficam gravadas no cérebro reptiliano e, em algum momento, voltam de forma assustadora, surpreendentemente, muitas vezes deixando a pessoa atordoada, sem saber o que fazer. São memórias que não vêm à tona com frequência, mas, dependendo de situações específicas enfrentadas em algum momento marcante, tais memórias podem ser subitamente afloradas.

Você, diante desse entendimento, pode compreender por que em alguns momentos ficamos deprimidos, com algumas sensações ruins, preferindo estar em silêncio e muitas vezes sozinhos? Isto, porque o seu cérebro reptiliano está se manifestando, e algumas imagens do seu subconsciente
estão sendo acessadas, embora você não as assimile, não as entenda.

Já o cérebro emocional trata toda a informação antes da racionalização. É o chamado cérebro límbico. Ele decide pela simpatia ou não e em variados níveis: “gosto, gosto muito, gosto pouco, gosto menos ainda”, etc. Quando o cérebro emocional se antipatiza com alguma ideia, o campo racional não a processa. É por isto que, quando na escola, temos tanta dificuldade em entender uma matéria não a apreciamos!

O neocórtex é a sede do pensamento racional, localizado na região central do cerébro. É o responsável pela energia que permite a compreensão e a interpretação do que os sentidos percebem, combinados com nosso banco de dados (memória) e com nossas programações inconscientes (sistema de crenças). É o responsável pela tradução do que vivenciamos.
O neocórtex também é a sede da vontade, de agir bem ou mal, certo ou errado e, aliás, é o que define essas coisas. Ele também acrescenta a um sentimento o que pensamos dele (angústia, dor, surpresa, aflição…) e nos permite desenvolver sentimentos sobre abstrações, como ideias,
artes, símbolos, imagens etc. Ele é, essencialmente, a parte responsável pelos julgamentos.

Portanto, crenças são processos de pensamentos profundos e inconscientes, elas conduzem nosso modo de agir, nossas escolhas, nossas emoções, e não percebemos isso. Ao alcançarmos o conhecimento disso, não podemos mais perder a oportunidade de usá-lo para nosso
crescimento.

Se crescemos ouvindo “você não vai conseguir ser ninguém”, nossa mente guarda essa informação e tendemos a nos estagnar, porque acreditamos ser isso a nossa verdade. Isso se torna, então, uma crença inconsciente, mas que interfere diretamente na nossa vida. “Seu irmão é muito melhor que você” é uma crença que nos faz sempre estar um passo atrás de nós mesmos, promove diminuição da autoestima, não nos ajuda a seguir em frente.

As crenças limitantes podem (e devem) ser mudadas. É diferente de crer em Deus, trata-se de crer em coisas que podem fazer você ir além. Trata-se de expandir crenças que têm a ver com nosso desenvolvimento pessoal. Muita gente tem fé em Deus, mas não tem fé em si mesma. Há indivíduos
acreditando que Deus pode tudo, mas que eles mesmos não podem nada.

A mudança de crenças exige uma mudança na forma de olhar para si mesmo e de olhar para o mundo à sua volta. Mudar o padrão de crenças  é a transformação mais significativa que alguém pode fazer na vida. Tirar as crenças da negatividade e trazê-las para a positividade, isso, sim, constitui uma mudança radical.

Aprenda a hierarquizar as suas crenças, a estabelecer metas que as façam gerar valores para a sua vida. Quando você domina a sua mente, conhece os seus comportamentos, interpreta as suas crenças de forma a potencializar a sua vida, você ganha verdadeiramente uma identidade e se sente empoderado para enfrentar qualquer obstáculo, resolver com maestria qualquer conflito. Você passa a compreender mais as pessoas e se coloca à disposição para ajudá-las nos muitos dramas de suas vidas. Viva a beleza da vida, viva intensamente a sua vida.

 

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