É sabido que as práticas meditativas têm sido cada vez mais associadas a um estilo de vida mais tranquilo e a uma capacidade facilitada de concentração. Além disso, muitos estudos sugerem que a prática regular da meditação tem a capacidade de ajudar na prevenção ou de amenizar os sintomas de depressão, ansiedade e estresse. Não raro, tem sido recomendada por psicólogos e psiquiatras como prática complementar.
Contudo, será que a meditação tem mesmo propriedades que facilitam o processo de cura também para outros tipos de problemas de saúde, como é o caso das dores e doenças físicas? Continue lendo este artigo e descubra.
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Epigenética
Como você provavelmente já estudou em alguma aula de biologia, a maioria de nossas características biológicas é determinada por nosso material genético, isto é, nosso DNA. Os genes são pedaços de DNA que, quando ativados, manifestam alguma função em nosso organismo.
A meditação não tem o poder de alterar nosso material genético. No entanto, de acordo com pesquisas recentes, ela pode ajudar o organismo a controlar a maneira como o material genético é ativado nas células, sem alterar a sequência do DNA – um processo biológico conhecido como epigenética.
A epigenética é um ramo da biologia relativamente recente – originado no início dos anos 1990. Seu objetivo é compreender como os fatores ambientais podem alterar o funcionamento de nossas células, derrubando a tese de que tudo o que acontece com nosso organismo é determinado exclusivamente pelos genes.
Resumindo, não podemos alterar nossos genes, mas o nosso comportamento e o nosso estilo de vida podem determinar como e quando eles são ativados, o que pode impactar diretamente nossa saúde. É aí que entra a meditação.
Redução de processos inflamatórios
Uma pesquisa conduzida por cientistas da Espanha, da França e dos Estados Unidos (2014) concluiu que a prática constante da meditação ameniza a atividade de alguns genes associados a inflamações, como RIPK2 e COX2. Isso significa que um pensamento e um comportamento de calma e concentração (alcançados pelo estado meditativo) não alteram esses genes, mas podem amenizar a sua manifestação, reduzindo as dores.
O estudo foi considerado muito promissor pela comunidade científica, pois foi uma primeira demonstração de como fatores ambientais – como o estilo de vida – podem alterar o funcionamento de nosso organismo, inclusive promovendo uma recuperação física acelerada após vivências estressantes.
Fortalecimento do sistema imunológico
Outra vantagem que a meditação proporciona nos processos de cura e reabilitação da saúde diz respeito à imunidade. É sabido, por exemplo, que os momentos de estresse (ou um estilo de vida estressante) podem enfraquecer o sistema imunológico, que é o nosso sistema de defesa contra “invasores” que causam doenças, como vírus, bactérias e protozoários.
Um estudo realizado na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, concluiu que, em momentos de prazer e bem-estar, a enzima telomerase (associada ao sistema imunológico) tem sua atividade ampliada. A prática meditativa, segundo o estudo, é uma das atividades em que esse processo acontece, fortalecendo a defesa do organismo das pessoas que a praticam.
A cura do câncer?
Entre os cientistas, há divergências se de fato a meditação pode ou não curar problemas de saúde. Os mais otimistas lembram-se de estudos que concluíram que a alimentação e o estilo de vida saudável de fato reduzem a manifestação dos genes associados ao desenvolvimento do câncer. A meditação estaria entre as atividades componentes desse estilo de vida saudável.
Os mais conservadores, por sua vez, não acreditam que a prática possa de fato curar alguém, mas pode participar (como terapia complementar) do tratamento de doenças, inclusive do câncer. Isso acontece por conta de pesquisas sobre o chamado “efeito placebo”, que têm reforçado a ideia de que a atitude do paciente tem uma grande influência sobre sua capacidade de recuperação de doenças.
Outros benefícios da meditação
Além dos benefícios acima, que são mais associados à saúde física, existem vários outros que são proporcionados pela prática regular da meditação:
1. Memória e aprendizado
Pesquisas têm comprovado que a meditação combate o envelhecimento das células cerebrais e fortalece as conexões neurais. Por conta disso, as áreas do cérebro responsáveis pelos processos de aprendizagem ficam mais ativas. Isso torna o aprender mais fácil, pois o raciocínio e as nossas capacidades de visualização e tomada de decisões são mais desenvolvidas.
Além disso, outras capacidades são melhoradas com a meditação, incluindo a memória, o raciocínio lógico, a criatividade, a comunicação, entre outras.
2. Redução do estresse e da ansiedade
Esse é, provavelmente, o benefício mais conhecido sobre as práticas meditativas. Meditar consiste em separar alguns minutinhos do seu dia para focar sua mente exclusivamente no momento presente. Em longo prazo, essa prática produz um estado de maior serenidade e equilíbrio emocional.
O estresse e a ansiedade são caracterizados pelo excesso de pensamentos relativos a preocupações, que transitam pela mente em alta velocidade. A meditação ajuda as pessoas a não “embarcarem” nesse furacão de pensamentos, mantendo a calma e procurando racionalizar as ideias.
3. Envelhecimento cognitivo “atrasado”
Com o passar dos anos, algumas áreas do cérebro diminuem gradativamente e reduzem suas atividades. É o caso do córtex pré-frontal – associado às nossas capacidades de concentração e de raciocínio lógico – e do hipocampo – associado às nossas memórias.
Uma pesquisa realizada na Universidade de Harvard, no entanto, concluiu que, nas pessoas que realizam meditação de forma constante, esse processo de envelhecimento cognitivo, ou seja, de redução dessas atividades mentais, é muito mais lento do que nas pessoas que não meditam.
4. Concentração
Meditar, ao contrário do que muita gente pensa, não significa “não pensar em nada”. Na verdade, meditar é escolher um foco para concentrar seus pensamentos, como a posição de seu corpo no momento ou sua própria respiração.
Com o tempo e com a prática, fica mais fácil mantermos a concentração no foco escolhido, diminuindo a ocorrência de pensamentos de distrações. Dessa forma, a prática frequente facilita nossa capacidade de concentração também em outras áreas da vida, como nos estudos e no trabalho.
5. Melhores tomadas de decisão
Por fim, a meditação possibilita que tomemos decisões mais certeiras. Como uma consequência natural dos itens anteriores, uma mente com equilíbrio emocional e ampliadas capacidades de concentração terá mais facilidade de tomar decisões que de fato conduzam o indivíduo aos melhores resultados.
Isso acontece porque a meditação nos leva a um estado de clareza mental, em que aquela nuvem de pensamentos confusos se dissipa, mantendo a mente mais organizada. Com os pensamentos em seus devidos lugares, fica mais fácil avaliá-los e tomar decisões.
Concluindo
É difícil afirmar categoricamente se a meditação de fato tem o poder da cura ou não. Contudo, não se pode negar que as pesquisas científicas têm chegado a resultados cada vez mais promissores no que diz respeito à prática.
Nenhum tratamento médico deve ser interrompido ou substituído apenas pela meditação, mas ela pode sim ser uma grande aliada complementar, nem que seja para que o paciente tenha mais equilíbrio emocional e resiliência para lidar com seus problemas de saúde.
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