Texto por José Roberto Marques e Padre Jovandir Batista
Metáfora é uma figura de linguagem, uma palavra ou uma expressão cujo sentido não é muito comum, que revela uma relação de semelhança entre dois significados. Do latim, “meta” significa “algo”, e “phora” significa “sem sentido”. A palavra “metáfora” foi trazida do grego, remetendo a à
ideia de mudança e transposição.
É utilizada como comparação de palavras; uma, de determinado sentido, é substituída por outra. Ao dizer “o meu amigo é um touro, levou o móvel pesado sozinho”, obviamente, o amigo não é um touro, um animal, é uma pessoa em quem se pode observar características próprias de um touro, como a força e a robustez. Nesse exemplo, existe a comparação implícita entre a força do animal e do indivíduo. Houve a substituição de uma palavra por outra através de uma relação de analogia.
Toda essa explicação vem do campo linguístico. Com certeza você aprendeu sobre metáforas quando estudava língua portuguesa na escola. Contudo há outro uso para a figuração metafórica que também está no campo da linguagem, mas que não diz respeito a uma comparação
construída dentro de uma frase. É que as metáforas também são pequenos textos motivacionais, exortativos, que conotam algum aprendizado, como as parábolas no contexto bíblico, muito utilizadas por Jesus para transmitir seus ensinamentos.
Mais recentemente, as metáforas passaram a ser bastante utilizadas como um procedimento da metodologia de treinamento comportamental, como no Coaching Ericksoniano e na Programação Neurolinguística —PNL, para acessar as memórias das pessoas. Por meio das metáforas,
do ato de contar histórias e de ouvir figurações, como bem sabia o próprio Jesus, nossas mentes assimilam lições mais facilmente, espontaneamente, mesmo sem perceber. Isso ocorre porque, ao ouvir histórias que não competem a diretamente, relaxamos, desarmando-nos de medos ou ideias preconcebidas, deixamos então a mensagem fluir diretamente para o subconsciente.
Em seu livro Treinando com PNL, Joseph O’Connor nos conta como uma metáfora pode ser útil numa situação cotidiana ajudando uma pessoa em questão de segundos. Ele narra que, certa vez, se encontrava numa loja de conveniências escolhendo revistas quando começou a escutar uma
senhora que falava em tom dramático com o vendedor. Ela descrevia, muito nervosa e exaltada, um assalto que havia sofrido e o quanto havia ficado traumatizada com a experiência.
Joseph se aproximou e, interrompendo a senhora, contou o caso de uma amiga: “Sabem, minha amiga havia sido surrada dentro de sua própria casa e não conseguia tirar o incidente da cabeça, falando de seu sofrimento a todos que encontrava. Então, algumas semanas depois, ao
perceber o que vinha fazendo, disse: ‘Levar uma surra já é bastante ruim, mas raios me partam se eu vou lhes dar a satisfação de arruinar minha vida por isso.’ E, a partir dali, ela decidiu tirar o caso da mente e esquecê- lo completamente… Pode me dar um exemplar desta revista, por favor?” O autor conta que a senhora calou-se, ficou com o olhar um pouco perdido, o seu estado mudou, e ela saiu da loja calmamente.
Então, ele já ia saindo com sua revista quando outro cliente da loja, que observava tudo, sorriu e lhe disse: “Bom trabalho!”
A propósito, lembrei-me da história de José. Um menino que nasceu com um problema nas pernas que o fazia caminhar com dificuldade. Seus amigos na escola corriam para todos os lados, e ele tristemente não conseguia acompanhá-los. Certo dia foi admitido um novo aluno na
escola. Este, sim, tinha sérios problemas para andar. Ele mal conseguia chegar até a cantina na hora do lanche. Observando aquela situação ainda mais penosa que a dele, José compadeceu-se do novo aluno e começou a acompanhá-lo, caminhando pela escola ao seu lado todos os dias. Ele o estimulava a segui-lo mais rapidamente, fazendo brincadeiras, até o dia em que, sem perceberem, estavam correndo ao redor da grande figueira do pátio da escola. E sabe o que mais? Logo ninguém mais os alcançava no pega-pega. Soube-se depois que ambos sofriam de um tipo de atrofia muscular, cuja cura consistia exatamente em colocarem-se em constante movimento para desenvolverem a habilidade de correr.
Conte metáforas sempre que quiser ser bem entendido nas suas mensagens. Ajude as pessoas a saírem de suas dificuldades por meio das metáforas.
As metáforas são utilizadas nos processos de Coaching, em especial na modalidade ericksoniana, como uma das formas de comunicação com o coachee. E, se na linguagem convencional a metáfora já desfruta de uma posição privilegiada como peça para comunicação entre as partes,na linguagem ericksoniana isso não poderia ser diferente.
Estudo Milton Erickson há quase vinte anos e desenvolvi boa parte das minhas mais poderosas técnicas de treinamento a partir de suas teorias. O uso das metáforas foi o principal eixo de construção do Coaching Ericksoniano, hoje uma das mais procuradas formações no Instituto
Brasileiro de Coaching — IBC.
Como um apoio à comunicação, a metáfora tem o poder de condensar um sentido complexo figurado em uma ideia simples, que talvez não conseguiríamos explanar nem em horas de explicação tradicional. As metáforas têm a capacidade de suavizar ou potencializar o significado de
uma determinada “lição”, tem também o poder de induzir o inconsciente a uma viagem dentro dos próprios selfs, de modo a alcançar níveis profundos de aprendizagem, cura, transformação e ressignificação.
Recorrer a metáforas é também um excelente recurso para que o coachee não se esqueça da mensagem recebida. Nossa tendência a recordar metáforas e alegorias é imensamente maior do que para lembrar conversas lógicas, que falam apenas ao self 1. Quando metaforizamos,
portanto, estamos dando para o coachee a chance de ter, em mente e sempre à mão, uma ferramenta que lhe permita falar a língua do seu próprio inconsciente.
O objetivo geral do uso da metáfora é dar relevo a uma história por meio de figuras que provoquem novas condutas, emoções e reflexões no coachee. Como uma síntese, ela condensa os elementos relevantes e essenciais, deixando em segundo plano os latentes, não explícitos. Seu uso corriqueiro, nas artes, na estética, na poesia, na religião e nas diversas formas de comunicação já tentadas pelo ser humano, não atrapalha, contudo, um aspecto que Erickson tinha em mente: as metáforas têm
uma dimensão profundamente terapêutica.
Metáforas, então, são histórias. Quanto a histórias, não há resistência. Ninguém resiste a belas histórias. Por isso, as metáforas atravessam todas as barreiras e chegam ao nível mais profundo de comunicação que duas pessoas podem atingir. Milton Erickson nos ensina que a hipnose
é uma comunicação entre inconscientes, e a metáfora é um excelente signo para essa maneira especial de comunicação.
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