Hoje vamos conversar sobre o Self 2, a morada da nossa alma e o guardião das nossas emoções. Se o Self 3 cuida da nossa sobrevivência biológica, é no Self 2 que a mágica humana acontece: é aqui que vive a nossa Criança Interior.
Muitas vezes, tentamos resolver nossa vida usando apenas a lógica e a razão, ferramentas do Self 1. Criamos planilhas, definimos metas e fazemos promessas de ano novo. Mas, curiosamente, muitas dessas promessas falham.
Isso acontece porque ignoramos uma lei fundamental da nossa biologia: o cérebro não obedece à razão, ele obedece à emoção mais forte. E a sede dessa emoção é o Sistema Límbico, o nosso cérebro mamífero, onde residem tanto a nossa capacidade infinita de amar quanto as nossas feridas mais antigas.
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A Ciência do Sentir: Onde a Lógica não Governa
É fundamental compreendermos que a Criança Interior não é apenas uma metáfora poética. Ela é uma realidade neural. Trata-se de uma rede de neurônios que registrou todas as experiências emocionais da sua infância e que continua pulsando viva dentro de você hoje.
Quando um adulto de 40 anos faz uma “birra” porque não recebeu uma resposta no WhatsApp, não é o executivo maduro agindo. É a criança ferida de 4 anos assumindo o controle do corpo.
A sociedade moderna tentou nos ensinar a engolir o choro e a “ser profissional”, esmagando o sentir. No entanto, o Self 2 opera com moedas diferentes: ocitocina, dopamina e serotonina. Sem nutrir essa parte, podemos ter todo o sucesso financeiro do mundo, mas continuaremos sentindo um vazio existencial.
Para mudar comportamentos profundos, precisamos falar a língua do Self 2, que é feita de imagens e emoções. A cura não vem da explicação lógica, mas de uma nova experiência emocional de amor que substitua a dor antiga.
O Vínculo Sagrado: Tomar a Fonte da Vida
Para que essa criança se sinta segura, precisamos olhar para os arquétipos fundamentais da nossa existência: Pai e Mãe. Na nossa filosofia, entendemos que a Mãe representa o nutrir, o ficar e o sucesso. Já o Pai representa o ir, o limite e a direção na carreira.
Muitas vezes, carregamos mágoas e julgamentos contra nossos pais, o que interrompe o fluxo de força vital. Se rejeitamos a fonte, rejeitamos a própria vida em nós. O processo de cura passa pelo que chamamos de Tomar Pai e Mãe. Isso não significa concordar com os erros deles, mas sim aceitar com humildade que a vida veio através deles e que isso é o suficiente.
Quando agradecemos pela vida e deixamos com eles o que é deles, paramos de exigir que nossos cônjuges ou chefes preencham o buraco que só o amor dos pais pode preencher.
As Máscaras da Dor e as Feridas da Alma
Quando o Self 2 é ferido na infância, ele cria mecanismos de defesa para sobreviver. Identificamos três dores principais e as máscaras que usamos para escondê-las.
A Ferida da Rejeição e o Escapista
A rejeição é a dor de sentir que não deveríamos existir. Quem carrega essa marca muitas vezes desenvolve a máscara do Escapista. É aquela pessoa que deseja ser invisível, que ocupa pouco espaço e foge para mundos imaginários, livros ou jogos. A crença limitante aqui é que, se for visto, será rejeitado novamente. A cura envolve o renascimento emocional, afirmando o seu direito sagrado de ocupar o seu lugar no mundo.
A Ferida do Abandono e o Dependente
Diferente da rejeição, o abandono é a sensação de que não somos importantes o suficiente para que fiquem conosco. O adulto ferido aqui veste a máscara do Dependente.
Ele morre de medo da solidão e se “pendura” em relacionamentos, muitas vezes aceitando migalhas de afeto. A cura para essa dor é o autoacolhimento, aprendendo a ser a sua própria companhia segura.
A Ferida da Humilhação e o Masoquista
Quando a criança é exposta ao ridículo ou criticada excessivamente, nasce a ferida da humilhação. A defesa criada é a máscara do Masoquista. Esse perfil tende a se punir antes que os outros o façam, carregando o mundo nas costas e servindo a todos, menos a si mesmo.
Muitas vezes, o corpo reflete essa proteção através do excesso de peso. A libertação vem quando entendemos que somos dignos e que o prazer e a felicidade não são pecados.
O Renascimento: A Prática do Reparenting
A grande virada de chave acontece quando paramos de esperar que alguém venha nos salvar. Ninguém virá. E isso, minha amiga e meu amigo, é uma excelente notícia, pois significa que você está livre para assumir o comando. Chamamos esse processo de Reparenting ou Reparentalização.
Trata-se do seu Self 1 (o adulto racional) assumindo a responsabilidade de cuidar do seu Self 2 (a criança emocional). É parar de se criticar no espelho e começar a estabelecer um diálogo interno de amor. Quando você erra, em vez de se xingar, você se acolhe. Quando sente medo, você se protege. Você se torna o pai e a mãe que sempre desejou ter.
O Perdão como Inteligência Biológica
Por fim, para que a Criança Interior possa brincar e criar livremente novamente, precisamos liberar o peso do passado. O perdão não é um ato de bondade para com o outro; é um ato de inteligência biológica para com você mesmo. A mágoa é um veneno que tomamos esperando que o outro morra. Quimicamente, ela inunda nosso corpo de cortisol.
Perdoar é devolver a responsabilidade ao outro e pegar a sua energia de volta. É um ato de alforria. Quando integramos o Guardião (corpo), a Criança (alma) e o Adulto (mente), formamos a trindade humana completa. E é nesse estado de integridade que você se torna capaz de amar sem medo e realizar o seu propósito com alegria.

