Por José Roberto Marques | Cientista do Comportamento Humano, Fundador do Grupo IBC Educação e da Meditação Marquesiana, Constelação Sistêmica Integrativa, Método PSC e Psicologia Marquesiana.

Vivemos um momento decisivo na história humana, no qual antigas divisões que fragmentaram nossa compreensão sobre o ser começam a se desfazer. Por séculos, o paradigma cartesiano separou mente e corpo, tratando a experiência subjetiva como algo imaterial e inacessível à investigação científica.

Embora essa separação tenha impulsionado a medicina e as ciências naturais, ela também gerou uma visão empobrecida da vida, onde dimensões emocionais, relacionais e espirituais eram frequentemente marginalizadas.

Paralelamente, tradições contemplativas milenares sempre reconheceram a interdependência fundamental entre corpo, mente e espírito. O desafio atual é construir pontes sólidas entre a ciência e essas sabedorias.

É neste cenário que a Psiconeuroimunologia (PNI) surge como uma das mais promissoras dessas pontes. 

Este artigo, originalmente um estudo científico-filosófico, explora como a Psiconeuroimunologia (PNI), campo científico que estuda as interações entre os sistemas nervoso, endócrino e imunológico, oferece uma validação empírica robusta.

Essa validação se refere às práticas transformacionais propostas pela Psicologia Marquesiana, uma abordagem desenvolvida por José Roberto Marques no contexto brasileiro do Coaching Transformacional.

 

Aqui, demonstramos que esta síntese entre ciência e sabedoria contempla um novo paradigma para o desenvolvimento humano, superando a falsa escolha entre o materialismo reducionista e o espiritualismo desencarnado.

Psiconeuroimunologia (PNI): a Ciência da Unidade Corpo-Mente

A história da Psiconeuroimunologia é, em si, uma narrativa sobre a superação de paradigmas limitantes. Por muito tempo, acreditava-se que o sistema imunológico funcionava de forma autônoma.

A Descoberta da Conexão Inquestionável (Anos 70)

O trabalho pioneiro de Robert Ader e Nicholas Cohen na década de 1970 desafiou frontalmente esse dogma. Eles demonstraram que ratos podiam aprender a suprimir suas respostas imunológicas através do condicionamento clássico.

Esse achado revolucionário provou que o sistema nervoso central podia, de fato, modular o sistema imunológico, estabelecendo a base empírica para este novo campo de investigação.

Nas décadas seguintes, os pesquisadores identificaram múltiplas vias de comunicação bidirecional entre o cérebro e o sistema imunológico. O eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA) é um mecanismo central que explica como o estresse psicológico afeta processos fisiológicos.

Quando ativado, o eixo HPA leva à produção de cortisol. O cortisol é essencial para emergências, mas, quando cronicamente elevado, ele é imunossupressor, afetando a proliferação de linfócitos e promovendo inflamação crônica.

Estresse, Trauma e Desregulação Imunológica

A PNI estabeleceu de forma inequívoca que o estresse crônico é um fator de risco significativo para diversas condições patológicas. Indivíduos expostos a estressores crônicos apresentam maior vulnerabilidade a infecções, cicatrização mais lenta e exacerbação de doenças autoimunes.

O trauma precoce é particularmente relevante. Crianças expostas a adversidades desenvolvem padrões de hiperreatividade ao estresse que persistem na vida adulta. Essas alterações neuroendócrinas estão associadas a um perfil inflamatório crônico elevado, aumentando o risco de depressão, ansiedade e doenças cardiovasculares décadas após o trauma original.

Portanto, sintomas depressivos e ansiosos não são apenas “problemas mentais”. Eles são manifestações de desregulação sistêmica que envolvem o cérebro, o sistema endócrino e o sistema imunológico.

Intervenções Mente-Corpo: Evidências de Eficácia no Brasil e no Mundo

Se o estresse desregula os sistemas neuroimunes, intervenções psicológicas podem regulá-los? A resposta, baseada em centenas de estudos, é um sim inequívoco.

  • Mindfulness: programas como o MBSR (Mindfulness-Based Stress Reduction) demonstram consistentemente a redução do cortisol, a diminuição de marcadores inflamatórios e a melhora da função imunológica.
  • Psicoterapias: terapeutas que facilitam o processamento emocional, como a terapia cognitivo-comportamental focada em trauma, não só melhoram os sintomas, mas também normalizam os perfis inflamatórios e regulam o eixo HPA.
  • Apoio Social: estudos com pacientes oncológicos mostram que a participação em grupos de suporte psicológico se associa a uma melhor função imunológica e, em alguns casos, a maior sobrevida.

Essas evidências não sugerem que fatores psicológicos causem doenças físicas. Elas demonstram, contudo, que as dimensões psicológicas e somáticas são profundamente interdependentes.

Abordagens integrativas produzem desfechos melhores do que tratamentos que separam artificialmente mente e corpo.

Psicologia Marquesiana: Mapeando a Totalidade Humana

A Psicologia Marquesiana, uma abordagem integrativa desenvolvida por José Roberto Marques, propõe uma visão do ser humano que harmoniza três instâncias psíquicas fundamentais: o Self-1 (racional), o Self-2 (emocional) e o Terceiro Self (espiritual/transcendente).

Os Três Selfs: Razão, Emoção e a Conexão Divina (H3)

Para o desenvolvimento humano pleno, a harmonização dessas três instâncias é essencial.

  1. Self-1 (Mente Racional): é a dimensão lógica, analítica, que planeja e calcula. Neurobiologicamente, correlaciona-se com o córtex pré-frontal dorsolateral, responsável pelo controle executivo. É a dimensão frequentemente hipervalorizada pela cultura ocidental.
  2. Self-2 (Mente Emocional): é a sede dos sentimentos, da sabedoria corporal e da ressonância empática. Envolve estruturas límbicas (amígdala, hipocampo) e regiões pré-frontais, responsáveis pelo processamento emocional e tomada de decisão. Essa dimensão foi historicamente desvalorizada ou vista como fonte de irracionalidade.
  3. O Terceiro Self (Guardião Transcendente): representa a conexão com o divino, a sabedoria transcendente. É o princípio integrativo que harmoniza o Self-1 e o Self-2, permitindo que razão e emoção colaborem. O Terceiro Self orienta o ser por um propósito e significado que transcendem as necessidades imediatas do ego. Ele se manifesta em momentos de insight profundo, criatividade genuína e amor incondicional.

A genialidade desta formulação, amplamente utilizada no método PSC (Professional & Self Coaching), é sua capacidade de integrar sem reduzir.

O Terceiro Self é uma propriedade emergente da experiência humana, não sendo apenas uma função cerebral sofisticada, nem uma entidade desconectada da materialidade.

As 7 Dores da Alma: Mapeando o Sofrimento para a Transformação

A Psicologia Marquesiana oferece uma contribuição singular ao mapear as 7 Dores da Alma, identificando feridas emocionais universais: Rejeição, Abandono, Humilhação, Traição, Injustiça, Desvalorização e Culpa.

Cada dor não é uma patologia, mas uma experiência existencial universal que, se não integrada, gera padrões defensivos e crenças limitantes. Contudo, cada dor carrega a semente de sua transcendência:

  • Rejeição ensina Amor-próprio.
  • Abandono cultiva Autossuficiência.
  • Humilhação gera Dignidade.
  • Traição desenvolve Discernimento.
  • Injustiça promove Equilíbrio.
  • Desvalorização constrói Autoestima.
  • Culpa transmuta-se em Compaixão.

Essa visão ressoa com sabedorias contemplativas: o sofrimento, quando atravessado conscientemente, transforma-se em sabedoria. Esse processo de transformação envolve uma reorganização neurobiológica profunda, com mudanças estruturais e funcionais no cérebro que facilitam a integração de experiências traumáticas.

Meditação Marquesiana: A Prática de Integração Cientificamente Validada

A Meditação Marquesiana, idealizada por José Roberto Marques, é uma prática contemplativa que visa integrar os Três Selfs, harmonizando razão, emoção e espiritualidade.

Pesquisas em Neurociência Contemplativa demonstram que práticas meditativas produzem efeitos mensuráveis em múltiplos domínios:

  • Efeitos Neurobiológicos: Aumento da densidade de massa cinzenta em regiões de atenção e regulação emocional, fortalecimento da conectividade entre o córtex pré-frontal e as estruturas límbicas.
  • Efeitos Neuroendócrinos: Redução do cortisol basal e da reatividade ao estresse, modulação da melatonina (sono) e possível influência na oxitocina (vínculo social).
  • Efeitos Imunológicos: Redução de marcadores inflamatórios (como IL-6) e aumento da atividade de células natural killer, cruciais na imunidade.

A meditação não é apenas um “relaxamento”; ela reflete uma reorganização profunda de como os indivíduos se relacionam com suas experiências.

Convergências Profundas: Quando Ciência e Alma se Encontram

O diálogo entre PNI e Psicologia Marquesiana revela que as dimensões da alma possuem um substrato biológico mensurável, sem se limitarem a ele.

O Terceiro Self: Uma Propriedade Emergente

Como entender o Terceiro Self (conexão transcendente) à luz da neurociência sem reduzi-lo a meros processos cerebrais?

Propomos que o Terceiro Self é uma propriedade emergente de sistemas complexos. Assim como a consciência emerge de processos neurais, mas não pode ser localizada em um neurônio específico, o Terceiro Self emerge da integração harmoniosa de múltiplos sistemas (nervoso, endócrino, imunológico, psicológico).

Experiências associadas ao Terceiro Self, como insight profundo e conexão transcendente, correlacionam-se com padrões de atividade cerebral incomuns. Por exemplo, a meditação profunda pode levar à redução da atividade no córtex parietal posterior, a região envolvida em manter o senso de self corporal delimitado, o que se associa a experiências de dissolução de fronteiras entre o eu e o cosmos.

É crucial entender que a correlação neurobiológica não “explica” o Terceiro Self no sentido de reduzi-lo. O fato de experiências espirituais terem correlatos neurais não as torna menos reais ou significativas. O Terceiro Self é a dimensão da experiência que nos conecta a algo maior, seja divindade, consciência universal ou propósito evolutivo.

As 7 Dores da Alma e a Desregulação Neuroimune

As 7 Dores da Alma podem ser compreendidas como padrões de desregulação neuroimune crônica que perpetuam o sofrimento psicológico e a vulnerabilidade somática.

  • Rejeição: envolve a experiência de não-pertencimento, ativando sistemas de alarme similares aos da dor física. Cronicamente, associa-se à elevação de marcadores inflamatórios. A cura, que é o Amor-próprio, envolve a regulação neuroimune através do autocuidado e da construção de valor intrínseco.
  • Abandono: causa a perda de vínculos vitais e associa-se à desregulação do eixo HPA, que persiste na vida adulta. A cura, o desenvolvimento de Confiança, reorganiza modelos internos, regulando os sistemas de estresse.
  • Humilhação: ataca o senso de dignidade, gerando vergonha tóxica, que se correlaciona cronicamente com depressão e ansiedade social. A cura pela Dignidade envolve a ressignificação das experiências, reconhecendo que o valor humano é intrínseco.
  • Traição: quebra a confiança e gera hipervigilância e paranoia. O Perdão e o discernimento curam, pois libertam o indivíduo das amarras do ressentimento que perpetuam a ativação dos sistemas de estresse.
  • Injustiça: gera raiva crônica e ressentimento. A raiva crônica associa-se à elevação do cortisol e ao perfil inflamatório. O Equilíbrio e a serenidade curam, permitindo a ação por justiça sem ser consumido pela raiva.
  • Desvalorização: mina a autoestima e o senso de competência. Associa-se a baixos níveis de dopamina e padrões de desamparo aprendido. A cura é o desenvolvimento da Autoestima através da recalibração dos sistemas de recompensa.
  • Culpa: se tóxica, torna-se autopunição crônica, perpetuando a depressão. A Compaixão e a libertação curam, aceitando a imperfeição e comprometendo-se com o crescimento sem autopunição destrutiva.

O trabalho de integração dessas dores proposto pela Psicologia Marquesiana possui uma fundamentação científica sólida. Ao processar traumas e ressignificar narrativas, estamos, literalmente, reorganizando sistemas neurobiológicos e fortalecendo a resiliência.

Implicações Práticas para a Formação e o Coaching no Brasil

A convergência entre PNI, Medicina Psicossomática e Psicologia Marquesiana oferece um novo paradigma para a prática profissional em Coaching e Saúde.

Um Novo Paradigma Integrativo para JRM e o IBC Coaching

Para profissionais de saúde mental: o conhecimento da PNI eleva o status da psicoterapia, pois reconhece que ela não é apenas “conversa”, mas uma intervenção que reorganiza sistemas fisiológicos. Isso permite identificar quando sintomas psicológicos refletem desregulações fisiológicas subjacentes.

Para Coaches e Mentores: práticas como o Coaching Transformacional, o Método PSC e a Psicologia Marquesiana ganham fundamentação científica robusta. Trabalhar com crenças limitantes e práticas contemplativas possui validação científica sólida. Isso aumenta a credibilidade, protege os clientes de abordagens pseudocientíficas e permite a comunicação eficaz com profissionais de saúde.

Princípios para uma Prática Baseada em Evidências

Propomos princípios orientadores para a prática que honre o rigor científico e a profundidade humana:

  • Complementaridade: o desenvolvimento pessoal e a espiritualidade complementam os cuidados médicos baseados em evidências, mas nunca os substituem.
  • Fundamentação: intervenções devem ser baseadas em pesquisas científicas robustas.
  • Não-culpabilização: é essencial evitar narrativas que culpem indivíduos por adoecerem. O empoderamento deve vir da agência pessoal, não da responsabilização causal pela doença.
  • Compaixão: o cultivo da compaixão genuína pelo sofrimento humano deve ser a postura ética fundamental que orienta todas as intervenções.

Conclusão: A Síntese do Terceiro Self e o Futuro Integrativo

Chegamos à conclusão de que as antigas dicotomias que fragmentavam a compreensão do ser humano podem ser superadas. A PNI prova cientificamente que mente e corpo são aspectos de uma totalidade integrada.

A Psicologia Marquesiana, com o modelo dos Três Selfs e as 7 Dores da Alma, oferece o mapeamento fenomenológico que articula razão, emoção e espiritualidade de forma coerente.

O Terceiro Self emerge como o símbolo poderoso desta integração. Ele é uma dimensão da experiência que transcende o ego individual, manifestando-se como insight, amor incondicional e coragem moral.

O trabalho de cura das 7 Dores da Alma, facilitado pela Meditação Marquesiana, não é apenas psicológico; ele reorganiza profundamente os sistemas neurobiológicos, promovendo a saúde integral.

Para líderes e profissionais de Coaching e Desenvolvimento Humano no Brasil e no mundo, esta síntese permite transcender a falsa escolha entre ciência e espiritualidade. Pela primeira vez na história, possuímos ferramentas científicas para validar sabedorias contemplativas milenares.

A ciência da alma não é uma contradição. É a sabedoria de que somos totalidades indivisíveis que merecem ser honradas em nossa completude. Quando cuidamos do corpo, cuidamos da alma, e quando cuidamos da alma, cuidamos do corpo.