De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil tem mais da metade de sua população, 55,7%, em excesso de peso. 18,7% são considerados obesos – dados de 2019.

O sobrepeso e a obesidade são condições que têm sido associadas a problemas de saúde diversos, incluindo dores crônicas, problemas ósseos e musculares, dificuldades respiratórias e doenças cardiovasculares.

Por isso, é muito importante compreender as causas dessas condições tão comuns na população, de modo que possa ser adotada uma consciência alimentar maior para a promoção de saúde. No entanto, essas causas podem estar em nossa ancestralidade.

Por que há tantas pessoas acima do peso?

A industrialização acelerou e facilitou consideravelmente a produção e a distribuição de alimentos. A fartura e os avanços da culinária são aspectos positivos, mas acabaram trazendo ao mercado alimentos ultraprocessados, ricos em conservantes, gorduras e carboidratos.

Salgadinhos, doces, refrigerantes e biscoitos de todos os tipos nunca foram tão consumidos como agora. Desde a infância, as pessoas passaram a se alimentar dessa forma. Esses hábitos, somados a uma cultura sedentária, criaram um ambiente propício ao aumento da obesidade. Contudo, há também uma possível herança genética.

As causas em nossa ancestralidade

Se pensarmos lá no homem das cavernas, não era fácil obter alimentos. Era preciso caçar, pescar, plantar, colher, assar, enfim, um processo bem mais complexo do que é hoje. Por conta dessa época de escassez de alimentos e dificuldade em alimentar-se, a evolução natural da espécie humana passou a dar prioridade aos indivíduos com circuitos cerebrais mais eficazes em estimular a fome.

Dessa forma, nossos ancestrais conseguiriam comer mais de uma vez e “armazenar” essa energia por mais tempo, afinal de contas, ele não sabia quando conseguiria alimentar-se novamente.

O cérebro atualmente

O estilo de vida moderno, com acessibilidade muito mais rápida e fácil aos alimentos, não exige mais que estoquemos essa energia. No entanto, o cérebro ainda guarda muitos desses mecanismos evolutivos.

Ao sentirmos fome, liberamos hormônios que ativam os circuitos cerebrais de prazer e recompensa. Conforme comemos, esse circuito vai se desativando aos poucos, dando lugar aos hormônios da saciedade.

O problema é que o consumo excessivo de alimentos ricos em carboidratos e gorduras superestimula o circuito do prazer e o deixa mais resistente ao sistema da saciedade.

Essa resistência exige que as pessoas comam quantidades cada vez maiores de alimentos para que consigam se sentir saciadas, dando origem ao sobrepeso e à obesidade.

Segundo especialistas, as pessoas que enfrentam esses problemas não são preguiçosas com falta de força de vontade, como as mentes mais preconceituosas costumam julgar. Muito pelo contrário, são indivíduos enfrentando uma dependência, que lembra o vício em álcool ou em outras drogas.

O cérebro, para conseguir prazer e saciedade, demanda quantidades cada vez maiores dessas substâncias. Para fins de comparação, o chamado “efeito sanfona” nada mais é do que uma recaída em maus hábitos alimentares.

Portanto, emagrecer e estimular uma alimentação saudável são, hoje em dia, questões muito complexas, que envolvem não apenas o estilo de vida contemporâneo, mas também uma compreensão maior do cérebro e de mecanismos que herdamos de nossos ancestrais há milhões de anos.