Por que o Coaching se preocupa tanto com este tema? Todo ser humano nasce integral, ou seja, composto por sua luz e sombra. Estes dois elementos, da nossa personalidade, foram identificados, por Carl Jung e sua Psicologia Analítica; e, em maior ou menor proporção, nos acompanham ao longo de toda a nossa vida. De acordo com os estudos do psicanalista suíço, todo indivíduo possui cinco arquétipos distintos que definem diversos traços comportamentais, e que guiam nossa forma de pensar e agir. São eles: Persona ou Máscara, Animus, Anima, o Eu e a Sombra.
Para que se possa fazer uma análise sobre este tema, precisamos voltar à história do homem primitivo e algumas de suas crenças. A ciência nos traz a ideia de objetividade psíquica, como algo contemporâneo. Contudo, esta não é uma nova descoberta, uma das primeiras e maiores descobertas da humanidade está na crença de que existe algo maior, uma consciência sobre a realidade tão possível quanto a do mundo material.
Impossível dizer que na história de nossos antepassados não havia referência sobre “influências mágicas”, “espíritos” ou algo que não pudesse ser fisicamente explicado. Caso você prefira, podemos trocar a palavra espírito por energia vital, centelha de vida, força, Deus, Buda, Maomé…
Pois é, neste caminho, o culto ao espírito, à energia vital dos pais era um dos mais importantes. No princípio, este culto aos antepassados era uma forma de acalmar os “revenants”, mas com o passar do tempo, transformou-se em algo moral e educacional. Para as crianças, os pais, por estarem muito próximos, representam a maior fonte de influência.
Quando se tornam adultos, esta influência é interrompida e as imagos parentais ficam cada vez mais afastadas da consciência, e, por causa da influência restritiva que ainda exercem, adquirem um aspecto negativo. Por causa disso, as imagos parentais, são consideradas estranhas e consequentemente transferidas para um tipo de “exterior psíquico”.
O homem adulto tem a força da mulher ocupando o lugar de seus pais, representando a força do ambiente mais próximo. Ela acompanha o homem e pertence a ele na medida em que dividir a vida com ele e for da mesma idade. Não representa “alguém” superior a ele em força, autoridade e idade, mas sim gera uma imago de natureza, até certo ponto, autônoma. Essa imago não é interrompida como aquela dos pais, pelo contrário deve ser conservada e estar associada à consciência do homem.
Por ter uma maneira de ser e conduzir tão diversa do homem, a mulher representa uma fonte de informação sobre aquilo que o homem nem mesmo vê. Assim como, é apta para indicar-lhe caminhos pessoais, capaz de inspirá-lo intuitivamente e adverti-lo quando for conveniente. Uma qualidade feminina da alma. Não há homem algum que seja exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. Em suma, há uma imagem coletiva da mulher no inconsciente do homem, que serve de auxílio para que este possa compreender a natureza da mulher, é uma imagem herdada.
O Anima
Anima é como passaremos a nomear este atributo da imortalidade da figura ambivalente da alma para o si-mesmo – uma síntese do sistema vivo, o ponto de partida para a vida futura. A imortalidade deve ser aqui concebida como algo que ultrapassa os limites da consciência, além daquilo que pode ser cartesianamente explicado.
Considerada como uma personalidade, o anima pode ser facilmente projetado nas mulheres também, pois, na medida em que a consideramos como um elemento inconsciente, ela será projetada, pois, todo inconsciente é projetado. A primeira portadora dessa imagem da alma é sempre a mãe; depois vêm as mulheres que estimularem os sentimentos masculinos (tanto para o positivo, quanto para o negativo). Separar-se da mãe, inclusive pensando que ela é a primeira portadora dessa imagem inconsciente, é algo delicado e ao mesmo tempo necessário do ponto de vista da aprendizagem para a vida adulta.
Os povos primitivos realizavam inúmeros ritos para marcar esta separação, tanto do homem quanto da mulher, dessa fase infantil, para a fase adulta e a consequente separação. Ao pai, cabe o papel de proteger fisicamente o filho, ao modelo de persona da mãe, cabe à proteção aos perigos da alma, do mundo obscuro.
Como na modernidade estes ritos de passagem não são realizados, as pessoas serão forçosamente obrigadas a sentir esta lacuna, a consequência é que a anima sob a forma de imago materna é transferida à mulher. É comum, após o casamento, o homem se tornar dependente, sentimental, infantil; ou ainda, no extremo oposto, tirânico, hiperssensível, constantemente preocupado com a valorização de sua masculinidade superior. A proteção sobre o inconsciente, outrora realizado nos ritos de passagem, foi retirada do homem moderno, isso leva à outorga deste papel à sua esposa, quando do casamento.
Existe algo a dizer sobre esse medo característico do homem ocidental em relação ao “outro lado”, ou se preferir, à própria consciência. Em primeiro plano, o medo não é algo de todo sem justificativa, além de ser real. Pensemos no medo que tanto as crianças quanto os homens primitivos têm do mundo desconhecido, cheio de possibilidades. Este é o mesmo medo que enfrentamos em nosso mundo infantil interno, que se mostra tão amplo e desconhecido quanto o mundo externo. O medo ao qual nos referimos é legítimo do ponto de vista do poder que o inconsciente exerce sobre as nossas concepções racionais do mundo.
As coisas do mundo interior nos influenciam de maneira poderosa, justamente pelo fato de estarem inconscientes. Sendo assim, o homem tende a se adaptar e se proteger contra o “invisível”, ou sua consciência. Do conflito entre estes dois mundos: internos e externo; surgirá o que é possível e/ou necessário, a união dos contrários para alcançar o caminho do meio, o exercício da dualidade entre a luz e sombra.
A anima sendo feminina é a figura que compensa a consciência masculina. Já para a mulher, a figura que realiza a compensação é masculina e recebe o nome de animus. Isto não quer dizer que a mulher tem uma consciência inferior à do homem, ou vice-versa, mas sim que elas são diversas. Basta observarmos a dificuldade que o homem tem de perceber algumas coisas que as mulheres tateiam no escuro. Ou ainda, como as mulheres pouco se interessam pelos fatos objetivos e suas inter-relações, mas ficam entusiasmadas com coisas que se referem às relações pessoais.
“Se eu tivesse que caracterizar, resumindo em poucas palavras, a diferença entre homem e mulher no tocante ao problema que nos ocupa, isto é, como se confrontam anima e animus, eu diria: assim como a anima produz caprichos, o animus produz opiniões; e assim como os caprichos do homem brotam de um fundo obscuro, do mesmo modo as opiniões da mulher provêm de pressupostos apriorísticos inconscientes.” (Jung, 1987, p. 82).
O Animus
Percebemos quando a opinião é do animus, pois ela apresenta um caráter de sólidas convicções, difíceis de comover, ou ainda, de princípios de inatingível validade. Ao passo que, a concepção sobre determinado assunto como se os pressupostos já existissem imprimem a marca de resposta não refletida, elas já existem prontas e são mantidas com tal firmeza, são manifestações de anima.
Metaforicamente, personificando animus, ele seria um conjunto de juízes, que analisam e condenam uma assembleia de pais e outras autoridades que formulam opiniões não passíveis de contestação e possuem alta dose de racionalidade, a verdade absoluta, fala através de palavras difíceis e desconhecidas, odeia reflexão.
Da mesma maneira que a anima, o animus é ciumento, está sempre pronto para substituir uma pessoa por uma opinião sobre ele, opinião com fundamentos que geralmente são duvidosos, mas que não são submetidos à crítica. Ao passo que, a anima vai sempre provocar uma discussão mais afetiva, reflexiva sobre certo fato.
Nas mulheres com características mais intelectuais, o animus origina um tipo de argumentação e raciocínio que pretende ser intelectual e crítico, mas na realidade a intenção é, essencialmente, converter algum detalhe sem importância num absurdo argumento principal. O animus é uma espécie de sedimento de todas as experiências ancestrais da mulher em relação ao homem, e mais ainda, é um ser criativo e engendrador, não na forma da criação masculina.
A atitude consciente da mulher é geralmente muito mais pessoal do que a do homem. O mundo feminino é composto de pais e mães, irmãos e irmãs, maridos e filhos, no relacionamento entre famílias, mas que se voltam para si mesmas. O mundo do homem é o povo, o “Estado”, os negócios. Sua família representa um meio rígido para uma finalidade, e é um dos fundamentos do Estado. Sua esposa não é necessariamente mulher (pelo menos no mesmo sentido que ela pensa ao dizer “meu marido”). Para o homem, o geral precede o pessoal.
Para seguir na direção a um processo de evolução, acreditamos no poder infinito das pessoas e na melhor forma de resolver este dilema é quando aprendemos a lidar e conviver com os próprios sentimentos e emoções, ao invés de tentar reprimi-los. Tudo em excesso é negativo. Por isso, tanto a luz como a sombra pode ser usada de forma, positiva e equilibrada, para alcançar sucesso e satisfação com a vida.
Neste sentido, você pode e deve aprender a usar a raiva para motivar-se e, não para atacar ou guardar rancor do outro. Também usar sentimento de autopreservação para saber dizer “não” na hora certa e evitar abusos. Pode transformar sua inveja do outro em admiração e tentar superar seus limites.
Do mesmo modo, você pode usar sua luz para ter atitudes positivas, respeitosas e justas, para focar em sua própria evolução pessoal e profissional e, inclusive, para fazer a diferença na vida das pessoas à sua volta.
Bibliografia
JUNG, C. G., O Eu e o inconsciente; tradução de Dora Ferreira da Silva. Petrópolis: Vozes, 1987 (Obras completas de C. G. Jung, Vol. 7, T.2)