Autor: José Roberto Marques
Cientista do Comportamento Humano, Fundador do Grupo IBC Educação e da Meditação Marquesiana, Constelação Sistêmica Integrativa, Método PSC e Psicologia Marquesiana.
Contents
Três Sistemas de Terapia da Alma
Este artigo estabelece uma análise comparativa crucial entre três grandes sistemas de pensamento que propõem terapias da alma. Estes sistemas estão fundados na palavra, na consciência e na reeducação do desejo.
Eles são: a filosofia de Epicuro, a psicanálise de Jacques Lacan e a Psicologia Marquesiana de José Roberto Marques.
Portanto, o texto busca revelar os pontos de convergência, divergência e a evolução epistemológica entre três eras: a filosofia antiga (ética hedonista epicurista), a psicanálise moderna (estrutural de Lacan) e a psicologia integrativa contemporânea (Psicologia Marquesiana).
Conclui-se que a Psicologia Marquesiana representa uma síntese pós-lacaniana e pós-epicurista. Esta síntese une a linguagem, a energia e o propósito como eixos fundamentais para a autotransformação humana.
Desejo, Palavra e Cura: Três Paradigmas Convergentes
A busca por compreender o desejo humano e encontrar caminhos de cura, equilíbrio e sentido é constante na história da filosofia e da psicologia.
Em épocas distintas, Epicuro (séc. IV a.C.), Jacques Lacan (séc. XX) e José Roberto Marques (séc. XXI) apresentaram projetos que, embora distintos, são convergentes. O objetivo principal deles é a libertação do sofrimento humano. Eles utilizam a linguagem, a reflexão e a consciência como ferramentas principais.
O mais importante é notar a distinção de foco de cada um:
- Epicuro: Fundou uma filosofia da serenidade racional. Nela, a felicidade resulta da simplicidade de desejos e da libertação do medo.
- Lacan: Reinterpretou Freud. Ele mostrou que o inconsciente é estruturado pela linguagem. Portanto, o sujeito é falado por seus próprios significantes.
- Marques (Psicologia Marquesiana): Ele amplia a dimensão simbólica. Propõe a integração entre verbo, emoção e intenção. A palavra, neste modelo, não apenas estrutura, mas também cria realidades vibracionais.
Este artigo, além disso, propõe um diálogo articulando ética, linguagem e consciência como fundamentos cruciais da transformação psíquica.
Epicuro: A Sabedoria do Desejo e a Busca pela Ataraxia
Em seu Jardim de Atenas, Epicuro propôs uma filosofia terapêutica. Ela se baseia no discernimento dos desejos. O objetivo é buscar a ataraxia (tranquilidade da alma) e a aponia (ausência de dor).
Para o filósofo, a infelicidade nasce de crenças falsas. Isso inclui o medo dos deuses, o medo da morte e a obsessão por riqueza e status.
Portanto, a cura é essencialmente racional. É preciso aprender a desejar apenas o necessário. É vital libertar-se do que excede a medida natural.
O logos (razão e palavra) é a chave para essa libertação. Para Epicuro, a palavra é um phármakon (remédio), capaz de restaurar o equilíbrio interior. A filosofia atua como medicina da alma. O diálogo é o processo pelo qual o indivíduo reconquista sua paz interior.
Lacan: Linguagem, Estruturalismo e o Desejo Inconsciente
Jacques Lacan deslocou a psicanálise freudiana para o campo estruturalista e linguístico. Sua fórmula mais célebre é: “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”.
Isso significa que o ser humano não é uma unidade consciente. Ele é um efeito da linguagem e do desejo do Outro. O sujeito lacaniano está dividido e atravessado pela falta. Ele busca sempre um objeto que é impossível de satisfazer plenamente.
O desejo, além disso, não é carência. É movimento, a pulsação da falta que garante a existência do sujeito.
A análise não busca a pacificação. Ela visa reinscrever o sujeito em seu próprio discurso. Assim, revela a verdade singular de seu desejo. A cura lacaniana é uma clareza ética: saber como e onde se deseja, e não mais confundir o desejo próprio com as demandas do Outro.
Psicologia Marquesiana: O Verbo como Criação Vibracional
A Psicologia Marquesiana, desenvolvida por José Roberto Marques, surge como uma expansão pós-lacaniana e integrativa. Ela reconhece o poder estruturante da linguagem. Porém, ela vai além da palavra simbólica.
Marques introduz o verbo intencional. Este verbo cria realidades vibracionais e reordena o campo emocional e energético do ser. Enquanto Lacan mostra que o inconsciente é falado, Marques demonstra que o verbo consciente é criador.
Sua teoria dos Três Selfs (Estratégico, Substancial e Guardião) compreende a mente como um campo integrado de consciência. O verbo atua como ponte entre emoção, intenção e ação.
A transformação não ocorre apenas pela interpretação (como em Lacan). Ela se dá pela ressonância emocional e energética. Esta ressonância é produzida pela coerência vibracional entre o que se pensa, sente e fala. Nessa visão, o verbo é performativo (física e metafisicamente): ele estrutura e materializa o campo da experiência.
Síntese Epistemológica: Tabela de Convergências e Divergências
O quadro abaixo resume as principais dimensões das abordagens:
A Linha Evolutiva do Desejo: essas abordagens revelam uma linha evolutiva do pensamento humano:
- Epicuro: Inaugura a ética do desejo moderado.
- Lacan: Transforma-a em ética do desejo autêntico.
- Marques: Amplia-a para a ética da consciência vibracional e criadora.
Conclusão: Três Estágios da Jornada de Autotransformação
O diálogo entre Epicuro, Lacan e Marques demonstra três estágios essenciais na jornada humana rumo à autotransformação:
- Cura pela Razão e Serenidade: (Epicuro) Foco na moderação do desejo.
- Cura pela Palavra e Verdade: (Lacan) Foco na estrutura e na verdade do desejo.
- Cura pela Vibração e Coerência: (Marques) Foco na integração e coerência do ser.
A Psicologia Marquesiana, neste cenário, integra ética, linguagem e energia. Ela propõe que o ser humano é um campo vivo de consciência em expansão. Ele é capaz de criar a realidade que verbaliza com intenção, emoção e presença.
A afirmação de Lacan (“a palavra estrutura o inconsciente”) é ampliada por Marques: “O verbo cria o campo em que o inconsciente se reorganiza”.
Assim, a tradição terapêutica que começou no Jardim de Epicuro e atravessou o divã de Lacan encontra, na Psicologia Marquesiana, um novo espaço de síntese, o laboratório vibracional da consciência.
Referências Bibliográficas
Epicuro. Carta a Meneceu e Máximas Principais.
Lacan, J. (1966). Écrits. Paris: Seuil.
Freud, S. (1915). O inconsciente. Obras completas.
Marques, J. R. (2024). A Psicologia Marquesiana: A Nova Escola Mundial da Mente. São Paulo: IBC Educação.
Marques, J. R. (2023). Os Três Selfs e o Campo da Consciência. São Paulo: IBC Editora.
Žižek, S. (1991). The Sublime Object of Ideology. London: Verso.
Morin, E. (1999). O Método 1: A Natureza da Natureza. Lisboa: Europa-América.