Empresas são os resultados de pessoas. Acredito nesta máxima, pois diferente de muitas correntes ainda vigentes, sou completamente a favor do processo de humanização das organizações, pois conheço profundamente os inúmeros benefícios que ele traz a todo o sistema empresarial. Contudo, se hoje vemos muitas empresas caminhando na direção de humanizar as relações, por muito tempo a visão foi completamente oposta a isso.
No começo do século XX, inspirado pela Teoria Clássica da Administração, desenvolvida pelo engenheiro francês Jules Henri Fayol, o trabalhador era visto apenas como mão-de-obra, uma espécie de ativo que servia única e exclusivamente para atender os objetivos e interesses financeiros da organização. O Fayolismo defendia um sistema de gestão, de cima para baixo, onde os líderes deveriam ter total comando sobre todos os processos de gerenciamento e os funcionários, a eles, completa obediência.
Em contraposição a esta visão unilateral de Fayol, surgiu na década de 20, a Escola das Relações Humanas, que por sua vez defendia uma maior humanização do trabalho e dos trabalhadores no ambiente organizacional. Na prática, este importante movimento pregava a valorização e o reconhecimento do trabalho e dos profissionais que atuavam na empresa e dava a eles mais direitos e espaço para colaborar com o crescimento contínuo da organização.
Esta mudança na forma de pensar os negócios influenciou diretamente na criação do que conhecemos hoje como: Gestão Humanizada. Esta filosofia defende ações mais concisas, orientadas, organizadas e específicas de: motivação, capacitação, treinamento e desenvolvimento, engajamento, inclusão, retenção e valorização dos colaboradores.
Uma empresa humanizada é, então, aquela que valoriza os seus e preza por um bom ambiente de trabalho e que tem como objetivo a satisfação de todos e não apenas dos seus proprietários, investidores e acionistas. São organizações que promovem a qualidade de vida no trabalho, a progresso das pessoas, a diminuição das desigualdades de gênero, raça, origem ou credo e que contribuem ativamente para o desenvolvimento e evolução contínua dos seus componentes.
Este modelo humanizado propõe que as organizações sejam mais conscientes do seu papel no mundo e, portanto, estejam também mais atentas e abertas às mudanças no que tange o relacionamento com seus profissionais, clientes e sociedade. O trabalhador deve ser visto de modo sistêmico, ou seja, suas necessidades: psicológicas, físicas, emocionais e sociais também devem ser compreendidas e consideradas pela empresa.
Em outras palavras, os colaboradores sempre desejaram mais que um salário ao final do mês, o que desencadeou, ao longo do século XX, vários importantes movimentos que reivindicavam e defendiam os seus direitos (a exemplo da carga horária de trabalho) entre muitos outros que foram reivindicados e conquistados depois de então.
A partir daí, estes assuntos começaram a fazer parte da dinâmica organizacional, visando sempre a melhoria contínua da qualidade de vida do capital humano no trabalho. Estas ações até hoje vêm influenciando grandes melhorias neste sentido, bem como a inserção nas organizações de metodologias eficazes e positivas, como o Business Coaching, que apoiam exatamente as empresas neste processo de humanização.
CARACTERÍSTICAS E DIFERENCIAIS DE UMA EMPRESA HUMANIZADA
Uma empresa só é humanizada se realmente cria ações práticas nesta direção. Não adianta afixar na parede ideias bonitas para ilustrar a sua missão, pregar determinados valores ou escrevê-las apenas nos manuais da organização. Gestão Humanizada se faz por meio de condutas e atitudes específicas que mostram na prática aos stakeholders que a empresa valoriza o seu trabalho.
Quando isso é feito de forma autêntica e justa, os profissionais sentem-se verdadeiramente pertencentes à organização, parte de algo maior, o que faz com que queiram retribuir espontaneamente às suas ações. No dia a dia, isso me mostra por meio de equipes mais: engajadas, felizes, motivadas, comprometidas, criativas, sintonizadas e produtivas.
Neste sentido, para que possa identificar o perfil de uma empresa humanizada, eu quero compartilhar algumas características que apontam para isso. Confira:
- Consideram sua Cultura Organizacional como sendo seu grande diferencial competitivo e um patrimônio que todos devem cuidar e defender.
- Conectam-se com seus clientes num nível mais profundo e humanizado e, estes, por sua vez, são verdadeiramente apaixonados pela marca.
- Sua Missão, Visão e Valores são congruentes com a proposta de valorização das pessoas e, por isso mesmo, vão muito além do objetivo de promover apenas ganhos financeiros.
- Possuem uma cultura empresarial consistente, firme, porém aberta e perfeitamente adaptável e flexível às mudanças de mercado e mundo.
- Investem menos em ações de marketing e publicidade e mais no atendimento, satisfação e retenção dos seus clientes.
- Os salários dos líderes não são exorbitantes, nem apresentam uma grande disparidade em relação aos demais funcionários.
- Os interesses da empresa estão sempre alinhados com os interesses dos seus stakeholders. Na prática, isso cria um ambiente conciliador, de ganha-ganha, onde organização, investidores, funcionários, clientes e sociedade se beneficiam mutuamente.
- Os salários, bônus e benefícios que a corporação oferece à sua equipe são melhores do que os de seus concorrentes no mercado.
- Cultiva uma política de portas abertas, onde os colaboradores, independente de sua posição na hierarquia, podem contribuir com suas ideias e sugestões para a melhoria contínua da empresa.
- Buscam oferecer sempre a melhor experiência de compra aos seus clientes. Para isso, treinam e empoderam seus profissionais a que estejam 100% comprometidos com a satisfação dos seus compradores.
- O turnover (rotatividade de pessoas) é bem mais baixo do que o das empresas que não adotam a política de humanização.
- Respeitam as leis e colaboram para que elas sejam cumpridas.
- Têm uma visão abrangente e positiva do mundo, das pessoas e mercados. Por isso, são visionárias e inovadoras, enxergando muitas possibilidades de expansão por meio do crescimento das pessoas.
- As empresas investem mais tempo e dinheiro no treinamento, desenvolvimento e capacitação dos seus funcionários, qualificando sempre sua mão-de-obra e oferecendo crescimento contínuo aos seus profissionais.
Uma empresa que tem como um pilar os processos de humanização se diferencia especialmente por ter como valor a vida humana. Essas empresas dificilmente têm processos trabalhistas e sua imagem no mercado é sempre boa e valiosa. Constituem-se em lugares de convivência e buscam um mundo melhor para seus colaboradores e para as demais pessoas, antes mesmo do lucro – uma vez que o lucro pelo lucro significa a ausência completa de propósito e, por conseguinte de humanização.
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