A Roda da Criação de Metáforas é uma integração entre as ferramentas de Coaching e a teoria de construção de metáforas descrita por Mind, Lawley e Tompkins (2000), baseada em Robert Dilts. Para conseguirmos trabalhar com a Roda, entenderemos cada ponto para usá-la como ferramenta de trabalho e desenvolvimento.

 

Acreditamos que também o Coaching Ericksoniano deve ser multidisciplinar como todas as demais formas de Coaching. Por isso, essa teoria sobre as metáforas é deveras importante para nossa compreensão.

Convido você a verdadeiramente conhecer cada ponto do processo de criação de metáforas, conectando-se ao mais profundo do seu ser e visualizando a prática dessa ferramenta em coachtório – caso você seja coach formado.

Passo a passo do uso de metáforas nas sessões

Passo 1: identificar o estado atual (problema emocional)

Geralmente, o estado inicial de um problema é uma emoção corriqueira, uma crença limitante, um estado avançado de desmotivação, ou um padrão de comportamento que seja considerado como problemático.

Se utilizarmos a Pirâmide dos Níveis Evolutivos, veremos que a grande parte desses comportamentos está ligada aos níveis de identidade e crenças.

O coach deve estar atento para usar, sempre, a própria linguagem do coachee, ou seja, deixar que ele mesmo dê nome às coisas, que ele mesmo encontre os termos, as comparações, os elementos dentro de si. As descrições tanto do estado atual quanto do desejado, bem como dos elementos que construirão as metáforas do processo, devem partir dele.

Passo 2: desenvolvendo a metáfora do problema

Para desenvolver a metáfora do problema identificamos as modalidades sinestésicas associadas com o estado atual, ou seja, as sensações, emoções, quais sentidos são acionados nesse estado.

Nesse passo, temos que localizar, no corpo do coachee (ou ao redor do corpo, próximo a ele), onde se localizam essas sensações. Temos que dar forma a elas, sabendo de que tamanho elas são, qual sua textura.

Faremos perguntas como: “essa emoção (angústia, raiva, decepção) está próxima a que ou a quem?” e “essa emoção tem um formato ou tamanho?”

Depois de descrevermos as modalidades sinestésicas, pergunte ao coachee: “como o quê? Tente comparar essa emoção, sua forma, cor e tamanho com alguma coisa concreta. Como ela é?”

Por exemplo, se as modalidades sinestésicas forem ovais, ásperas e marrons, pergunte: “é oval, áspera e marrom como o quê? O que é essa dor, raiva, angústia?”. A resposta poderá ser: um espinho, uma lança, um pedaço de carne. Imaginemos que se responda: “está no meu peito, é pontiaguda, áspera, tem uma cor cinza… é uma lança”. A partir daí, lança, então, torna-se a metáfora e tem uma localização física relacionada com o corpo.

Dar forma às emoções nos permite criar elementos metafóricos e a partir deles criar as metáforas de identificação do problema.

Passo 3: identificar um tempo anterior à metáfora do problema

O passo seguinte consiste em identificar um tempo anterior àquele em que o coachee começou a experimentar o estado do problema ou que determinado comportamento começou a aparecer.

Cuide para que esse tempo anterior não seja exatamente o momento mais próximo do aparecimento do problema, pense em memórias mais distantes. Caso o estado atual seja um trauma de grande gravidade, como acontece em situações de luto, separação e outras, você corre o risco de reviver outra memória traumática.

Faça perguntas como: “você pode se lembrar de um tempo anterior em que você não tivesse essa lança, um momento que traz sensação de segurança, que faça você se sentir feliz (ou confortável)?” Em seguida, pergunte: “quantos anos você tem nesse momento?”, a idade ― por exemplo, quinze anos ― será o nome do ego mais jovem que tinha recursos.

Esse passo nos dá um mapa da vida do coachee. Vamos encontrando estágios para lidar com seus problemas, crenças e comportamentos, além de recursos dentro de sua própria história.

Passo 4: desenvolver uma metáfora de recursos

Um dos passos mais importantes é encontrarmos associações positivas para criar sugestões que levem o coachee a vencer seus problemas. Trataremos de algumas das diversas formas de desenvolver uma metáfora de recursos. Uma dessas possibilidades é usar o ego mais jovem, referente à idade que o coachee apontou como estado antes do problema (como a de quinze anos), como a metáfora de recursos.

Outro é usar os sentimentos trazidos pela lembrança do ego mais jovem. Perguntas como: “o que sente nesse momento que você nos descreve? Sente pingos de chuva, uma brisa fresca nos cabelos, sente afeto e segurança?”

O coach pode perceber que o coachee tem dificuldades em lidar sozinho com o evento traumático, e pode solicitar auxiliares: “quem está com você nesse momento?”, pode ser o ursinho, o anjo da guarda, uma pessoa especial… Deixe que ele mesmo construa sua metáfora de recurso.

Passo 5: interação entre as metáforas

Lembre-se: o coachee está num estado de relaxamento profundo, logo, está suscetível a todas as suas orientações. Essa é a hora de você conduzi-lo à solução do problema, fazendo com que a metáfora de recurso possa apaziguar a metáfora do problema.

Supondo que no momento-recurso, com quinze anos, o coachee diga sentir tranquilidade e uma leve brisa no rosto. Pergunte: “nesse momento em que você se sente bem, tranquilo, seguro, você seria capaz de tomar a lança em sua mão? Acho que você está no campo, você pode lançá-la o mais longe possível”.

Há muitas variações para a interação entre as metáforas, o momento lhe trará a sensibilidade necessária para conduzir o processo. Uma vez que o coachee tenha aceitado a interação, mantenha-o ligado ao transe perguntando: “e depois, o que acontece?”, “e agora?”

Você perceberá que haverá uma solução quando as metáforas de recurso se tornarem mais fortes que as metáforas do problema e houver uma parada natural, num estado plenamente positivo.

Um bom método é transformar a metáfora do problema em outro símbolo, como a lança se transformar num pássaro, a rocha em luz etc. É também aconselhável que essas sensações sejam trazidas para o momento atual, viajando pelas idades.

É possível, também, que sejam necessárias duas ou mais sessões até que essas metáforas estejam completamente aceitas e ressignificadas dentro do coachee.

Passo 6: verificar os resultados

Como tudo no Coaching exige uma mensuração de alcance dos resultados desejados, também se faz, aqui, uma etapa importante, que consiste em determinar se houve mudança na metáfora do estado atual.

Pode-se perguntar para o coachee: “você sente que esse processo está completo para você?”, e buscar a afirmativa no estado de plena consciência. Pode-se também questionar: “todas as partes da metáfora que criamos fez sentido para você?”

O processo de cura por metáforas é útil para diferentes estados de problemas, que incluem emoções problemáticas, estados sem recursos, crenças, e até mesmo o aumento dos estados de recursos. Uma vez tendo o indivíduo se familiarizado com esse processo, ele pode reconhecer, no momento adequado, quando está experimentando uma emoção que é resultado de antigas emoções negativas armazenadas. É muito comum que pessoas que experimentaram uma conexão especial com sua metáfora de recursos, sejam capazes de empregá-la, quando for necessário, em outras situações.

Toda metáfora traz uma dimensão resolutiva de si mesma, ou seja, após problematizar uma situação ou vivência, ela só completa seu ciclo se propuser, na outra ponta, uma solução para a questão apresentada. A ideia que dá sustento ao uso das metáforas é a de que as palavras trazem em si uma capacidade e função terapêuticas que não podem ser desperdiçadas. Ao recorrermos às palavras, temos a chance de controlar algo que nos escapa das mãos.

Se o coachee em questão tem como problema central uma limitação ou histórico de ansiedade, significa que é preciso que o coach, fazendo as vezes de terapeuta, trabalhe uma metáfora que aborde o tema, e que, sobretudo, proponha uma saída dele.

Curar os padrões negativos de comportamento é o principal objetivo da metáfora, especialmente quando empregada a princípios de saúde. As metáforas evocam a congruência do indivíduo, fazendo-o mais capaz de responder aos desafios da vida. Encerro o texto deste capítulo maravilhoso com uma metáfora especial.

 

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