Acredito que você esteja familiarizado com termos como consciente/ inconsciente, self1/ self2, razão e alma… todos esses termos são comuns nas nossas leituras sobre processos de desenvolvimento humano. Sabemos que há em nós uma parte mais acessível dos nosso pensamentos, sentimentos e ações e há uma outra parte mais profunda, que contém pensamentos, sentimentos e ações que não cessamos de forma fácil e controlada.

Na verdade, não sabemos exatamente como os conteúdos que estão na nossa mente inconsciente, na nossa parte mais profunda, são acessados por nós de maneira controlada. Há muitas teorias de várias ciências, algumas convergentes e outras discordantes. Mas o mais importante não é encontrarmos um ponto em comum entre as ciências, o importante é sabermos que toda essa discussão só prova uma coisa: que nossa mente inconsciente existe e que ela atua sobre nós.

Mas porque acessar essa mente inconsciente é tão importante? Basicamente, porque nela estão respostas sobre nós mesmos que

nos ajudam a nos entendermos e a vivermos melhor. Ela nos ajuda

a ‘despertar o nosso poder interior”. Não podemos alcançar níveis extraordinários de desenvolvimento apenas com o conteúdo mais raso e superficial da nossa mente.

A mente inconsciente parecia algo místico, até que a Psicanálise entrou no jogo. Por meio dos estudos dos psicanalistas, passamos a acreditar verdadeiramente nesse lugar chamado mente inconsciente. Esta passou a existir de fato, comprovada cientificamente. Logo, descobrimos que esse lugar intangível tem uma participação direta no nosso bem-estar, na nossa saúde física e, especialmente, psíquica.

Então, para alcançar essa mente inconsciente temos um caminho muito poderoso que adotamos no Coaching, esse caminho é a linguagem ericksoniana, que acabou criando o Coaching ericksoniano. Aqui não quero me demorar muito explicando o que vem a ser isso. Prefiro que você leia meu livro “Coaching ericksoniano” ou faça a formação em Coaching Ericksoniano do IBC. Mas preciso falar um pouco sobre a linguagem ericksoniana, pois ela é um dos dispositivos centrais que permitem a existência desse processo integrativo.

A hipnose ericksoniana (desenvolvida pelo psiquiatra estadunidense Milton Erickson 1901 – 1980) é uma forma revolucionária de terapia desenvolvida por meio do domínio dessa forma de linguagem que vamos conhecer um pouco. Não é à toa que Erickson é conhecido como o maior hipnólogo de todos os tempos. Contudo, quando aplicamos esses conceitos ao ao Coaching evitamos usar o termo hipnose, pois as pessoas tendem a trazer à memória o que chamamos de “hipnose show”, ou seja, aquelas formas quase circenses de usar a hipnose e a sugestão – que definitivamente não é o nosso foco.

A linguagem ericksoniana (base da hipnose ericksoniana) é uma forma séria e consistente de diálogo com a mente inconsciente, aquela parte da nossa percepção mais sensível, delicada e pouco exposta. Essa linguagem é, definitivamente, a melhor ferramenta de comunicação existente.

É para isso que o trabalho de Milton Erickson existe: para que possamos nos comunicar de maneira mais efetiva, falando diretamente com o nosso centro direcionador, nossa mente inconsciente, onde nossos comportamentos e crenças podem ser modificados por meio das sugestões, diretas e indiretas. É o uso dessa linguagem que faz toda a diferença nos processos de constelação e psicodrama.

Quando nos comunicamos com o inconsciente das pessoas elas ouvem sem defesas. Elas não criam barreiras, não contra argumentam. Elas compreendem e aprendem sem o esforço normal exigido pela cognição. É o poder desse modelo de comunicação que usa, principalmente, uma comunicação indireta, por meio das metáforas e sugestões de toda natureza.

A indução por meio da linguagem

A linguagem é o meio pelo qual se propõe um verdadeiro diálogo com o inconsciente. É importante, para isso, compreendermos que tanto a língua quanto todas as demais formas que usamos para nos comunicarmos, é feita por meio de símbolos – a linguagem dos símbolos e sua relação com os conteúdos inconscientes já foram amplamente teorizados por Carl Gustav Jung na sua teoria sobre os arquétipos.

Pela linguagem simbólica lemos a realidade à nossa volta. Os símbolos podem, muitas vezes, não fazer muito sentido para mim ou para você, mas faz sentido para alguém, porque cada pessoa relaciona os símbolos e a linguagem de uma maneira muito particular, muito subjetiva.

Veja por exemplo: pode ser que alguém me conte uma piada e eu ache essa piada engraçadíssima, passe horas rindo da piada que ouvi de

alguém. Em seguida, pode ser que eu conte essa mesma piada para uma outra pessoa e essa pessoa, ao invés de rir da piada que eu contei, fique extremamente chateada e ofendida. Porque é possível que uma mesma piada, ou seja, um mesmo texto, seja engraçado para um e ofensivo para outro?

A resposta está na subjetividade. Cada um, a partir da sua vida, da sua realidade, das suas experiências produz sentidos muito próprios. É assim com toda forma de comunicação. E os porquês dessas diferenças muitas vezes estão nos conteúdos inconscientes.

A linguagem que é inteligível na nossa porção mais racional não necessariamente fará sentido quando ao nosso redor for o irracional a dar as cartas.

Dito isso sabemos então que a linguagem mexe com esses conteúdos inconscientes, adormecidos, pouco conhecidos. Alguém que quer conduzir processos integrativos, processos de desenvolvimento humano, precisa dominar essa linguagem que sugestiona nosso inconsciente para proporcionar experiências realmente significativas para seu público.

Indução é induzir, ou seja, levar alguém a alguma coisa. Por meio da linguagem você induz, leva a… no nosso caso induzimos as pessoas a acessarem esse inconsciente. É a linguagem do coach que produz esse caminho e coloca os coachees ou as pessoas que participam do processo nesse trilho. As pessoas não sabem disso, pois o controle está com o coach. Por isso o processo é inconsciente.

O uso das técnicas que envolvem a linguagem ericksoniana possibilita a mudança de padrões de comportamento, alteração de crenças e valores. Aprendizados produzidos e adquiridos na competência da mente inconsciente, esse lado tão humano e tão incógnito que Erickson se propôs a desvendar, têm muitas vezes uma força para regular nossas vontades, medos, repulsas ou instintos que dificilmente seria alcançada somente com o uso da razão.

A linguagem ericksoniana tem como objetivo maior criar formas de nos relacionarmos com a mente inconsciente, ou seja, transcender o cognitivo e nos dotar de ferramentas que nos permitam transitar pelos meandros do inconsciente. Isso gera cura, aprendizagem e transformação de comportamentos, nos livrando de padrões negativos e da autossabotagem.

Em um processo de constelação, por exemplo, a exposição das relações familiares, se não forem conduzidas por uma linguagem que induza ao processo de cura pode ter, justamente, o efeito contrário. A indução deve ser sempre no sentido da aceitação do outro para que o canal de comunicação esteja aberto. Aceitar o outro e sua forma de pensar, agir no mundo e significá-lo: isso é o resultado da linguagem ericksoniano nesse processo.

Copyright: 1275980239 – https://www.shutterstock.com/pt/g/benjavisa