Sempre que nos sentimos tristes ou cabisbaixos, sem vontade nenhuma de levantar em um dia convidativo de sol do lado de fora, acreditamos que algo de mais grave está acontecendo com a gente, além dos costumeiros e frequentes desânimo, preguiça e até mesmo tristeza.
Passa pela nossa cabeça que podemos estar com depressão, mas depressão vai muito além de um simples dia triste e mal dormido. A tristeza por não conseguir atingir determinado objetivo, por se ver cercado por tantas obrigações e quase nenhum lazer ou por estarmos doentes é normal e passageira, assim como felicidade também o é.
Ambos, tristeza e felicidade, se alternam ao longo dos dias e são companheiros dessa luta que também podemos chamar de Vida. Sem a tristeza, não daríamos tanta importância para os momentos de maior alegria. E sem a alegria, viveríamos um eterno dia nublado que chove, molha e não faz nada crescer.
Contudo, precisamos ficar atentos apenas quando os dias nublados parecem não querer ir embora e deixar os raios solares brilharem. A tristeza tem duração limitada, não sendo nada patológica. No entanto, quando a tristeza parece que não vai embora e se torna muito maior que aquilo que a originou, fazendo com que nem nos lembramos quando foi que ela começou, já podemos nos preocupar.
Podemos descrever alguém em estado depressivo como aquele que está sempre no alto de uma montanha, olhando para o abismo que se agiganta a seus pés e que não parece ter fim. O espírito para baixo, o sentimento de inutilidade e culpa, além de um cansaço sem fim fazem parte do dia a dia.
Junto a tudo isso, as noites de sono profundo e regular parecem não existir mais e só se consegue pensar em uma forma de acabar com esse sofrimento, o que leva 15% dos depressivos ao suicídio, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Ainda de acordo com a Organização, a depressão é a quarta principal causa de incapacitação e é possível que 18% da população mundial apresente seus sintomas em algum momento da vida. Segundo estimativas, em 2030 ela se tornará a doença mais comum em todo mundo.
A doença tem uma relação direta com a baixa produção de substâncias como serotonina e endorfina. Elas facilitam a comunicação entre neurônios e são as responsáveis pela sensação de bem-estar que sentimos quando, por exemplo, fazemos uma atividade física, quando estamos entre amigos, ao atingirmos algum objetivo, entre outros.
Para podermos entender melhor como funciona essas substâncias no cérebro, podemos imaginar, por exemplo, que os neurônios possuem uma parte como se fosse uma ponte que liga duas cidades.
Só que nessa ponta, há um espaço que precisa ser ultrapassado, que chamamos de fenda sináptica. Para que a comunicação neural seja bem-sucedida, é necessário que neurotransmissores levem a mensagem de um neurônio a outro.
Na cabeça de alguém diagnosticado com depressão isso acontece da seguinte forma: ocorre uma produção menor de neurotransmissores, o que dificulta a comunicação entre os neurônios e provoca uma sensação de desânimo. O que pode piorar o quadro depressivo é o neurônio absorver as substâncias responsáveis por encaminhar a mensagem, diminuindo o nível de substâncias no cérebro e aumentando a depressão.
Há um grupo de estudiosos canadenses que adicionaram mais uma explicação bioquímica. Segundo a neurocientista Lisa Kalynchuk, da Universidade de Victoria, a depressão pode ter origem na falha do trabalho das mitocôndrias, que são organelas responsáveis por fornecer energia para as células.
Segundo a pesquisadora, quando as mitocôndrias não trabalham da forma correta, a produção de uma proteína chamada reelin é afetada e isso se torna um grande problema, pois essa proteína é responsável por reforçar a comunicação entre as células nervosas. Nesse estágio, a proteína se encontra com os neurotransmissores.
Contudo, sua causa não está apenas na ausência de neurotransmissores. Ela é um conjunto desse fator bioquímico aliado a fatores genéticos, psicológicos e ambientais.
Os fatores genéticos envolvem a carga genética que carregamos dentro de nós. Por exemplo, se nossos pais tiveram ou tem depressão, ou até mesmo se temos um irmão gêmeo com a doença, a probabilidade de a termos também é bem maior.
Os fatores ambientas envolvem os acontecidos da vida. Por exemplo, se possuímos um emprego que nos causa estresse e nos impede de manter atividades físicas ou uma família sem estrutura, temos uma chance maior de desenvolvermos a depressão em comparação a outras pessoas que não apresentam o mesmo quadro.
Isso porque o sedentarismo, estresse crônico, excesso de peso, dieta desregrada, vícios (de todos os tipos, desde cigarro até televisão e internet), podem provocar um aumento na tristeza crônica. O mesmo acontece com a separação, violência familiar, entre outros.
Os fatores psicológicos englobam a forma como vemos a vida e lidamos com as adversidades. Podemos carregar em nossa bagagem uma história de momentos tristes, abandono dos pais, casamentos rompidos, abortos cometidos, entre outros, que deixam sequelas em nosso emocional mesmo que pareça algo superado.
Mas nós nos perguntamos: se pensarmos na teoria da evolução, todas as espécies que vivem hoje passaram por anos de sobrevivências pois tinham mecanismos capazes de se defender das mais diversas adversidades que o meio ambiente apresentava, como a depressão sobreviveu ao longo de milênios?
Existem algumas teorias a respeito de como a depressão, que consegue fazer com que seus portadores cometam suicídio, em alguns casos, sobreviveu à seleção natural. A primeira é dos psiquiatras Anthony Stevens e John Price. Eles acreditam que o papel da depressão no mundo moderno tem relação com o conceito de hierarquia, isto é, um estado emocional negativo facilita a subordinação e a obediência.
Outra teoria nos afirma que o cérebro apresenta uma evolução menor do que a evolução que sofreu a sociedade. A forma como vivemos hoje nos impõe a tomada decisões, a escolha e milhões de responsabilidades que não eram necessárias antes, pelo menos até um século atrás. Por isso, não foram necessárias mudanças mais profundas.
Por fim, pesquisadores da Universidade do Novo México acreditam que alguém com depressão leve consegue encontrar novas alternativas para problemas que pareciam sem solução.
Essas teorias podem nos ajudar a entender o porquê de ela ser uma doença que cresce tanto, mas a principal causa, de acordo com Joan Chiao, da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, é o individualismo.
Todo o progresso social e de transformação tecnológica vieram para mudar a forma como vivemos para nos trazer mais conforto e segurança. Temos tudo o que queremos diante de nossas mãos: podemos pedir comida, podemos comprar qualquer coisa pela internet e chegar em casa (podendo ser mercado, sapatos, roupas, eletrodomésticos, revistas, jornais, entre outros artigos), ver filmes, assistir à nossa banda favorita… ou seja, qualquer coisa mesmo.
Isso nos dá o poder de ter às nossas mãos uma quantidade infinita de conhecimento e informação, o que parece ser uma coisa ótima, e realmente é, mas pode dar ao cérebro humano, o cérebro que parece ser o mesmo daquele usado pelos homens das cavernas, uma oferta tão grande de entretenimento que talvez nos leve ao tédio e nada mais perigoso que o tédio, pois ele é o sinal de que morremos ainda em vida.
Esse individualismo ao qual a tecnologia nos levou nos fez, até mesmo, fazer amigos pela internet, algo que substituiu amizades reais e o contato humano. Tanto que há muitos estudos que associam as Redes Sociais como Facebook, Instagram e Snapchat, ao aumento da depressão no mundo.
 
Copyright: 504503152 – https://www.shutterstock.com/pt/g/stock-asso