Em Antioquia, os discípulos foram, pela primeira vez, chamados com o nome de “cristãos” (At 11,26c).

Ser cristão quer dizer ser como Cristo ou ser igual a Cristo. Isso requer que façamos a vontade do Pai por meio do ato de fé. Fé de que Deus pode libertar a pessoa do poder do pecado, de maneira que a sua vida aqui na Terra possa ser agradável a Deus. A pessoa que se entrega a Deus por meio do filho Jesus Cristo é um ser cristão. Como cristão, pratica a justiça e busca a harmonia esperada por Deus no mundo.

A primeira missão do cristão é o primeiro anúncio, isto é, o querigma. Ao longo da história, coube aos cristãos assegurarem que a Boa Nova de Jesus Cristo estava sendo passada passando à frente sem perda da sua essência. O cerne da mensagem cristã, o querigma, não pode ser desfigurado pelas diferentes e novas ideologias surgidas com as mudanças de época. Como escudo diante de aos diferentes desafios, o cristão tem a cruz, que é a sua identidade de fé. A cruz que se fundamenta no Deus Pai, Filho e Espírito Santo.

Uma cruz viva, forte, caracterizada pela doação, pelo amor incondicional. Veremos isso um pouquinho mais adiante neste capítulo quando refletiremos sobre a Trindade. Assumir a Trindade, isto é, a cruz, é dar sentido à nossa existência como filhos, somarmos como irmãos e evoluirmos como seres dotados de dons, talentos e disposição diferenciada em relação a tudo mais que existe no Universo.

Portanto, ser cristão é acolher o chamado que Deus nos faz para viver com intensidade a vida, como refletido na primeira parte deste livro, acolher bem a natureza, o jardim do Éden, com tudo de bom que há nele, dado pelo Criador. Assumirmos, como seres diferenciados em relação às demais criaturas, o cuidado com a obra do Criador.

Devemos utilizar da nossa capacidade de inteligência e criar boas ferramentas, como a religião, para proporcionar equilíbrio quanto aos diferentes modos como as pessoas concebem as graças de Deus sobre elas. Há pelo mundo pessoas se posicionando que ser cristão é ser diferente, discordo, pois, se fazemos o que é próprio de nossa natureza como imagem e semelhança do Criador, vamos simplesmente fazer aquilo que é natural a nós, e não o que é diferente. Talvez caiba a pergunta: diferente em relação a quê? Em não concordar com o mal? Sim, somos diferentes.

Em relação a achar que tudo é normal? Sim, somos diferentes. Em relação a outras religiões como a judaica e islâmica? Enquanto doutrina, sim, mas enquanto busca do mesmo Deus, não.

Cristianismo, Judaísmo e Islamismo, enquanto essência religiosa, professam a fé no mesmo Deus. Lembra-se do que refletimos no capítulo II, na seção “Exame de Consciência”, quando citei o professor Mário Sérgio Cortella trazendo o episódio ocorrido numa maratona em 2012, na Espanha, onde um atleta, Ivan Fernández Anaya, surpreendeu o público com um ato que causou estranhamento e admiração? Cortella cita a pergunta de um jornalista: “Por que você fez o que fez?” E o atleta espanhol pergunta: “Fiz o quê?” Ele não entendeu a pergunta, porque tinha valores e condutas para os quais tal pergunta não fez sentido.

Essa atitude deixa bem claro o que é ser cristão: agir com valores e conduta coerentes com aquilo ao qual fomos criados. O jornalista, por sua vez, ao fazer a pergunta, age com diferença e nos traz a compreensão do quanto muitas pessoas estão desconhecedoras do que é ser cristão. Foram atitudes assim que puseram fim às muitas atrocidades sangrentas pelas arenas do Império Romano, como as que sabemos pela história acontecidas no Coliseu. Foram três séculos de muito derramamento de sangue desde a origem do Cristianismo.

Estima-se que mais de dois mil cristãos foram mortos pelos gladiadores ou pelas feras famintas. Mas o que chamo a atenção ao trazer este fato histórico é que os cristãos sempre causavam comoção às plateias ali vindas e muitas vezes ojeriza e impopularidade ao imperador. Os cristãos procuravam não utilizar de armas, não revidar diante dos adversários, sendo que muitas vezes eram salvos por tais atitudes ou devorados rapidamente por não fugirem das feras.

Atitudes estranhas para aquele povo, movido pela adrenalina do espetáculo, mas que, ao longo do tempo, provocaram a consciência para o que é o verdadeiro sentido da vida. Mas o que chamo a atenção ao trazer este fato histórico é que os cristãos sempre causavam comoção às plateias ali vindas e muitas vezes ojeriza e impopularidade ao imperador. Os cristãos procuravam não utilizar de armas, não revidar diante dos adversários, sendo que muitas vezes eram salvos por tais atitudes ou devorados rapidamente por não fugirem das feras.

Atitudes estranhas para aquele povo, movido pela adrenalina do espetáculo, mas que, ao longo do tempo, provocaram a consciência para o que é o verdadeiro sentido da vida. Assim então, podemos entender que são as muitas atitudes de diferença de pessoas pelo mundo todo, pois agem contrárias à proposta do Criador.

Trapaças, opressões, explorações, indiferenças, roubos, assassinatos etc., são atitudes muitas vezes consideradas normais por serem muito frequentes, compreendidas diante de Deus como atitudes de pecado. Mas ,com o esclarecimento, tomada de consciência do verdadeiro sentido da vida, pessoas que assim consideram têm a oportunidade de retomar o fluxo natural da vida, daí a conversão e salvação. A natureza tem uma ordem, e esta ordem precisa ser compreendida.

Há um sistema muito bem montado, dado por Deus, que precisa ser entendido e respeitado. Garantir a ordem desse sistema é o dever do ser cristão. Convido você a um estudo cada vez mais aprofundado sobre o que é a Constelação Sistêmica. É um estudo maravilhoso, quero escrever sobre este assunto numa oportunidade futura; está intrinsicamente relacionado à ordem sistêmica dada por Deus. Pois bem, em Antioquia, os discípulos foram, pela primeira vez, chamados de cristãos (At 11,26c).

Isto aconteceu porque pessoas, até então desprovidas do primeiro anúncio (querigma), ficaram maravilhadas com esses chegantes, missionários, agora identificados como cristãos. A graça de Deus se expande e cristãos batizados no Cristo Jesus se fazem cada vez mais necessários para chegarem às muitas “Antioquias” pelo mundo.

Nós, porém, proclamamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos (1 Cor 1,23). No contexto dos primeiros cristãos, é compreensível que Jesus Crucificado, isto é, a cruz, seja escândalo para os judeus, o que não significa que isso ainda seja no contexto de hoje. Acredito, diante dos muitos estudos, das muitas compreensões construídas ao longo da história, que podemos superar esse entendimento.

Assim sendo, a cruz pode hoje significar escândalo para pessoas, em diferentes lugares do mundo, que não querem se compromissar com a proposta de Jesus de ser Caminho Verdade e Vida (Jo 14,6). De fato, para tais pessoas a cruz é escândalo, pois significa denúncia de suas atrocidades, das suas incompetências à frente do poder e da hipocrisia de seus discursos. Na realidade geográfica de Israel, no contexto de Jesus de Nazaré, tais pessoas eram, principalmente, os fariseus (manipuladores da lei divina) e os levitas (os que se achavam donos da lei), mas também muitos zelotes (os revoltados que, em nome de Deus, lutavam contra o Império).

Na realidade de hoje, tais pessoas são as muitas que usam a religião para enriquecimento próprio, usam o governo para se perpetuarem no poder, usam o povo para causa própria. São pessoas que têm medo do povo organizado, têm medo da disseminação do bom conhecimento. Sim, para essas pessoas, a cruz é escândalo e qualquer um que se apresente como bom cristão torna-se uma ameaça, alguém que deva ser perseguido e rechaçado pela sociedade.

Levar a cruz para tais pessoas é ser ridicularizado, é ser chamado de louco e alienado. Sim, os cristãos seguem em frente com a consciência de que são fermento na massa, caminhando passo a passo sem hesitar diante das correntes contrárias, aterrorizadoras. O cristão tem consciência de que não é fácil se colocar no mundo para levar em frente uma mensagem que muitas vezes não se faz clara para ele mesmo, embora tenha a certeza de que o que faz é melhor do que qualquer outra grande atração a ele oferecida. Enfim, tem a consciência de que seu caminho é estreito, mas leva ao infinito, enquanto outros caminhos, que se apresentam confortáveis e largos — está mais do que provado — levam a abismos e à perdição.

A vida cristã exige muita responsabilidade, muita consciência diante do caminho a ser trilhado. O trabalho é árduo, exige preparação, exige estudo e muita oração. Mas, quem é cristão de forma consciente, tem a certeza de que, por mais difícil que pareça, é o caminho que garante a verdadeira alegria, a consistência no agir, a certeza de que a vida está realmente sendo vivida com sentido, valendo a pena dia após dia.

Pois o que é loucura de Deus é mais sábio que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte que os homens (1 Cor 1,25).

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