Richard Barret é um dos maiores estudiosos da comunicação nas empresas, e tem como um dos grandes sucessos no Brasil o livro “A organização dirigida por valores”. Barret oferece uma enorme contribuição aos estudos das necessidades humanas e das organizações, dando um novo enfoque ao tema a partir dos estudos de Maslow. Toda organização/empresa se desenvolve em termos de estágios de evolução psicológica.
A teoria da “Hierarquia de necessidades” de Maslow foi o mote criativo para os estudos de Barret, que chamou sua teoria de “Estágios do desenvolvimento psicológico”. A proposta pode ser entendida no mesmo sentido das necessidades humanas, sendo as necessidades de níveis menores, como as três primeiras, a base para suprir as necessidades superiores. Ou seja, as necessidades superiores necessitam que as demais já estejam devidamente resolvidas.
Para Richard Barret “as empresas crescem e se desenvolvem da mesma maneira que os indivíduos”. Do primeiro ao último estágio, tanto empresas quanto pessoas vão do estágio físico ao espiritual, passando pelo emocional e o mental. O estágio físico representa as necessidades mais básicas, superficiais, as relacionadas à sobrevivência (da pessoa, como comer; ou da empresa, como lucrar). No último nível de desenvolvimento psicológico encontramos a espiritualidade, que nos conduz ao nosso legado e o sentimento de servidão.
Empresas e pessoas que caminham pelos sete estágios do desenvolvimento integral, descobrem sua consciência integrativa, aquela que conecta todas as suas partes e promove a congruência. Isso gera lucro, mas gera, sobretudo, senso de significado, para pessoas e para as organizações.
Há uma questão interessante no quarto nível da teoria de Barret. Nesse nível o indivíduo/empresa encontra-se na fase de transição dos níveis inferiores para os níveis superiores. É um degrau do despertar, do insight poderoso que nos leva de
uma situação de vida à outra. Contudo, os níveis superiores não são “mais importantes”, pois eles só conseguem alcançar seu potencial transformador quando todos os demais estão devidamente desenvolvidos.
Pessoas e empresas muito focadas nos níveis inferiores tendem a ter uma boa estrutura física, uma boa estética, lucrar e se comunicar bem, contudo não desenvolvem voos muito altos, porque não têm um objetivo claro e um propósito delineado. Pessoas e empresas muito focadas nos níveis superiores, conseguem produzir muita qualidade em seus conteúdos, em seu propósito. Emocionam pessoas e conseguem engajamento de equipe e clientes, mas falham na gestão administrativa, financeira, organizacional, pela pouca atenção aos níveis mais superficiais. Logo, eles são parte de um mesmo processo.
O nível de consciência que operamos corresponderá ao estágio de desenvolvimento psicológico que alcançamos.
O caminho entre os níveis mais superficiais, de uma consciência tribal e individualista até um nível de consciência que alcance a humanidade é chamada por mim de JORNADA DA ALMA.
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Nível um – Consciência da sobrevivência (física/ material)
O nível inicial trata da nossa consciência de sobrevivência, ou seja, da clareza que temos sobre aquilo que nos permite estarmos vivos. Em uma empresa, o nível da consciência da sobrevivência diz respeito a estrutura física adequada, às finanças – entradas e saídas – o maquinário… enfim, o básico para que ela exista e funcione. Empresas que não evoluem psiquicamente, são tão ávidas pelo lucro que usam pessoas e até os recursos naturais sem nenhum critério, sem nenhuma consciência crítica, pois só importa sobreviver.
Quanto às pessoas, muitas vivem seu dia lutando para ter o suficiente para comer e suprir suas necessidades básicas. Algumas não têm recursos mentais e espirituais para enxergar uma nova situação que não seja essa: sobreviver. Em outro aspecto, muitas pessoas acreditam que coisas como roupas caras e carro do ano são um item de sobrevivência, pois colocam como necessidades básicas itens que não impactam diretamente sua vida.
Nível dois – Consciência de relacionamento ou emocional (conformidade)
Para Barret, depois de uma empresa prover seus recursos básicos para a sobrevivência, deve olhar para as pessoas e os relacionamentos travados por essas pessoas. Sabe-se que uma empresa contrata por habilidades técnicas e demite por questões comportamentais e emocionais. Evoluir nos relacionamentos e no tratamento entre as pessoas é construir um sentimento de pertencimento e aumentar o engajamento.
Relacionamentos maduros na nossa vida também fazem aumentar nossa lealdade e, por sua vez, nossas oportunidades. Sempre ouvi dos mais velhos “quem tem amigos tem tudo”.
Quando cuidamos dos nossos relacionamentos temos a certeza de poder contar com as pessoas, da mesma forma como nos sentimos impelidos a ajudar os demais em prol de um mundo mais justo.
Nível três – Consciência de autoestima ou mental (diferenciação)
Muitos acreditam que a estima por si mesmo é um aspecto emocional, mas na verdade a estima é um efeito da racionalidade, da mente, a estima é construída e não instintiva. A evolução das nossas relações afetuosas é nossa estima por nós mesmos. Empresas que não se valorizam e cujas pessoas não nutram adminiração, tendem a ter um nível de engajamento tão baixo que corre risco de parar suas operações. Em contrapartida, empresas cujos colaboradores têm grande autoestima constroem empresas altamente valorizadas.
No nível de consciência da autoestima, trabalhamos para sermos sempre melhores. Admitimos nossos pontos de melhoria, olhamos para eles abertamente, sem mentir para nós mesmos, e encaramos o processo de evolução contínua. O foco na nossa melhoria, na melhor atuação, no crescimento da competência, a melhor visão de nós, nosso empenho em contarmos sempre a melhor história sobre nós mesmos, acreditando em nosso potencial e despertando nosso poder interno é o foco do terceiro nível de consciência.
Nível quatro – Consciência de transformação ou afetiva (individuação)
O Nível da virada, o nível da passagem para os estágios superiores de consciência, o nível da prova. É nesse nível de desenvolvimento psicológico que tomamos consciência da necessidade da transformação pessoal e organizacional. A necessidade de reavaliar, empresas e pessoas, seus valores, promovendo, sobretudo, o aprendizado e a abertura ao novo.
No nível da transformação entendemos que há níveis mais profundos que não alcançamos, daí temos consciência da nossa limitação e da nossa necessidade de encararmos esse processo. Nesse ponto os níveis inferiores transcendem, a superficialidade perde o sentido, a aparência deixa de ser de importância primária, o lucro pelo lucro não é mais um propósito e passamos a uma identidade pessoal/empresarial. Nesse nível o autoconhecimento assume um novo patamar e as transformações interiores começam a se tornar mais visíveis e mais identificáveis entre as outras pessoas.
Nível cinco – Coesão interna ou Consciência da Organização (autorrealização)
Toda pessoa, assim como toda empresa, é um conjunto de muitas partes. Não há erro maior que tratar as partes como independentes, pois, quando não há um senso de propósito do conjunto, não se chega a um mesmo destino. A consciência organizacional, integrativa, é o primeiro dos três níveis superiores do desenvolvimento psicológico. Assim, esse nível é atingido quando construímos uma congruência profunda, uma conexão para ação sistêmica.
O foco do quinto nível de consciência organizacional é o propósito, pois só pode haver propósito na conexão de nossas partes. Ora, uma pessoa não pode ter um interesse pessoal e um interesse profissional conflitantes. Eu não posso ser um ativista ambiental e trabalhar em uma mineradora que polui os rios. Quando integramos nossas partes nos tornamos mais coerentes e mais eficazes. A coesão interna acontece em nós como um pequeno milagre, pois é extraordinário sentirmos que somos capazes de agir de acordo com o que acreditamos e, em nenhum momento, burlarmos nossos valores.
Nível seis – Consciência de fazer a diferença ou visionário (integração)
Empresas maduras sabem que, para além de lucrar, elas precisam fazer a diferença. Em primeiro lugar fazem a diferença para seus colaboradores, cuidando não apenas de seus salários em dia (uma obrigação), mas sobretudo cuidando do seu bem-estar físico, mental, emocional, sua autoestima e seus desenvolvimentos humano e profissional. A empresa busca também que seus colaboradores encontrem sua realização pessoal, pois só assim podem descobrir o sentido do seu trabalho e principalmente da sua existência.
Integrar-se significa criar uma comunhão com todas as pessoas, com todos os sistemas que regem o universo, significa um profundo atuar para o bem, de forma ativa e comprometida. Fazer a diferença no mundo significa buscar o legado, significa compreender a construção sistêmica do universo e saber que sem um destino nenhum caminho parecerá correto.
Nível sete – Consciência do Serviço, da Sociedade e Sustentabilidade (servidão)
O nível sete está conectado ao nível anterior e é, na verdade, uma expansão dele. Quando atingimos a maturidade psicológica suprema entendemos que estamos nesse mundo para servir. É o serviço que torna nossa vida digna de ser lembrada e, sobretudo, imitada. O maior sucesso que alguém pode alcançar, está na possibilidade de ajudar outras pessoas a alcançarem o sucesso. Quem se preocupa apenas consigo, não constrói, não multiplica, apenas divide.
Avocação para o serviço nos coloca no degrau do reconhecimento. Não que devamos viver em busca do reconhecimento, mas é fato que quando passamos a olhar os outros, ouvi-los e contribuir com suas vidas, construímos um reconhecimento natural.
Imagine que você fosse homenageado em um algum lugar, quem você acredita que faria um depoimento dizendo sobre a sua importância?
Pessoas e empresas devem, sob pena de não construírem um propósito realmente profundo, trabalhar pelos direitos humanos, pelo bem-estar da sociedade como um todo e pela preservação do nosso planeta. Quando pessoas e empresas descobrem que têm oportunidade e possibilidade de serem muito maiores e mais importantes, no sentido mais amplo dessas palavras, elas passam a fazer a diferença por meio do serviço.
O que você faz para que sua empresa seja melhor, sua casa seja mais harmoniosa, para que seus amigos se sintam amados, para que a sociedade seja mais humana e para que o planeta sobreviva a essa onda de destruição?
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