As pessoas têm descoberto, nos últimos tempos, o poder da palavra “gratidão”. Temos escutado cada dia mais as pessoas se declararem gratas e substituindo o “obrigado” por “gratidão”. Há nisso um lado muito bom, que é o da popularização desse sentimento tão nobre e dessa palavra tão significativa, mas há também um lado muito ruim, que é o da banalização, do esvaziamento do forte sentido de quando alguém se diz grato.

Gratidão é a atitude de se perceber por dentro, reconhecer-se maduro (não pronto), em busca cada vez mais da alegria interior. Quem agradece se reconhece pertencente aos diversos sistemas. Reconhece ser filho. Ao agradecer por ser filho e existir, demonstra-se maturidade suficiente para dar um novo significado aos desafios, por piores que eles tenham sido. A gratidão é um dos sentimentos mais bonitos e verdadeiros que existem, pois representa que alguém doou algo de que você muito precisava e que você soube retribuir com seu respeito, amor e, claro, reconhecimento.

Manifestar sua gratidão aos seus pais, pelas oportunidades ou pelas dificuldades que passou na vida é entender que sua história não seria a mesma e que você não teria crescido, aprendido e não teria se tornado essa pessoa extraordinária que você é hoje.

O quanto você agradece a seus pais por tudo o que fizeram a você durante a vida toda? Winnicott, em sua teoria sobre a maturidade, esclarece que a separação entre mãe e filho é algo extremamente importante para que nós possamos nos entender como seres únicos e iniciemos o processo de individuação.

Na Teoria da Maturidade, encontramos a concepção de “mãe suficientemente boa”. Esta concepção aponta para o fato de que a criança necessita de uma mãe que atenda às necessidades do bebê, tendo em vista que ele ainda não desenvolveu a própria consciência e recebe a comunicação da mãe como uma forma de amor.

Assim, “O que o bebê precisa e necessita de modo absoluto não é algum tipo de perfeição de maternidade, mas uma adaptação suficientemente boa, aquela que faz parte de uma relação viva em que a mãe temporariamente se identifica com o seu bebê”, diz o pesquisador.

Positivamente, é inovador pensar por outro viés: nossa mãe, nosso pai, foram suficientemente bons; ou bons o suficiente. Isto, porque nossa mãe e nosso pai também tiveram seus ambientes de criação e também suas mães e pais.

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É importante compreender que eles foram bons o quanto possível e o suficiente para sermos quem nós somos hoje. Apartamo-nos de nossa mãe e pai e também da dimensão divina de onde saímos; mas, nessa dimensão divina, nossa mãe e nosso pai continuam em nós. Fazem parte de nós.

Aceitar que “sou filho, logo existo” é ter o poder de viver relações positivas. É necessário tomar a iniciativa, as rédeas da própria felicidade; mas também ter a atitude de ir à busca de resgate da alma humana daqueles que convivem com você: seus familiares, pais, amigos, enfim, de todos os que são importantes na sua vida.

Para o Coaching, a frase “sou filho, logo existo!” significa libertar as amarras das crenças limitantes e passar a acreditar que é possível amar e ser amado. Da mesma maneira, se você se sentir desconfortável onde está, é preciso investigar, pois aí deve estar um sinal interior de que você precisa buscar seu próprio lugar no mundo, e não apenas se deslocar.

Há mecanismos como as Constelações Sistêmicas Integrativas que nos ajudam a compreender melhor nossa história e nossos papéis. As constelações nos mostram como toda nossa vida, todas as pessoas, estão conectadas em uma rede de relações que seguem determinados princípios universais. As constelações nos permitem observar como nosso lugar em cada um dos sistemas que pertencemos constrói nossa realidade e nossa existência.

O objetivo desse método terapêutico é compreender como determinado acontecimento familiar interfere no senso de identidade, propósito e modo de viver do indivíduo. O foco é sempre estabelecer um campo de relacionamento saudável, a partir de ressignificação, alinhamento energético e equilíbrio do sistema familiar ao qual a pessoa pertence. Com essa compreensão sistêmica, passamos a ter condições de dizer: “Sou grato pela minha história, pela minha família e por mim mesmo.”

Visando a um processo de autodesenvolvimento ainda mais efetivo, a constelação ajuda o indivíduo a compreender as origens de seus comportamentos e quais deles são favoráveis ou são prejudiciais ao seu processo evolutivo.

Por mais que pareça difícil compreender, é preciso que também sejamos gratos a cada uma das adversidades que surgiram em nosso caminho. Se você refletir por alguns instantes vai perceber que tenho razão, pois as dificuldades em nossa vida são tão essenciais quanto tudo aquilo que dá certo e nos faz sorrir de imediato.

Diante disso, não tem como não sermos gratos também pelas experiências desafiadoras que a vida nos traz, uma vez que elas nos fortalecem; embora nos derrubem, também fazem com que nos levantemos ainda mais fortes e acreditemos que somos capazes de enfrentar a vida, com mais disposição e motivação no dia a dia.

Enfim, não use a palavra “gratidão” sem estar consciente de todo o movimento energético e de reconhecimento que ela produz. É uma palavra de poder e, por isso, deve ser usada com o máximo de responsabilidade. Devemos declarar nossa gratidão quando esse sentimento for forte e verdadeiro dentro de nós. Quando for possível que essa palavra se manifeste também como uma bênção em nossa vida e na vida de quem recebe, será o momento ideal de usá-la.

Então eu te pergunto: 

A quem você é grato?

Quantas vezes demonstrou sua gratidão?

Quantas vezes deixou de demonstrá-la?

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