A palavra transe sempre assusta um pouco, e isso acontece porque essa palavra sempre esteve associada a conteúdos religiosos e, em geral em contextos negativados socialmente. Mas no nosso caso chamamos de transe todos os processos de foco total que geram respostas da mente inconsciente.

Você já fez ou faz alguma coisa no “automático”? muitas vezes as coisas que fazemos nesse estado automático são um tipo de transe, gerado pela automação de um sistema de aprendizagem que dispensa a racionalização. Outras formas de transe são geradas pelo “flow”.

Se você é coach eu tenho certeza de que você sabe o que é o flow, mas em todo caso, vale explicar que o flow, o fluir, é o resultado de um processo absoluto de foco em uma determinada tarefa. Ao adquirir uma certa perícia em uma atividade, nosso corpo reage de uma maneira orgânica. Isso nos dá uma absoluta sensação de prazer e bem-estar.

Helder Kamei, nosso trainer do IBC e autor do livro “Flow e psicologia positiva”, da Editora IBC, relata o estado de flow a partir da dança de salão.

Ele mostra como, durante a dança, o corpo simplesmente… dança… não há racionalização do processo, mesmo que durante um tempo o corpo tenha “decorado” os passos e a coreografia. O foco total faz com que o processo entre em um nível de automação leve e natural, gerando o fluir.

O estado de flow nos faz esquecer do tempo, do espaço e é gerado pela mente inconsciente a partir do foco total. Logo, quando estamos em estado de flow estamos em um tipo de transe. É um estado diferenciado da nossa mente.

Os transes que mais conhecemos, popularmente são os transes vindos das experiências religiosas e os transes vindos das experiências de hipnoses show. Nos transes religiosos algumas pessoas apresentam experiências espirituais, mas todos nós sabemos que as experiências espirituais só são possíveis porque temos uma mente!

Nas experiências de hipnose show as pessoas são controladas por  um hipnólogo que faz com que ela aja de uma maneira que não agiria naturalmente, como imitando animais, por exemplo.

Todos esses transes têm em comum o fato de que levam nossa mente para um estado além do estado habitual, além do estado de racionalidade e de vigília. No mente alcança outras frequências, muito mais sutis e muito mais elevadas do ponto de vista do desenvolvimento humano.

O transe que ocorre nas situações de Coaching Group ou de seções de constelação são transes em que as pessoas estão acordadas, de olhos abertos ou não, mas não estão sendo controladas por ninguém. Antes, estão recebendo sugestões de uma outra pessoa, e essas sugestões passam a ser aceitas ou não pela mente inconsciente, essa aceitação só é possível quando as sugestões fazem sentido para a pessoa em questão.

As sugestões são espécies de tarefas que enviamos ao coachee por meio da linguagem. Elas podem ser diretas, com o sujeito completamente desperto, ou podem ser indiretas, com uma modulação linguística específica para isso (Se fizer sentido pra você… pode ser que você… talvez você esteja assim ou assado… ).

Quando enviamos uma sugestão ao inconsciente dos nossos coachees não sabemos se eles irão aceitar, mas acreditamos que eles sempre farão o melhor por eles mesmos. Cada pessoa pode chegar em lugares únicos, que jamais chegaram, mas que estão dentro de si mesmas.

O transe ericksoniano, causado por essa indução hipnótica, é uma forma de criar conexão entre memórias, entre conteúdos aprendidos ou conexão entre o que está dentro e o que está fora, ou seja, uma conexão entre a sua subjetividade e o campo de constelação, criando um “campo coletivo” de ação. No transe, ou no ápice da atenção concentrada entre os dois envolvidos no processo, um entra no mundo do outro, sendo flexível e aceitando como ele funciona. Meu inconsciente se conecta com o seu em um campo relacional. Eu te entendo e você me entende.

Eu poderia dizer que ninguém sabe ao certo o que ocorre no processo de constelação ou no processo de psicodrama. Até porque o próprio Bert dizia que a constelação simplesmente “acontece”. Mas o que faz com que tudo faça sentido e que no final a catarse seja suficiente para gerar um novo nível evolutivo é o poder que nossa mente inconsciente tem de se conectar com as mentes inconscientes das outras pessoas envolvidas no processo. E isso só acontece num tipo muito específico de transe.

“Não sei o que aconteceu, só sei que aconteceu…”. Transe.

É importante dizer que transe não é o mesmo que sono. Ele pode acontecer com olhos fechados, mas também com olhos abertos. No transe, você está ausente do mundo exterior, mas está completamente desperto para si mesmo. Está absolutamente acordado para seu interior.

O transe, a indução, o uso das metáforas, enfim… a linguagem ericksoniana nos permite falar sentindo. Sentir fisicamente as dores e sensações do outro. A linguagem ericksoniana é sensorial, ela promove uma reação sinestésica, é por isso que tanto o coachee quanto o coach estão no mesmo processo e não há um controle de um sobre o outro. Na verdade, não se comanda ninguém, as pessoas se permitem. No processo de hipnose ericksoniana e, por conseguinte, no processo de Coaching.

Sobre o transe, Paul Adler, um dos mais célebres pupilos de Milton Erickson diz que:

Quando você está em um transe mais completo você tem cada vez menos consciência do mundo externo e cada vez mais consciência dos níveis mais profundos de você mesmo. Quando você está em um transe mais leve você tem mais consciência do mundo externo e apenas alguma consciência do seu mundo interno.

Parece mágica, mas é ciência.

 

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