Ubuntu é uma antiga palavra africana existente nas línguas Zulu e Xhosa, faladas na África do Sul, que exprime um conceito moral, uma filosofia, um modo de viver que se opõe ao narcisismo e ao individualismo tão comuns em nossa sociedade atual. Essa palavra que apresenta significados humanísticos como solidariedade, cooperação, acolhimento, generosidade, sempre buscando o bem estar de todos, logo uma sociedade que seja sustentada por esses pilares é uma sociedade que tem como essência a filosofia Ubuntu.
“UBUNTU não significa que uma pessoa não se preocupe com o seu progresso pessoal. A questão é: o meu progresso pessoal está ao serviço do progresso da minha comunidade? Isso é o mais importante na vida. E se uma pessoa conseguir viver assim terá atingido algo muito importante e admirável.” (Nelson Mandela)
Assim como a palavra da língua portuguesa “saudade”, a palavra Ubuntu é difícil de ser traduzida de forma objetiva. Na tentativa de traduzir para o português, Ubuntu significa: “Eu sou porque nós somos” ou, em outras palavras “Eu só existo porque nós existimos”.
Segundo o doutor em filosofia e Psicologia pela Universidade de Stellenbosh (África do Sul), Dirk Louw, não existe o conceito de “ser apenas porque tu és”, mas sim o conceito de “ser por meio de ti”. Para ele, “ser humano significa ser por meio de outros”, sejam estes outros humanos ou não, vivos ou não. Qualquer outra forma de ser seria desumana no duplo sentido da palavra: “não humano” e “desrespeitoso”.
Para um ocidental, a frase “uma pessoa só é uma pessoa por meio de outras” não tem conotação religiosa, ela é apenas interpretada como um apelo para que sejamos capazes de tratar outras pessoas com respeito. Nas tradições africanas, entretanto, essa frase tem um profundo sentido religioso que acaba nos fazendo entender que só somos quem somos graças a nossos ancestrais e, quando morrermos, nos tornaremos novos ancestrais, e sendo assim, não devemos cuidar apenas dos vivos, mas também daqueles que já se encontram no estágio do pós-morte.
A Filosofia do Ubuntu
Na filosofia Ubuntu, as pessoas têm consciência de que o mundo não é uma ilha e que se algo acontece a seu semelhante, todos serão afetados. Acredita-se que uma pessoa é uma pessoa por meio de todos os seres do universo, incluindo a natureza. Essa ideia pode ser traduzida pelo seguinte pensamento: “Eu sou porque nós somos”.
O Ubuntu é um conceito moral, uma filosofia, um modo de viver. Para que uma pessoa do grupo se sinta feliz é necessário que todos se sintam felizes. A conexão que as pessoas têm umas com as outras se estende não somente aos indivíduos vivos, mas também aos ancestrais e aos membros que ainda não nasceram no grupo.
Pode-se dizer que Ubuntu é um sistema de crenças, é uma alternativa para a convivência social embasada em uma filosofia humanista que tem como base o altruísmo, a fraternidade e colaboração entre os seres humanos. Do ponto de vista político, o Ubuntu é usado para enfatizar a necessidade de consenso na tomada de decisões. É a síntese de um provérbio da África do Sul que diz “uma pessoa é uma pessoa por causa das outras pessoas”.
Para o arcebispo anglicano Desmond Tutu, “a minha humanidade está inextricavelmente ligada à sua humanidade”.
“Uma pessoa com Ubuntu está aberta e disponível para as outras, apoia as outras, não se sente ameaçada quando outras pessoas são capazes e boas, com base em uma autoconfiança que vem do conhecimento de que ele ou ela pertence a algo maior que é diminuído quando outras pessoas são humilhadas ou diminuídas, quando são torturadas ou oprimidas.” (Desmond Tutu)
Uma sociedade sustentada por pilares de respeito e solidariedade faz parte da essência Ubuntu.
A educadora sul-africana Dalene Swanson, professora da University of British Columbia, em Vancouver, Canadá, fala o seguinte a respeito do ubuntu:
“Diferentemente da filosofia ocidental derivada do racionalismo iluminista, o Ubuntu não coloca o indivíduo no centro de uma concepção do ser humano. Este é todo o sentido do Ubuntu e do humanismo africano. A pessoa só é humana por meio de sua pertença a um coletivo humano; a humanidade de uma pessoa é definida por meio de sua humanidade para com os outros: (…) o valor de sua humanidade está diretamente relacionado à forma como ela apoia ativamente a humanidade e a dignidade dos outros; a humanidade de uma pessoa é definida por seu compromisso ético com sua irmã e seu irmão.”
Para Dirk Louw, uma sociedade nada mais é do que um grupo ou uma coleção de indivíduos solitários. Essa individualidade, no mundo ocidental, acaba sendo traduzida como sinônimo de competitividade, o que não ocorre na África, onde a preferência é pela cooperação e pelo trabalho em equipe (Shosholoza).
Para Desmond Tutu, uma pessoa com Ubuntu é acolhedora, hospitaleira, generosa e está sempre disposta a compartilhar. A qualidade do Ubuntu dá às pessoas a resiliência que lhes permite permanecer humanas mesmo com tudo que pode acontecer no dia a dia para desumanizá-las.
Através da filosofia Ubuntu, podemos superar diferentes tipos de discriminação, como, por exemplo, aqueles relacionados à cor da pele, religião e opção sexual, uma vez que essa filosofia se opõe a qualquer tipo de discriminação. Pode se dizer que o Ubuntu se traduz na essência do ser humano. Em algumas pessoas esse potencial se manifesta naturalmente, mas na grande maioria de nós, ele precisa ser despertado através de estímulos.
De modo geral, Ubuntu significa compaixão, compreensão, calor humano, respeito, partilha, cuidado, humanitarismo, ou simplesmente AMOR! Esteja aberto e disponível aos outros!