Se empreender no Brasil já é um projeto que exige planejamento e uma boa dose de coragem, no exterior esses recursos podem ser duplicados. Mesmo em meio a tantas dificuldades, algumas pessoas optam por empreender no exterior porque têm empecilhos para encontrar uma vaga no mercado de trabalho tradicional no país em que moram, ou simplesmente optam por transferir seus negócios para outro país porque apresentam desconfiança quanto ao cenário econômico brasileiro.

Grandes desafios

Se a ideia oferece suas vantagens, qualquer empreendedor entusiasmado precisa conhecer muito bem também os desafios de empreender no exterior antes de tomar qualquer decisão.

Para começar, surgem as dificuldades inicias de qualquer empreendimento: recursos financeiros, contratação de profissionais, pesquisas de mercado, avaliação de fornecedores, obtenção de um ponto físico de vendas ou criação de uma loja virtual, enfim, todos aqueles trâmites que qualquer empreendedor precisa resolver.

Imagine todas essas decisões tendo que ser tomadas em um país que tem um idioma diferente de sua língua nativa, leis para a abertura de empresas que diferem das de seu país de origem e um público consumidor com hábitos e crenças diferentes daqueles com os quais você está acostumado.

Realmente, não são poucos os obstáculos a serem superados, mas também não se trata de nenhuma missão impossível, desde que o empreendedor aja com responsabilidade e planejamento.

Por que empreender no exterior?

A violência nos grandes centros urbanos, as oscilações político-econômicas do Brasil e os sucessivos escândalos de corrupção estão entre os motivos mais frequentes para que as pessoas optem por abrir seus negócios ou transferi-los para outro país. A expectativa é de encontrar um lugar mais justo e estável para obter êxito.

Outro fator importante é que muitos cidadãos brasileiros que já residem em outro país relatam encontrar dificuldade em inserir-se no mercado formal de trabalho. Como é difícil encontrar uma vaga em empresas consolidadas nesses países, abrir a própria empresa acaba se tornando uma alternativa para garantir a sobrevivência e a permanência no país.

Passo a passo para empreender em outro país

Pesando as vantagens e as desvantagens de ser um empreendedor no exterior, qualquer pessoa que tome a decisão de aceitar esse desafio precisa sair do Brasil com um planejamento muito bem definido.

Por isso, o passo a passo a seguir contemplas as principais (embora não as únicas) preocupações que você deverá resolver para se sair bem nessa missão:

  1. Providencie a documentação para residir no país

Para quem ainda vai se mudar para o novo país, é preciso obter os vistos necessários para regularizar sua estadia. É necessário solicitar esses documentos na embaixada ou no consulado do país com antecedência.

A escolha do país deve ser feita com muito cuidado. Se há algum lugar no mundo em que você tem amigos ou familiares que já residem por lá, essa pode ser uma opção muito interessante, já que você terá alguém mais experiente para te orientar sobre como proceder nessa nova localidade.

O mesmo vale para aqueles países em que você já esteve, já conhece bem o idioma ou possui algum tipo de identificação com a cultura local e com o clima (esse fator é muito importante).  Qualquer conhecimento prévio ajuda a criar uma relação de familiaridade com o país escolhido, o que possibilita que você construa e mantenha um negócio no local.

  1. Conheça a burocracia do local para abrir uma empresa

Em qualquer lugar do mundo, são exigidos muitos documentos para que um negócio seja aberto dentro da legalidade. Assim, a primeira coisa que você precisa pesquisar para empreender em outro país é a legislação pertinente ao seu segmento de atuação naquele local. Ela vai dizer se e como o seu produto ou serviço pode ser comercializado naquela localidade.

Além disso, cada país também tem suas leis trabalhistas e tributárias, além de taxas de importação e exportação que você precisa conhecer. Negócios de qualquer segmento precisam pagar impostos e cumprir suas obrigações trabalhistas para com seus funcionários – se estiver pensando em contratar alguém.

Naturalmente, tudo isso demanda dinheiro. Lembrando que, além da documentação a ser providenciada, você também precisará pensar em toda a infraestrutura da empresa, incluindo lojas físicas ou websites, dependendo da natureza de seu empreendimento.

Se você for abrir uma sociedade, certifique-se de que todos os outros sócios possuem os conhecimentos técnicos pertinentes à sua área de atuação. Defina o tipo de sociedade da empresa e, no contrato, determine os direitos e deveres de cada um.

Ainda no item das questões burocráticas, registre sua marca e, se for o caso, a patente de seu negócio no novo país, levando em consideração que as leis estrangeiras diferem das brasileiras. Por fim, contrate um contador para não se perder nas finanças de seu negócio.

  1. Faça pesquisas de mercado

Pesquisas de mercado são importantes no Brasil, mas são ainda mais essenciais em um país em que você não esteja muito familiarizado com os costumes das pessoas. A cultura local, a tecnologia e até mesmo o clima do país influenciam no perfil o consumidor, ou seja, sua maneira de consumir.

As pessoas comparam preços? Gostam de ações promocionais? Leem blogs e conteúdos escritos? Preferem vídeos e outros formatos mais interativos? Compram pela internet ou preferem as lojas físicas? Compram em grande ou pequena quantidade? Seu segmento de mercado é afetado pela sazonalidade? Seu consumidor está nas redes sociais? Qual é o perfil das pessoas que tem o potencial de se interessar pelo seu produto/serviço no novo país (lembrando que esse perfil nem sempre coincide com o perfil de cliente no Brasil)?

Todas essas questões precisam ser respondidas antes de iniciar qualquer negócio. Isso é possível por meio de pesquisas de mercado. Além de pesquisar o seu consumidor potencial, também é muito importante conhecer seus concorrentes nesse país e estabelecer seus diferenciais competitivos em relação a eles.

Com essas informações em mãos, você pode fazer uma análise SWOT (que avalia as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças ao seu empreendimento) para nortear seu planejamento estratégico. Ah, e não se esqueça de monitorar as finanças de cada decisão que você tomar, sabendo exatamente o valor a ser investido e as perspectivas de retorno.

Esses dados permitirão que você faça um plano de negócios detalhado, pensando em prazos para cada etapa do projeto e levantando também as necessidades financeiras de cada uma delas.

  1. Internacionalizar um negócio ou começar do zero no exterior?

As dicas acima são extremamente importantes para quem deseja começar um negócio novo em outro país. Consultar um advogado com experiência nas leis do país escolhido é muito importante para obter essa orientação inicial e regularizar seus negócios.

Para quem já possui um negócio no Brasil, mas pensa em internacionalizá-lo, é necessário saber se é o momento correto. É bacana pensar em valorizar e crescer suas atividades no exterior, onde geralmente há mais estabilidade. No entanto, a empresa precisa estar financeiramente sólida e ter um plano de ação para ser introduzida num novo mercado, levando em consideração todas as adversidades já citadas.

Quais órgãos brasileiros podem ajudar?

No Brasil, alguns órgãos são responsáveis por fiscalizar e regular as relações internacionais, além de coordenar as operações de câmbio de atividades executadas por empresas nacionais no exterior. Esses órgãos são:

  • Ministério da Economia;
  • Ministério das Relações Exteriores;
  • Banco Central;
  • Secretaria da Receita Federal.

É importante consultar esses órgãos para que o empreendedor compreenda as diferenças entre a legislação brasileira e a do país escolhido, de modo a edificar seu empreendimento dentro da legalidade.