Nos últimos anos o termo insight vem ganhando espaço na literatura, sendo utilizada desde a psicologia e o Coaching até as diversas áreas que envolvem o marketing. Provavelmente o insight mais famoso é o do matemático grego Arquimedes, no qual ele disse “Eureca! ” quando foi desafiado a descobrir se a coroa do rei Hieron II de Siracusa era feita de ouro maciço ou não.
Foi a partir de um estalo que Arquimedes conseguiu descobrir como medir o volume de um objeto. Não sabemos em específico como se deu esse acontecimento, mas sabemos que esse é um exemplo perfeito de como acontece um insight e os desdobramentos que pode ter.
O termo é originário das línguas escandinavas e é definido de forma geral como “a capacidade que o indivíduo tem de compreender as verdades escondidas em determinadas situações. ” Esse termo começou a ser usado originalmente na psiquiatria por volta do século XX e depois foi incorporado pela psicanálise.
Vamos construir um rápido percurso histórico para que você compreenda como o insight se tornou relevante nos estudos de desenvolvimento humano e parte importante dos estudos neurológicos. Ele está ligado não só ao pensamento rápido e criativo, mas também à intuição e, portanto, à potencialização dos nossos desempenhos/performances.
Em 1910, Wolfgang Kohler, teórico da Psicologia de Gestalt, conduziu uma série de experimentos com chimpanzés com o propósito de compreender como se davam suas atividades cerebrais na resolução de problemas. Após anos de pesquisa e observação das atividades dos chimpanzés, Kohler supôs que o desempenho dos animais perante a resolução dos problemas através de tentativa e erro, poderiam ser caracterizadas como uma reestruturação metal do campo perceptual. Assim, ele denominou esse fenômeno como insight.
Para Freud, o insight é uma “compreensão interna”, ele se refere a capacidade interna durante o processo analítico para chegar até essa “compreensão”. Outros autores, também estudiosos do conceito, como Erikson (1964) compreendem o insight como uma “forma de discernimento”, que vai no mesmo sentido do pensamento de Freud.
A partir do que esses autores falam compreendemos que insight significa literalmente visão interna e intuição. Nesse sentido, a visão ganha uma dimensão muito importante para esse conceito, pois assim como nossos olhos nos mostram a imagem do mundo, o insight nos dá uma visão de algo que estava incompreendido.
Os pesquisadores Menninger e Holman (1982 [1973) consideram o insight de suma importância no processo de análise desenvolvido na psicanálise. Segundo os autores ao ter um insight o paciente reconhece alguns fatores importantes, são eles:
- reconhece aspectos de seus sentimentos e atitudes, técnicas de comportamento, papeis que ele atribui a outras pessoas obedecendo a um padrão;
- reconhece a forma como esses padrões imprimem-se em nós como uma cicatriz sob a pele, a cada passo em sua jornada ao longo da vida; os padrões se fazem presentes nas relações, situações da realidade atual, e está presente em sua relação analítica;
- reconhece que esse padrão se originou por uma razão que foi válida na época e persistiu, apesar das mudanças em algumas das circunstâncias que originalmente o determinaram;
- reconhece que esse padrão contém elementos ofensivos e prejudiciais a outras pessoas, assim como onerosos e incômodos para o próprio paciente.
Por tudo isso, os insights têm a capacidade de nos fazer recuperar a barreira da repressão, ou seja, ele nos faz acessar um material esquecido em nossa mente, preso na barreira da repressão. Ao tentar acessar continuamente essa barreira o nosso cérebro estabelece uma correlação contínua com as recordações recuperadas e nossas atitudes.
Para Lacan, o insight é uma operação intelectual que se dá no “instante de ver” que é uma junção entre o que está no nosso imaginário e o simbólico, e se desenvolve a partir de três momentos que são: concepção; compreensão e conclusão. Esses três momentos, juntos, constituem o tempo lógico.
Os motivos que nos levam a ter um insight ainda não são suficientemente compreensíveis, mesmo tendo sido usados largamente na psicologia, psicanálise e, principalmente, por Freud. Menninger e Holman reconhecem a importância do insight na análise, mas reconhecem que não podem assegurar se ele é produto ou a causa das nossas mudanças.
Greenson avança ao dizer que na sua concepção o papel do insight na análise conduz a benefícios terapêuticos que podem nos levar a ter insights posteriores. Isso quer dizer que a partir de um insight primário nós podemos ter a clareza de vários fatores que alteram o nosso ego, e a partir dessas mudanças outros insights se tornam possíveis. O insight se torna então um processo circular que envolve a nossa memória, a função integradora do ego e da autoimagem.
No campo das atividades cerebrais, o nosso cérebro desencadeia uma série de mudanças para que tenhamos uma compreensão súbita sobre algo. Para compreender melhor como o nosso cérebro funciona, em 2004 na Universidade de North-western, o psicólogo Mark Beeman conduziu um estudo que tinha como intuito medir por meio de exames de ressonância magnética e eletroencefalograma a atividade cerebral de voluntários enquanto tinham um insight.
Os voluntários participantes tinham que resolver problemas de associação remota e, em seguida, indicar a estratégia utilizada. Durante esse processo os cientistas observaram que houve um aumento considerável na atividade do giro temporal superior do hemisfério direito entre as pessoas que usaram a intuição como meio para chegar a solução.
Anatomicamente falando o giro é um cume proeminente no córtex do hemisfério direito do nosso cérebro, a sua função fundamental é o de reconhecer conexões distante entre as palavras. O lado direito do nosso cérebro é responsável por interpretar os dados mais grosseiros que temos, isso quer dizer que o aumento da atividade nesse lado do cérebro desencadeia a definição das informações de forma menos acentuada, nos permitindo ter acesso a outros conceitos e informações mais facilmente. Esse tipo de atividade é a que estabelece quando estamos sendo criativos.
Aquela velha ideia que só alguns % do nosso cérebro está em funcionamento é facilmente revogada se levarmos em consideração pesquisas como essa, pois vemos que os dois lados do nosso cérebro estão em constante funcionamento. Quando estamos tendo um insight o que acontece é que “pendemos” o trabalho do nosso cérebro para o lado mais criativo, na tentativa de dar novos usos para informações que já temos para aí então termos uma clareza repentina e podermos ter novas e incríveis ideias.
O mercado está cada vez mais dinâmico e assim surgem uma gama de novos termos para serem utilizados que vão se popularizando ao longo dos anos. Popularmente os termos insight e ideia são utilizados como sinônimos, contudo não é só semanticamente que os termos se diferenciam, mas também na forma como nós os utilizamos no dia a dia.
Conhecer a distinção entre os termos é muito importante e nos auxilia no processo criativo. Para compreender a distinção entre insight e ideia o psicólogo Graham Wallhas propõe as etapas do processo criativo que são: preparação; incubação; iluminação e verificação.
Para termos uma ideia nova sobre algo é necessário passar por essas etapas, tendo como foco uma determinada questão ao qual merece o aprofundamento. A partir do momento que focamos em ter a ideia há o processo de incubação, e é nele que emergem os nossos primeiros insights sobre o problema. Os insights surgem a partir da ativação de diferentes zonas mentais, trazendo à tona elucidações e esclarecimentos que antes não tínhamos, até a definição da ideia.
Sendo assim os insights não são as ideias, propriamente ditas. O insight funciona como parte de uma ideia. Nesse sentido Bono (1970) define que para termos as melhores ideias é necessário que o nosso cérebro explore diferentes perspectivas.
Quando usamos o percurso vertical o nosso cérebro tende a reforçar as mesmas possibilidades.
Quando usamos o recurso lateral buscamos em cada um dos desvios novas e diferentes perspectivas para chegarmos a ideia.
O mais complicado é que temos uma tendência natural a um modelo ou a outro. Há pessoas que foram, desde crianças, estimuladas a pensar de forma mais linear (modelo da esquerda) ou de forma mais complexa (modelo da direita), mas é sempre possível construir estímulos para o famoso “pensar fora da caixa”, expressão que traduz perfeitamente o modelo dos caminhos tortuosos (de lateralidade) e, por consequência, de insights mais poderosos com ideias mais assertivas.
Fazer com que o cérebro explore várias possibilidades é algo que precisa ser, o máximo possível, estimulado, e isso só acontece quando a gente se abre ao novo, ao diferente, àquilo que podemos considerar estranho, exótico… é a aceitação das diferenças como algo natural que produz cérebros com cada vez mais recursos, pois ele acumula conhecimento, ao invés de negá-lo e reprimi-lo.
Para concluir, A diferença básica entre uma ideia e um insight é que o insight é um caminho para a construção de ideias. Ele é um lampejo, um estalo, um “eureca”! Está ligado ao cérebro criativo, do qual falarei mais adiante. Em todo caso, é o insight que guarda todo o poder transformador, e não a ideia em si. Boas ideias podem ser trabalhadas em brainstormings ou apenas seguindo manuais e procedimentos, mas um insight só nasce em quem está potencializado em mente e alma.
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