Texto por José Roberto Marques e Padre Jovandir Batista
A oração é uma prática dos grandes líderes religiosos, sejam quais forem as suas denominações. É muito exercitada para iniciar um dia de atividades ou uma atividade específica, após um dia de trabalho, em momentos de retiro e antes ou depois de tomadas de grandes decisões.
Vejamos Abraão.
Na história de Abraão, há um momento interessante quando ele está sentado na entrada da tenda, em pleno meio-dia, e recebe a visita de três estrangeiros, três anjos. Dentre aqueles três, Abraão vê aquele que é único, o Senhor. Diz o Gênesis que, quando Abraão viu três homens
de pé, correu ao encontro do Senhor e disse: “Meu Senhor, se mereci teu favor, peço-te, não prossigas viagem sem para junto a mim, teu servo” (Gn18,3). E Abraão apressou-se a juntar-se a Sara na tenda, onde prepararam uma refeição. Depois ele permaneceu em pé, junto deles, sob a árvore,enquanto eles comiam.
Outra etapa na meditação de Abraão é quando ele viu o que ia acontecer com Sodoma. A cidade ia ser destruída. Abraão teve essa visão, que também pode ser a nossa: se continuarmos a viver como nós vivemos, podemos ter o pressentimento de que este mundo vai desaparecer.
E aí a atitude de Abraão é interessante, porque não é uma atitude de julgamento. Ele não diz: “Bem feito, eles vão colher o que semearam”. Ao contrário, Abraão intercede pela vida de seu povo fazendo uma negociação (ele era comerciante): “Se houver 50 justos nesta cidade o Senhor vai destruir os justos com os malvados?” Pouco a pouco o número de justos vai diminuindo. “E se houver 10 justos nesta cidade o senhor vai destruí-la?” (Gn 18,22-33). Orar como Abraão é interceder pelas pessoas. Essa forma de meditação livra o coração de todo julgamento e de toda
condenação; ela apela para o perdão e para a bênção, sejam quais forem os horrores ocorridos. Isso nos releva a importância da oração.
Existe ainda outra etapa na meditação de Abraão, a oração do coração. É quando ele sobe com o seu filho Isaac em direção à montanha. Abraão está disposto a sacrificar seu próprio filho. Meditar como Abraão é ser capaz de total despojamento, de si e do que se tem de mais caro. Dar à
vida aquilo que a vida nos deu, dar ao amor aquilo que o amor nos deu. Nada nos é devido, tudo nos é dado. Diz o Gênesis que, quando Abraão toma a espada para imolar seu filho, “O Anjo disse: ‘Não estendas a mão contra o menino e não lhe faças mal algum.’” (Gn 22,12). Portanto, não
se tratava de destruir o que quer que fosse, sobretudo o que lhe era tão precioso. Assim, a espada não devia cair sobre Isaac, mas sobre a ligação entre Abraão e Isaac. Não se trata de se agarrar, mas de desamarrar essa ligação; às vezes, cortá-la, para dar ao outro a sua liberdade, dar a nós
mesmos a nossa liberdade; alcançar e permanecer nessa qualidade de amor é que torna o outro livre e que nos torna livres. Os antigos dizem que, quando Abraão subia ao topo da montanha, ele pensava em seu filho e, ao descer, ele pensa no filho que Deus lhe deu. Essa é uma experiência que podemos viver no coração por meio da oração.
Vejamos Moisés.
Moisés foi reconhecido mais como um vidente do que um meditador. A meditação não era habilidade sua, porém isso não o exclui daqui como uma importante referência. Como líder, homem da escuta da voz de Deus, da obediência, do desapego, da doação, temos muito a
aprender com Moisés.
Após ser salvo das águas do Nilo ainda bebê, crescer dentro do palácio do Faraó do Egito, aos cuidados da princesa, ao ver o sofrimento dos seus irmãos hebreus, Moisés foge para o deserto, onde se encontra com a família de Jetro e se casa. Tem uma maravilhosa esposa, com quem tem um filho. Sem dúvidas, um homem privilegiado diante dos muitos obstáculos da vida. Mas Moisés se afligia por uma inquietação, sentia que tinha uma missão que ainda não descobrira qual era. Sentia que alguém precisava dele, porém não entendia quem era esse alguém.
Chega o dia. Os sentimentos de Moisés se confirmam. Era Deus quem falava com ele. Porém Moisés não conhecia Deus. Deus o chama, se apresenta e envia Moisés para a sua missão.
Após muita argumentação com o faraó, ser tido como louco por seus irmãos hebreus, outras tantas conversas com Deus, o povo sai em retirada do Egito, tendo à frente Moisés. Atravessa o Mar Vermelho numa árdua caminhada pelo deserto. A missão é muito desgastante. Moisés nunca
entendera bem os motivos de Deus de tê-lo escolhido. E, após anos de caminhada, Moisés recebe as tábuas da lei no Monte Sinai.
Agora vejamos Jesus. Seus 7 significativos momentos:
1º O chamamento dos Apóstolos – “Naqueles dias, Jesus foi à montanha para orar. Passou a noite toda em oração a Deus. Ao amanhecer, chamou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos
quais deu o nome de apóstolos” (Lc 6,12-13);
2º A confissão de Pedro – “Jesus estava orando, a sós, e os discípulos estavam com ele. Então, perguntou-lhes: ‘Quem dizem as multidões que eu sou?’ (…) ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’” Pedro tomou a palavra e respondeu: ‘O Cristo de Deus’” (Lc 9,18-20);
Simão, Simão! Satanás pediu permissão para peneirar-vos, como se faz com o trigo. Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, ampara os teus irmãos (Lc 22,31-32)
3º A transfiguração – “Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago e subiu à montanha para orar. Enquanto orava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou branca e brilhante. Dois homens
conversavam com ele: eram Moisés e Elias. Aparecendo revestidos de glória e conversavam sobre a saída deste mundo que Jesus iria consumar em Jerusalém. (…) desceu uma nuvem que os cobriu
com sua sombra. (…) da nuvem saiu uma voz que dizia: ‘Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-o!’” (Lc 9,28-36);
4º Hino de júbilo – “‘Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar’. E voltando-se para os discípulos, disse-lhes: ‘Felizes os olhos que veem o que vós estais vendo! Pois eu vos digo: muitos profetas e reis quiseram ver o que vós estais vendo, e não viram; quiseram ouvir o que estais ouvindo, e não ouviram’” (Lc 10,21-24);
5º A transmissão da oração – “Um dia, Jesus estava num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: ‘Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos’.
Ele respondeu: ‘Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu Nome; venha o teu Reino…’” (Lc 11,1-2);
6º A oração no Monte das Oliveiras – “Orai para não cairdes em tentação”. Então, afastou e, de joelhos, começou a orar. ‘Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a
minha vontade, mas a tua!’. Apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia. Entrando em agonia, Jesus orava com mais insistência …”
(Lc 22,40-44);
7º A oração no alto da cruz – “Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem” (Lc 13,34a); “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). A oração se fez essencial ao discernimento de Abraão, na liderança de Moisés e na Boa Nova de Jesus. A Igreja se estruturou
na mística orante dos padres do deserto, dos monges e monjas enclausurados nos mosteiros; na simplicidade do terço aos pés da imagem de Maria com seus mais variados títulos, dos padres
em suas paróquias; na caminhada dos religiosos e religiosas, enfim, na prece simples de cada fiel, nas mais diversas maneiras de dobrar os joelhos e fechar os olhos para conversar com Deus,
protetor e santificador.
Busque sempre a oração e sinta a voz de Deus chamando você.
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