Adike/Shutterstock Durante uma sessão de hipnose: mente e corpo reagem aos estímulos de diferentes formas

Sempre fui um apaixonado por Neurociência. Este é um dos assuntos que mais me interessam e no qual me debruço constan­temente para estudar. Aprendi muito com Suzana Herculano, a mais respeitada neurocientista da América Latina e que durante algum tempo fez parte do time de colaboradores do IBC.

Aprendi também em formações das quais participei e nos livros que li. Mas aprendi, principalmente, nas práticas que fui desenvolvendo. Algumas questões técnicas do universo médico são impor­tantes para compreendermos o funcionamento dos nossos meca­nismos cerebrais. Posso tratar de algumas questões bem simples, mas muito importantes.

Os Efeitos da Hipnose

Qualquer pessoa, quando sob o efeito da hipnose, parece entrar em um estado de devaneio, que permite que imagens, senti­mentos e informações sejam aflorados. Todos esses componentes são depois levados adiante, chegando ao córtex pré-frontal, que marca o momento no qual o indivíduo adquire a consciência sobre seu estado de transe.

O córtex cerebral corresponde à camada mais externa do cérebro, contendo grande quantidade de neurônios, além do local do processamento neuronal mais sofisticado e distinto. Mostrando que tamanho não é documento, o córtex humano tem entre 1 e 4mm de espessura e uma área de 0,22m2 (se fosse disposto num plano) e desempenha um papel central em funções complexas do cérebro como na memória, na atenção, na consciência, na linguagem, na percepção e no pensamento.

É possível dizer que conhecemos menos o cérebro humano que o universo e suas zilhões de galáxias. Temos conhecimento, no entanto, de que nossas ondas cerebrais atuam em diferentes frequências, que identificam o estado em que nos encontramos. A hipnose, como possibilidade e ferramenta, torna-se ainda mais importante quando nos damos conta de que só em faixas de frequências específicas (próprias do estado de hipnose) são ativadas certas áreas cerebrais.

Não são apenas nossos batimentos cardíacos que seguem um ritmo cadenciado de acordo com determinadas circunstâncias. Toda a movimentação cerebral também conta com uma variação dos seus níveis de atividade, medidos de acordo com os ciclos de ondas por segundo. Quando estamos em estado de alerta, isto é, em total consciência, são emitidos de 13 a 25 ciclos de onda por segundo. Abaixo disso, entre três e cinco ciclos por segundo, nos encontramos em sono profundo.

O que Acontece numa Sessão com Hipnoterapia

Durante uma sessão com hipnoterapia nossa atividade cerebral se manifesta com oscilações que podem ir da emissão entre oito e doze ciclos de ondas por segundo, caracterizando um estado inicial de hipnose, a níveis mais reduzidos. Na faixa de frequência entre quatro e sete ciclos por segundo, caracteriza-se, neurologicamente falando, o estado de hipnose profunda.

Neurologistas nos asseguram que, nos níveis de frequência da atividade cerebral equivalentes ao estado de transe, o sistema nervoso parassimpático entra em ação. É ele o responsável por regular nossas decisões, funções físicas e corporais em situações de calma. É ele ainda o grande regulador que nos faz retornar ao estado normal tanto física quanto mentalmente, após situações de estresse.

Em outras palavras, o que isso quer dizer é que está também na hipnose a chave que regula e aciona o responsável por nos colocar nos eixos quando enfrentamos situações atípicas. Através da hipnose chega-se ao inconsciente, que é de fato o coordenador das nossas emoções, paixões, fobias e ações mais diversas. Ao abordarmos o inconsciente, chegamos aonde as grandes decisões são efetivamente tomadas. É, por isso, que a hipnose como prática terapêutica significa deixar de lado os intermediários e tratar diretamente com quem manda de verdade, isto é, o nosso inconsciente.

É certo que durante a hipnose as áreas cerebrais associadas ao uso da razão sofrem uma queda no seu nível de atividade. Para os coaches formados, podemos dizer que é o momento em que o Self 2 assume o controle sobre o Self 1. Isso, no entanto, é compensado com o aumento de atividade em outras regiões cerebrais, sobretudo onde as imagens são guardadas (lobo occi­pital), na memória (hipocampo) e no compartimento das emoções (amídalas cerebelosas). O que qualquer exame de eletroencefalo­grama de um paciente sob hipnose nos mostraria é algo de que já sabemos: o estado de transe ativa justamente as faculdades mentais – e neurológicas – alinhadas com o inconsciente.

Em suma, a hipnose é um mergulho em nossa própria consci­ência e inconsciência, com uma finalidade terapêutica específica e sem que tenhamos necessariamente um roteiro previamente estabelecido. Buscar em nós mesmos a resposta de nossas agru­ras é algo a que Milton Erickson deu forma com sua hipnotera­pia.

No Coaching, esse olhar interno é exatamente a trajetória que permite uma mudança de estado e um autoconhecimento elevado. Não é por acaso, portanto, que juntar as propriedades da hipnose ericksoniana com as potencialidades do Coaching é uma soma verdadeiramente multiplicadora de resultados.