Para os que eram adolescentes na década de 1960, o nome Lawrence da Arábia é conhecido. Esse é o nome adotado pelo arqueólogo e herói militar britânico Thomas Edward Lawrence, que lutou na Revolta Árabe de 1976 – 1918, após escrever seu livro autobiográfico Os Sete Pilares da Sabedoria, escrito entre 1919 e 1922 e publicado em 1926.
Ele é ao mesmo tempo um livro de memórias de todo o período da guerra contra os turcos, uma descrição histórica de um período importante para a Europa e península arábica, e também uma reflexão autocrítica. Há passagens aos moldes do fluxo de consciência em que o autor se questiona sobre sua atuação e situação, seus sucessos, fracassos e motivos de estar naquele momento vivendo aquele momento. É dessa parte extremamente subjetiva do livro que ele descobre Sete Pilares de Sabedoria.
Os Sete Pilares da Sabedoria são fruto da geniosa atuação de Lawrence como militar. Não apenas suas habilidades como estrategista, mas suas experiências singulares com os povos árabes na situação de guerrilha avalizam seus escritos e seu pensamento. É a partir dessas experiências reais expostas nesse relato biográfico que convido você a refletir também sobre a verdadeira sabedoria.
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Os 7 Pilares da Sabedoria
Primeiro Pilar Da Sabedoria – O Tempo
A Sabedoria tem uma perspectiva madura sobre o tempo, vendo o tempo como o recurso mais precioso de todos. O Tempo fornece o espaço necessário para se fazer escolhas sábias na vida das pessoas e, especialmente, das lideranças.
Sem o tempo devido, as decisões são apressadas e as oportunidades perdidas. A sabedoria também equilibra o passado, presente e futuro. Às vezes é necessário ganhar tempo, fazê-lo aumentar exponencialmente. É sempre necessário dar ao tempo seu valor e importância.
Onde você aplica a maior parte do seu tempo de pensar? De 0 a 10 (exercício de quantificação) quanto do seu tempo de pensar é gasto pensando no passado, pensando no presente e pensando no futuro? O passado é memória. Quanto mais ativamos essas memórias mais atualizamos o passado o que pode gerar sofrimento. Acabamos projetando o passado para o futuro.
No nível do comportamento, é preciso fazer as coisas difíceis primeiro. Faça-o antes das atividades mais agradáveis e interessantes. É uma forma boa de termos mais tempo disponível para aquilo que realmente produz bem-estar.
Há diversas técnicas para se usar melhor o tempo, aproveite e aplique-as. Lawrence dizia que os seus trunfos, na guerra, eram a velocidade e o tempo, não a capacidade de agressão.
Segundo Pilar da Sabedoria – A Experiência da Vida Reflexiva
A experiência é da ordem da realidade, da empiria, da eventicidade. A reflexão é da ordem do intelecto e do espírito. O pensamento sem ação é vazio, a ação sem pensamento é vã. É a união dessas metades que gera sucesso, crescimento e aprendizagem.
A experiência, a vivência, sem a reflexão, corre o risco de repetir-se, incorrendo-nos mesmos erros. É preciso olhar para identificar o que tem e o que não tem funcionado, sob a pena de nunca se alcançar melhores resultados que os primeiros.
Reveja os seus sucessos e fracassos. Analise-os, mas não demore, faça imediatamente, lembre-se que o primeiro pilar da sabedoria é o bom uso do tempo. Analise também os sucessos e insucessos que o têm surpreendido. Porque é que algo funciona muito melhor do que o previsto? E porque é que algo que foi pensado e planejado não ocorreu como o previsto?
Celebre os casos de sucesso, assim como os de insucesso e aprenda com eles por meio do processo reflexivo. É uma pena que nosso hábito de reclamar e ruminar os sentimentos de fracasso seja mais recorrente que nossa abertura à reflexão sincera.
Experimente, conduza, teste, vivencie e em seguida analise, avalie, alinhe as questões importantes.
O método de “tentativa e erro” pode ser bastante eficiente. Melhor planejar, tentar e avaliar, correr o risco, que ficar na inércia pelo medo do resultado ruim. Lawrence não esconde, no livro, as suas falhas como líder e estrategista, e mostra tudo que é modificado em si após cada evento.
Terceiro Pilar da Sabedoria – Dar Sentido à Ambiguidade
Lawrence, embora inglês, tinha relações com os árabes. No livro, em momentos de divagações interiores ele se questiona sobre sua posição na guerra frente aos amigos que tinha do outro lado. Dar sentido à ambiguidade é, para o homem sábio, a capacidade de numa situação dúbia, atribuir significados lógicos a fim de não só tomar uma boa decisão como criar para si mesmo uma justificativa.
Os problemas são simples e as soluções também. O dogmatismo fornece essa confiança para enfrentar qualquer desafio de liderança com convicção. No entanto, ser guiado por dogmas não pode encurtar a visão sistêmica do líder. Por mais que sigamos uma doutrina do que é certo ou não fazer, do que deu ou não resultado, é preciso olhar para os múltiplos significados, para as ambiguidades que os fatos nos apresentam.
Basear-se em evidências pode ser uma boa forma de se começar a pensar mais assertivamente. As evidências regulam os sentidos das coisas, diminuindo o campo interpretativo. Saiba como chegar até aos factos através da investigação e avaliação sistemática.
Repita muitas vezes a mesma história. Em situações comunicativas o controle do que se diz é essencial para o sucesso da comunicação. Homens sábios atentam-se o que está sendo dito e nunca caem na falácia de que sua comunicação foi um sucesso. Desconfiem sempre da interpretação do outro e certifique-se de que o entendimento foi completo e de acordo com o previsto. Muitas guerras são começadas por ambiguidade comunicativa.
Quarto Pilar Da Sabedoria – Decidir Com Bom Senso
Para decidir sobre um assunto é importante termos mais informações e hoje a disponibilidade dessas é imensa, basta querer. Decidir requer de nossa parte considerar diversas opiniões, inclusive, bem distintas. Uma liderança sustentada sabe quando as decisões têm de ser feitas e quando esperar e deixar que os eventos se desenvolvam até a um determinado ponto de compromisso.
Senso é uma palavra que se origina em sensatez. Sensato é o homem prudente, que cuida com esmero daquilo que decide. Sensatez exige uma quase anulação da ansiedade e uma elevação do pensamento estratégico. Também pede um pouco de intuição, que sempre ajuda.
A intuição que muitos possuem não é algo sobrenatural. Intuições geralmente ocorrem sobre determinados fatos de seu cotidiano. É muito difícil alguém intuir algo sobre algum assunto do qual não tem a menor vivência. Isso porque a intuição é uma mistura de conhecimentos antigos e atuais que, em determinada condição, pressentem uma alteração nos rumos de determinada situação.
O bom senso, ou o uso da sensatez, resguarda os relacionamentos. Decisões baseadas no bom senso fazem com que, mesmo aqueles que por ventura tenham ganhado menos com a decisão não se revoltem contra ela, pois entendem que essa foi tomada dentro dos melhores parâmetros possíveis para aquela situação.
Quinto Pilar da Sabedoria – Viver a Vida Com Pragmatismo
O pragmatismo é uma corrente filosófica que surge no final do século XIX. O conceito de pragmatismo se popularizou e comumente ouvimos dizer que fulano é muito “pragmático”, o que quer dizer que tal sujeito tem o hábito de reduzir o sentido dos fenômenos à avaliação de seus aspectos úteis, necessários, limitando a especulação aos efeitos práticos, de valor utilitário, do pensamento.
Originalmente o termo está designado nos seguintes termos: Para determinar o sentido de uma concepção intelectual devem-se considerar as consequências práticas pensáveis como resultantes necessariamente da verdade da concepção; e a soma dessas consequências constituirá o sentido total da concepção.
A partir de então os pensadores do pragmatismo passaram a enfatizar em suas reflexões intelectuais a necessidade de considerar os efeitos práticos que se pode pensar como produzidos pelo objeto de nossa concepção, de tal maneira que a concepção desses efeitos é a concepção total do objeto.
No caso da aplicação desse conceito nos Pilares da Sabedoria de Lawrence, o sentido é o de dizer que as coisas “são como são”, como o pragmatismo nesse texto está em oposição a pensamentos mais abstratos, românticos e idealizadores.
O planejamento é indispensável, mas os planos são dispensáveis. Podemos treinar o pensamento pragmático pensando em 3 “quem?” da tomada de decisão. Antes de embarcar numa decisão importante, pergunte: “quem se importa?”, “quem sabe?” e “quem pode?”.
Não ganhe um argumento que não pode ganhar. Até pode ganhar os pontos do debate, mas no processo, pode fazer com que um adversário importante se sinta insensato e humilhado.
Sexto Pilar da Sabedoria – Ser Empático
Não confunda empatia com simpatia. Simpático é o sujeito afetivo, sociável que sorri e cumprimenta a todos, gerando uma sensação de bem-estar social nas pessoas. Empatia está muito para além do mero sorriso e dos bons-dias que dizemos cotidianamente.
Empatia diz respeito à capacidade que temos (ou não) de nos colocarmos no lugar dos outros e sentir, pensar, viver como eles, compreendendo suas sensações e motivos. É algo muito profundo e poderoso.
As pessoas pensam, sentem e se comportam de formas confusas e contraditórias – singulares. Líderes sábios compreendem a complexidade da natureza humana e a psicologia individual, reconhecendo as semelhanças fundamentais que se conectam a todos nós e também as diferenças importantes que nos tornam, a cada um, únicos.
Ser empático exige ética. Mesmo na guerra a ética é algo importante, pois acima dos interesses dos lados que guerreiam há vidas humanas envolvidas, cidades e culturas. A empatia, quando a temos, reforça em nós o sentimento de coletividade, já que aquilo que eu creio e sinto não está, em nenhuma hipótese, acima do que o outro crê e sente.
A empatia exige que muitas vezes fiquemos calados. É a famosa lei de Warhol: o poder do silêncio. “Eu aprendi que, de facto, tenho mais poder quando estou calado”. A maneira mais rápida e eficaz de “chatear” alguém é perdendo a oportunidade do silêncio.
Osho nos dá uma lição excelente: “antes de julgar alguém, calce suas sandálias e ande por seus caminhos”. Caminhar com os sapatos do outro é uma metáfora excelente para pensarmos em como nossas individualidades nos levam a posições e crenças diferentes sobre as mesmas questões.
Sem empatia é difícil desenvolvermos a sabedoria. Sem ela continuaremos a ser, no máximo, inteligentes, conhecedores, mas nunca sábio, pois não há sabedoria individualista num mundo coletivo. Não sabedoria que exclua ou negligencie a importância do outro no sistema universal.
Sétimo Pilar da Sabedoria – Ter Maturidade Emocional
Li outro dia que as pessoas, nas empresas, são contratadas pela competência e demitidas pelo comportamento. Nós somos um emaranhado de emoções e sentimentos que não se submetem à racionalidade. Eles emergem e testam nosso autocontrole, nossos filtros. Emoção e razão não são necessariamente polos opostos, somos constituídos por ambos e ambos merecem nossa atenção.
Quando se trata de maturidade faz uma oposição direta à jovialidade. O jovem arrisca, despreza consequências, o maduro tem o peso da experiência, da causa e efeito, torna-se ponderado e seguro. Maturidade emocional é, portanto, o momento em que nossas emoções se encontram num patamar de prudência, num nível de segurança.
Ser maduro emocionalmente é não estar à mercê da ebulição das emoções, o que não quer dizer que devemos esconder o que sentimos. A maturidade emocional nos auxilia a mostrar nossos sentimentos de forma positiva e empática.
As paixões desequilibram nosso lado emocional. Quando digo paixões não estou falando apenas das paixões amorosas, mas das paixões no sentido generalista. Paixões são nossos sentimentos mais afoitos, nossas emoções desmedidas. Não pode haver sabedoria onde não há equilíbrio. A maturidade emocional é alcançada à medida que a sabedoria se eleva.
Maravilhosos os Sete Pilares da Sabedoria de Lawrence, não é mesmo? Aproveite estes maravilhosos conhecimentos e começa agora a colocá-los em prática. Com certeza, são inspiradores e levarão você a conquistar resultados extraordinários em sua vida.