Uma nova consciência sobre sucesso e liderança

Caros líderes e profissionais conscientes,

Em minha trajetória como coach, empresário e estudioso do comportamento humano, tenho testemunhado uma mudança profunda no entendimento de sucesso no mundo atual. A régua tradicional — baseada apenas em metas de curto prazo e KPIs rígidos — tem se mostrado não apenas limitada, mas muitas vezes prejudicial à saúde das organizações e das pessoas.

É nesse contexto que a visão proposta por Simon Sinek em O Jogo Infinito surge como uma bússola poderosa. Vista sob uma ótica comportamental, essa abordagem redefine a essência da liderança e convida à construção de um novo tipo de legado.

Entendendo o jogo infinito: a lógica que sustenta o progresso real

Ao contrário dos jogos finitos — como uma partida de futebol, com regras fixas, tempo determinado e um vencedor claro —, os jogos da vida, dos negócios e das relações humanas são jogos infinitos. Eles não têm fim predefinido, os participantes mudam e as regras evoluem com o tempo. O objetivo não é vencer, mas continuar jogando com propósito e consistência.

Quando uma empresa adota uma mentalidade finita em um jogo infinito, ela passa a agir de forma reativa, focada em vitórias passageiras, o que frequentemente leva ao esgotamento de pessoas e à perda de relevância organizacional. A urgência de hoje não está em bater metas isoladas, mas em construir legados que resistam ao tempo.

Metas são úteis, mas o legado é essencial

Não se trata de demonizar as metas. Elas são importantes para direcionar esforços, medir progresso e organizar prioridades. Mas não podem ser o fim em si mesmas. Quando absolutizadas, metas se tornam armadilhas — aprisionam, esgotam e afastam a visão do que realmente importa.

Metas são ferramentas. Legado é o propósito. A pergunta que devemos fazer é: aonde estamos indo com tudo isso?

O que significa construir um legado na liderança?

Legado não é sobre conquistas individuais, mas sobre o impacto que deixamos nas pessoas, nas equipes e na cultura organizacional. É o reflexo da coerência entre o que acreditamos, o que praticamos e o que inspiramos nos outros.

Liderança com legado transforma não apenas resultados, mas relações. Ela gera pertencimento, fortalece valores e molda o futuro com intencionalidade.

Os pilares da liderança de legado no jogo infinito

1. Propósito inegociável

Empresas e líderes que prosperam com uma mentalidade infinita têm um “porquê” claro e mobilizador. Sinek o chama de Causa Justa — uma visão inspiradora de futuro, que orienta escolhas mesmo diante de sacrifícios.

Esse propósito deve ser afirmativo, inclusivo, direcionado ao benefício de outros, resiliente e idealista. Não é uma meta ousada nem uma missão de marketing. É algo vivo, profundo, que une as pessoas e dá sentido ao trabalho coletivo.

Como especialista em comportamento humano, reforço: antes de liderar os outros, é preciso descobrir o que realmente te move. E documentar essa causa é essencial para garantir sua continuidade.

2. Desenvolvimento contínuo de pessoas

No jogo infinito, a saúde do time é mais importante que a performance isolada. Isso exige ambientes de segurança psicológica, onde as pessoas possam ser autênticas, pedir ajuda e colaborar sem medo.

Construir Equipes de Confiança é papel do líder com mentalidade infinita. Esse líder não controla — ele cultiva. Seu foco principal não são os resultados imediatos, mas as pessoas que os geram. E mais: liderar para o legado é formar outros líderes, não seguidores.

Sem confiança, qualquer estratégia vira retórica. Com ela, o impossível se torna possível.

3. Consistência de valores

Integridade é mais do que um valor escrito na parede — é prática diária. Manter coerência entre discurso e ação constrói credibilidade e previne o declínio ético.

Esse declínio, aliás, raramente começa com grandes falhas. Ele se infiltra aos poucos, em concessões pequenas, até contaminar a cultura. A liderança que sacrifica valores por resultados de curto prazo joga contra seu próprio futuro.

O comportamento do líder é o espelho da cultura. Quando há propósito, confiança e alinhamento ético, o ambiente floresce. Sem isso, tudo desmorona.

4. Capacidade de adaptação

O mundo muda — o tempo todo. E empresas que resistem a essas mudanças acabam sendo deixadas para trás. A flexibilidade existencial é a capacidade de mudar radicalmente o caminho quando necessário, sem abandonar a essência.

Essa mudança não é estética nem superficial. É coragem estratégica. É o que Walt Disney fez ao transformar sua atuação de filmes para parques temáticos. É o que a Kodak não fez ao ignorar a revolução digital.

Líderes que se conhecem mudam com agilidade e firmeza. Adaptam-se com velocidade, sem perder de vista aquilo que os move. Essa é uma habilidade essencial no jogo infinito.

5. Visão além da própria gestão

Liderar com legado é entender que o jogo não termina com você. Trata-se de pensar em gerações futuras, na sustentabilidade do negócio e na continuidade da cultura.

Essa visão exige Liderança Corajosa, capaz de dizer “não” a ganhos imediatos que comprometem o longo prazo. Também envolve enxergar concorrentes não como inimigos, mas como Rivais Dignos — que nos desafiam a crescer, aprender e aprimorar nossos próprios caminhos.

Mentalidade infinita é sinônimo de visão sistêmica e maturidade. O verdadeiro líder não quer apenas vencer — quer fazer algo que continue quando ele não estiver mais lá.

Como transformar metas em instrumentos de legado

A proposta não é abandonar as metas, mas redefini-las como marcos que nos ajudam a caminhar na direção do legado. Toda meta precisa responder à pergunta: “Que tipo de mundo isso ajuda a construir?”

Essa pergunta alinha o fazer com o ser. Conecta o resultado ao impacto. E transforma metas em pontes — não em prisões.

Casos reais que inspiram

Empresas que já adotaram essa visão colhem frutos concretos: cultura sólida, talentos engajados, inovação com sentido e presença consistente no mercado. E, mais importante: contribuem para um mundo melhor.

Minha análise desses casos mostra que o diferencial está sempre no mesmo ponto: priorizar pessoas e propósito, mesmo quando isso contraria a lógica imediatista.

Conclusão: liderar com alma em um jogo que não tem fim

Retomando os cinco pilares — Propósito Inegociável, Desenvolvimento Contínuo de Pessoas, Consistência de Valores, Capacidade de Adaptação e Visão Além da Própria Gestão — temos a base de uma liderança transformadora e necessária.

Metas organizam. O legado dá sentido.

Em um mundo de mudanças constantes, é o propósito que mantém empresas e pessoas no jogo, sempre em busca de algo maior. A pergunta que deixo a você, líder, é simples e profunda:

Qual marca você quer deixar no mundo?

Convido você a transformar sua empresa em um organismo vivo, que respira propósito, inspira pessoas e constrói futuro. Liderar com alma é abraçar a complexidade da vida e contribuir com consciência para o bem-estar coletivo.

O jogo nunca termina — e essa, meus amigos, é a sua maior beleza.

Com inspiração e foco no legado,

José Roberto Marques