O quanto você e sua família tem estado em contato com a natureza? Seus filhos têm verdadeiramente aproveitado a infância deles brincando no quintal, praças e jogando jogos de rua, ou tem vivido em apartamentos, brincado pelo condomínio e jogado em videogames e tablets?
Se olharmos para as grandes e médias cidades perceberemos que, o contato das crianças e adolescentes tem sido cada vez menor. Essa constatação não tem nada a ver com saudosismo dos pais ou de pessoas mais velhas, mas sim com os impactos negativos que o autor americano Richard Louv, chama de Transtorno de Déficit de Natureza.
Richard entrevistou mais de 3 mil pais e professores buscando compreender como o cenário da infância estava mudando. A maioria das declarações que recebia vinham de pais que alegavam não conseguir tirar seus filhos de casa, ainda que morassem próximos a parques e áreas verdes.
Pesquisas apontaram que algumas das razões pelas quais as crianças não saiam de casa eram problemas físicos como a obesidade, problemas mentais, depressão, hiperatividade e déficit de atenção, entre outras.
Em entrevista ao canal BBC de Televisão, Louv afirmou que apesar de todas as circunstâncias, ainda há esperança para as crianças que vivem em cidades que mais parecem uma “selva de pedras”. Ele declara que ao redor do mundo, algumas escolas e associações estão usando hortas, caminhadas no bosque e outras soluções simples para combater os problemas físicos e mentais que as crianças afastadas do contato com a natureza podem vir a desenvolver.
De acordo com Richard, 47% das crianças brasileiras, atualmente possuem excesso de peso ou são obesas. Isso acontece porque elas estão cada vez menos ativas. Passam mais horas em casa vendo TV e jogando videogame, do que fora de casa, em contato com a natureza, gastando a energia que possuem de forma saudável.
Existem muitos estudos que comprovam que o contato com a natureza pode reduzir os sintomas desses distúrbios, ainda que o contato com a natureza aconteça por pouco tempo.
Na Universidade de Chicago por exemplo, foram estudados os distúrbios de atenção entre crianças com 5 anos, e foi comprovado que todas elas tiveram uma melhora significativa após inserirem em suas atividades diárias, caminhadas curtas em parques.
“Brincar no parque” tem sido uma atividade cada vez mais recomendada por pediatras, alguns chegam a realmente prescrever nos receituários mesmo.
Louv afirma que alguns professores que passaram a inserir passeios ao ar livre como atividade em suas turmas declararam ter percebido mudanças extremamente positivas em seus alunos.
Sabendo disso, não seria mais sensato programarmos mais passeios em áreas verdes com nossas crianças, em vez de leva-las a consultórios médicos, onde o “especialista” recomendará soluções medicamentosas a elas?
O contato com a natureza sem dúvida beneficia crianças de todas as idades, e podendo melhorar o aprendizado e a capacidade cognitiva de cada uma delas.
Há dados que comprovam que crianças que foram educadas tendo como base o meio ambiente, se saem melhor em testes e desenvolvem melhor a capacidade de solucionar problemas e tomar decisões.
De acordo com Louv, esses impactos positivos se dão sempre que a criança passa a ter mais contato com a natureza, independente do contato ser em ambiente escolar ou familiar.
Em parquinhos chamados de “playgrounds de aventuras”, onde existe terra, areia e grama em vez de pisos de cimento e onde existe madeira, morros e troncos de árvores em vez de um monte brinquedos prontos como escorregadores e balanços, as crianças têm uma propensão muito maior de inventar seus próprios jogos e brincadeiras. Elas inclusive interagem mais com as demais crianças, sejam elas de qual for a idade ou gênero.
Essa interatividade com a natureza não é válida apenas para crianças pequenas não. Crianças de 10, 11, até 12 anos também podem se beneficiar da natureza. Nosso cérebro tem uma plasticidade incrível, e é graças a essa plasticidade que podemos abrir “janelas” que nos possibilitam trilhar novos caminhos neurológicos para aprender e perceber coisas novas, independentemente da idade que tivermos.
Em grandes cidades como São Paulo por exemplo, existem avenidas que disputam espaço com a natureza e os prédios residenciais e comerciais. Nessa situação, como equilibrar esse ambiente?
De acordo com Louv, é preciso colocar na ponta do lápis, o quanto a cidade gasta com a saúde pública e com problemas como síndromes respiratórias, sedentarismo e saúde mental. Talvez, se fizer sentido para as autoridades da cidade, manter e até mesmo aumentar a quantidade de áreas verdes, possa ajudar a melhorar esses desequilíbrios.
Comprovadamente, quando há parques naturais em determinadas áreas da cidade, todo o entorno acaba sendo valorizado, elevando inclusive o valor das propriedades ao redor.
Um parque ou uma área verde não deve ser algo apenas “legal” para se ter em uma metrópole. É algo necessário, é parte de nossa humanidade, precisamos ter contato com a natureza. Muitos órgãos internacionais já reconhecem que áreas verdes e contato com a natureza faz parte dos direitos humanos básicos.
Como em tudo, o exemplo começa em casa, por isso, como pais, devemos ser os primeiros a incentivar nossas crianças e adolescentes, a estarem cada vez mais em contato com a natureza e a explora-la de forma consciente e respeitosa. Esse convívio pode se dar em passeios, viagens e até mesmo em momentos simples do dia a dia.
É importante ressaltar que o mais simples dos gestos pode nos colocar em contato com essa natureza humana que precisamos resgatar. Podemos cuidar de nossa hortinha, mesmo que seja em casa ou no apartamento, podemos aproveitar o tempo livre em um parque ou em quadras esportivas abertas e até mesmo ler livros sentados debaixo de uma bela árvore.
Convido você a olhar para sua vida atualmente e refletir: o quanto você tem se permitido estar em contato com a natureza? O que tem feito com a educação de seus filhos? Tem permitido que eles passem mais tempo em frente à TV, ou tem realizado viagens à praia e ao campo? Tem brincado de caça ao tesouro em um parque ou tem levado seus filhos ao shopping para que brinquem na sala de jogos?
Ainda há tempo de resgatarmos a natureza humana de nossas crianças, e porque não dizer, a natureza de nossa própria criança interior?
Lembre-se sempre de se lembrar de nunca mais se esquecer que dentro de cada Ser Humano existe uma natureza pura e divina. Cabe a nós, cultivar essa natureza para que possamos nos tornar pessoas cada vez melhores. Desfrute conscientemente e respeitosamente de tudo o que o Universo oferece a você todos os dias. Esteja atento às oportunidades. O que você pode fazer hoje pelo seu filho?
Créditos da Imagem: Por Lucky Business – ID da foto stock livre de direitos: 598188368