A Filosofia é uma área do conhecimento que tem o objetivo de fazer com que as pessoas reflitam sobre a vida e encontrem um verdadeiro sentido nela. Existência, conhecimento, valores, razão, ética, mente, linguagem, amor, paz e justiça estão entre as principais temáticas dessa disciplina.
O termo “Filosofia” vem do grego e significa “amor à sabedoria”, que, segundo os gregos, só seria experimentado quando o indivíduo se tornasse consciente de sua própria ignorância e se propusesse a refletir e a adquirir novos saberes. Isso prepararia o homem para que tivesse uma vida mais feliz e até mesmo uma morte diga.
Platão foi um dos mais célebres filósofos da Grécia Antiga, nascido em Atenas em 427 a.C. Ele é o autor do “Mito da Caverna”, uma das histórias alegóricas mais conhecidas da Filosofia. A história foi concebida com o objetivo de demonstrar como a Filosofia pode curar a cegueira e a ilusão humanas por meio da reflexão, conduzindo as pessoas à sabedoria.
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O Mito da Caverna
O Mito da Caverna está registrado no capítulo VII do livro “A República”, na forma de um diálogo em que Sócrates (filósofo grego, mentor de Platão) é o protagonista. O mito também serviu de inspiração para a concepção do filme “Matrix” (1999).
Na história, algumas pessoas estão acorrentadas e presas no fundo escuro de uma caverna, viradas para uma de suas paredes. Essas pessoas jamais saíram da caverna e, portanto, nunca viram a luz do sol, nem nada do que existe fora dela. Tudo o que essas pessoas enxergam são as sombras de animais, pessoas, plantas e objetos (de fora da caverna), que são projetadas sobre a parede, por meio da luz de uma fogueira.
Os habitantes da caverna ficam fascinados com as sombras que observam. Para eles, essa é a única realidade que existe. Sócrates afirma que essa é a condição tipicamente humana, em que assumimos a ilusão como realidade.
Um dia, um dos prisioneiros consegue se libertar da caverna. Ao sair, ele observa a luz do sol e, a partir dela, consegue visualizar as pessoas, plantas, animais e objetos como verdadeiramente são. No início, é doloroso para esse prisioneiro observar um mundo tão claro, iluminado e complexo, já que ele passou toda a vida acostumado à baixa luminosidade da caverna.
O Mito da Caverna é uma grande alegoria que explica a importância da Filosofia. O prisioneiro que alcança a liberdade e consegue enxergar o mundo como ele realmente é representa o filósofo. O sol é o bem, que produz sabedoria. O escuro da caverna simboliza as trevas da ignorância. As sombras são as ilusões da mente humana. A subida da caverna em direção ao sol representa o abandono do mundo material em busca de uma realidade com mais inteligência e significados mais profundos.
Ao final do mito, Platão ainda faz uma suposição. Se o prisioneiro que conquistou a liberdade retornasse à caverna para avisar seus colegas de que a realidade não é aquela que eles estão observando, eles não acreditariam nesse prisioneiro e até mesmo poderiam matá-lo. Essa suposição é uma clara referência ao destino de Sócrates, que foi condenado à morte por incompreensão de suas ideias.
As 5 lições extraídas do Mito da Caverna
A alegoria da caverna de Platão é um dos mais ricos conteúdos da história da Filosofia. Por meio dela, cinco grandes lições podem ser extraídas.
1ª lição: as sombras da caverna representam as coisas materiais
A caverna de Platão, escura e ilusória, é uma verdadeira prisão, onde só existe o mundo da matéria e dos sentimentos. Os bens materiais são ilusórios, superficiais, instáveis e passageiros. São objetos que representam riquezas e algum conforto, de modo que as pessoas fiquem cada vez mais sedentas e “hipnotizadas” por esses objetos, tanto quanto os prisioneiros ficavam ao observar as sombras.
Platão critica o mundo materialista, defendendo que a matéria não deve ser prioridade para quem deseja alcançar a sabedoria. O que realmente é essencial são os valores imateriais e os bens da alma, ou seja: a sabedoria, o bem e a justiça. Enquanto as pessoas não trocarem a posição dessas prioridades, substituindo o apego aos bens materiais pelo desenvolvimento de valores, a humanidade não conseguirá “sair da caverna” da ignorância.
2ª lição: é fácil ficar dentro da caverna
Trazendo a alegoria de Platão para termos mais atuais, podemos entender o gesto de sair da caverna como a famosa saída da zona de conforto. O problema é que fazer isso significa assumir a responsabilidade pela própria existência, sem se vitimizar.
Ficar sentado na caverna achando que tudo o que existe é o que se vê é fácil, confortável e nem um pouco cansativo. No entanto, com a liberdade de sair da caverna, vem também a responsabilidade de lidar com todo esse universo exterior, até então desconhecido.
A Filosofia surge, então, como a força intelectual que motiva as pessoas a abandonarem essa caverna de inércia, para que possam explorar o mundo e compreendê-lo como de fato é.
3ª lição: é desconfortável olhar para a luz
Se você se lembrar da história, perceberá que o prisioneiro que conseguiu sair da caverna sentiu um profundo desconforto ao visualizar aquela luz intensa, que jamais havia visto. Acostumado à escuridão da caverna, a experiência foi difícil para ele no início, mas tornou-se mais tranquila conforme ele se adaptou ao mundo externo, gradativamente.
Essa é mais uma analogia platônica para explicar que, quando estamos na escuridão da ignorância, nos sentimos confortáveis, e a luz do conhecimento pode ser inicialmente dolorosa. Isso acontece porque essa luz revela o quanto estávamos enganados, errados e ignorantes acerca de nossa própria realidade. Assumir a ignorância e reformular nossas crenças é um desafio complicado no início, mas libertador com o passar do tempo.
4ª lição: é preciso habituar-se para contemplar o mundo superior
O ambiente da caverna representa a ilusão, o erro, a ignorância, o comodismo e o materialismo que caracterizam nossa existência. Sair da caverna, porém, é um convite para que cada um de nós contemple a luz e perceba que entre o Céu e a Terra existem muito mais coisas do que supomos. Esse movimento representa a migração do mundo material para o mundo espiritual.
Com isso, Platão faz um convite à humanidade para que contemple a beleza do divino e a transcendência, ou seja, o contato com um universo místico e espiritual, que eleva as nossas almas acima das aparências. É esse universo que dá significado a todo o restante. Sem a consciência desse novo “ambiente”, a vida humana não faz sentido.
5ª lição: o bem que recebemos deve ser retribuído
A descoberta de que o mundo é muito mais do que aquele conjunto de sombras visualizadas numa caverna escura é a recompensa daquele prisioneiro que teve a coragem de sair da caverna. Ele recebeu um bem e precisa retribuir pelo bem que recebeu.
Por isso, esse ex-prisioneiro volta ao interior da caverna para relatar a sua descoberta aos seus colegas e ajudá-los a se libertarem também. Esse gesto simboliza a necessidade que as pessoas que recebem algum tipo de conhecimento têm de propagá-lo. Quando uma informação verdadeira é disseminada e impacta uma quantidade maior de pessoas, a humanidade como um todo evolui nos rumos da sabedoria.
Essa é a função da Filosofia e dos filósofos: adquirir conhecimento e divulgá-lo às pessoas para que elas também alcancem uma vida de liberdade e sabedoria. Platão acreditava que quando um indivíduo procura ser alguém melhor a cada dia e ajuda os outros nesse mesmo processo, a sociedade como um todo progride.
Sair da caverna da ignorância e olhar para a luz da sabedoria pode ser um ato arriscado e até mesmo desconfortável no início. No entanto, é esse movimento que dá sentido à vida das pessoas, deixando de ser prisioneiras.
Se você gostou deste artigo, faça como o ex-prisioneiro que retornou à caverna: compartilhe o conhecimento para que mais pessoas alcancem essa liberdade e essa sabedoria que você acabou de adquirir.