Se há uma verdade que não pode ser refutada, é que nós somos seres integrais. Isso significa dizer que temos luz e temos sombras, ou que carregamos o bem e o mal dentro de nós. O mal, nesse caso, é algo muito relativo e deve ser visto de forma filosófica.
Engana-se quem acredita que é preciso desenvolver apenas o lado luz. Não é possível viver apenas essa nuance; tão pouco incorporar apenas a sombra e comportamentos errôneos e destrutivos. Luz e sombra precisam trabalhar juntas para que cada pessoa seja alguém real. Isso é o que
nos dá maior bom senso, pois ninguém é só bom ou só ruim. Por isso, o erro maior está em tentar esconder o lado sombra e se esforçar para mostrar apenas lado positivo de nossa personalidade.
Nas constelações isso é algo de uma importância enorme: não fazer julgamento das ações humanas. O que aconteceu, aconteceu. Podemos trabalhar os efeitos de cada ação, mas não as julgar como boas ou más. Não há, na vida, o mocinho e o vilão. Cada um se constituiu a partir do que a vida lhe proporcionou e de como sua mente e alma entenderam cada evento de sua vida.
Constelando, aprendemos a lidar com a integridade de cada ser e com a realidade de cada acontecimento. Um assassinato pode ser considerado algo mal. Alguém que assassinou alguém pode ser considerado alguém ruim, maldoso. Não discordo disso, mas pondero que esse ato tão violento, uma vez acontecido, torna-se irremediável. Não há como voltar atrás. O que nos cabe então? Nos cabe lidar com os resultados dessa ação, com aquilo que essa ação provocou no mundo, nas pessoas, nas famílias.
Os “bonzinhos” costumam assumir um papel de vítima. Nos processos sistêmicos devemos rejeitar veementemente a polarização vítima/bandido, bonzinho/malzinho… porque todos nós estamos sujeitos a ocuparmos esse lugar, todos nós temos a dualidade dentro da gente. E é a profunda compreensão dessa verdade que nos leva a construir uma relação tão profunda e transformadora com todas as pessoas que atendemos no Coaching.
Exercer o papel de Vítima, segundo Hellinger, é renunciar a própria responsabilidade para apenas apontar culpados externos. A princípio isso parece correto, mas esse pensamento traz uma falácia perigosa: se nos eximimos de responsabilidade, também renegamos o poder da mudança, só tem poder de mudar e de realizar, aquele que assume seu papel diante de cada fato, emoção e reação presente no mundo.
É por isso que não se pode falar sobre poder sem se falar sobre responsabilidade. O poder vem do reconhecimento do nosso bem e mal, da nossa luz e sombra, ambos são necessários para que o movimento de empoderamento aconteça. As forças das sombras nos fazem agir o tempo todo, mesmo que seja agir para impedi-las de serem maiores que nossa luz.
Pode ser que alguém pense que eu esteja fazendo um “elogio à maldade”, mas é exatamente o contrário. O que quero dizer é que assumindo a realidade de que também somos (ou podemos ser) os “mauzinhos” da história, nos tornamos mais donos de nós, portanto mais empoderados e, portando, mais compreendedores da natureza humana.
No campo quântico da constelação as pessoas, de início, sentem-se muito incomodadas ao revelar que fizeram mal a alguém. O mal foi sempre feito pelo outro.
É o nosso conceito de mal que nos faz ter esse tipo de comportamento. Torna-se muito pesado assumir a culpa por determinadas coisas. Mentimos para nós mesmos que nunca enganamos ou mentimos para alguém. Isso é muito ruim e nos impede de mudarmos, e nos impede também de ver que o “mal” que eventualmente produzimos foi uma ação no mundo que está relacionada a nossa subjetividade.
Devemos abandonar a polaridade bom-ruim.
Somos o que somos, fazemos o que fazemos. Somos humanos e nossa humanidade nos confere a característica da completude. Sermos completos, integrais significa termos em nós todas as potencialidades, todas as forças, todas as energias, todas as dimensões.
Ser integral é uma realidade humana.
A constelação deve fazer as pessoas compreenderem sua integralidade e não terem medo de dizer como agiram diante das pessoas, o que fizeram. É assim que o mapa quântico vai sendo resolvido, alinhado, harmonizado, completado… nas famílias muitas vezes fazemos algo ruim, que prejudica ou chateia alguém. O primeiro passo é compreender que você só fez isso pela sua humanidade, e que se você teve a força para realizar esse ato, você tem dentro de si a força e a energia para fazer exatamente o contrário.
Na constelação sistêmica integrativa não somos nem a vítima nem o vilão. Somos apenas seres humanos construindo o seu mapa de vida.
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