Você já sentiu amor e ódio ao mesmo tempo por uma mesma pessoa? Já ficou feliz por um lado, mas triste por outro, numa mesma situação? Nutriu um grande afeto e, ao mesmo tempo, uma grande decepção por alguém? Saiba que isso é mais comum do que parece. Aliás, é uma característica típica dos seres humanos.

A mente humana é muito complexa para maniqueísmos. Isso significa que, entre o bem e o mal, o certo e o errado, o sim e o não, existe uma série de itens no meio desses dois extremos. Assim, por mais que tenhamos uma emoção predominante, frequentemente há várias outras que sentimos ao mesmo tempo. Este tipo de condição recebe o nome de ambivalência afetiva. Para saber mais sobre ela, continue a ler este artigo.

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Por que a ambivalência afetiva ocorre?

Pense numa mulher que acabou de dar à luz. Essencialmente, trate-se de um momento feliz, que inclusive é a realização de um sonho para muitas mulheres. No entanto, ela está longe de casa, em um hospital, recém-operada, enfrentando uma oscilação hormonal intensa, dormindo pouco, dando de mamar, entre outras questões.

Essa mulher pode estar profundamente feliz por ter se tornado mãe, mas, ao mesmo tempo, pode estar insegura quanto a esse novo momento, cansada, irritada pela privação do sono, querendo ir para casa. Este é um exemplo de como as situações enfrentadas pelas pessoas são complexas. Por isso, é natural que surjam diversos sentimentos, inclusive emoções contraditórias, ao mesmo tempo.

A ambivalência afetiva não é um distúrbio (embora casos intensos mereçam alguma investigação), mas uma característica normal, que reflete a diversidade e a complexidade de nossa estrutura emocional. Neurologistas, psiquiatras e psicólogos têm se dedicado bastante ao tema. Eles chegam à conclusão de que aqueles comportamentos que muitas vezes não conseguimos explicar podem ter suas origens em sentimentos opostos vivenciados simultaneamente.

Sentimentos contraditórios

A ambivalência efetiva foi explicada inicialmente pelo psiquiatra suíço Eugene Bleuler, ainda no início do século XX. O fenômeno foi definido como a “presença de dois sentimentos opostos (atração e repulsa), de duas direções opostas da vontade, em relação ao mesmo objeto”.

O exemplo mais clássico ocorre quando amamos e odiamos alguém ao mesmo tempo. Desde as explicações de Bleuler, a psicologia tem se interessado profundamente por essa característica tão contraditória da mente humana, mas mais comum do que se pensava.

A principal razão pela qual vivenciamos a ambivalência afetiva consiste no fato de que as contradições fazem parte da experiência humana. Queremos comprar algo, mas precisamos economizar dinheiro. Queremos abrir um negócio próprio, mas temos medo. Queremos abraçar uma grande oportunidade de emprego no exterior, mas não queremos abrir mão da estabilidade que encontramos na terra natal. Tudo isso dificulta o processo de tomada de decisão, o que nos leva aos sentimentos opostos.

Situação desconfortável

O cérebro humano gosta de viver e sentir as coisas da maneira mais clara possível. Por este motivo, ele se sente profundamente desconfortável quando sensações contraditórias surgem ao mesmo tempo.

Quando nos apaixonamos por alguém, mas, ao mesmo tempo, essa pessoa tem algum comportamento que nos provoca ódio ou raiva, o cérebro entra em desconforto. Isso acontece porque a energia e o desgaste sofridos pelo órgão são intensos diante dessa dissonância. É algo exaustivo, quando ocorre com muita frequência.

Em geral, a ambivalência afetiva se intensifica ainda na adolescência, quando passamos a vivenciar angústias, medos, paixões, vontades e inseguranças numa mesma circunstância. Admitir essa divergência emocional nem sempre é fácil, mas trata-se de algo comum e natural na vida humana.

O lado bom: aprendemos a fazer a escolhas

Até agora você deve estar pensando que a ambivalência emocional é algo terrível, do qual não há nada para extrairmos de bom, não é mesmo? Na verdade, há um lado positivo nesse emaranhado de sentimentos.

Voltando ao exemplo, quando amamos e odiamos alguém simultaneamente, essa situação contraditória nos leva a analisar nossos sentimentos com mais profundidade, o que não ocorre quando as emoções são mais simples de entender. Essa angústia nos leva a avaliar: será que eu amo mesmo essa pessoa? Eu tenho motivos para odiá-la? Será que vale a pena investir num relacionamento com ela?

Quando as emoções nos parecem extremamente claras desde o início, podemos nos decepcionar futuramente, por falta de reflexões mais intensas. Em compensação, quando estamos diante de uma ambivalência afetiva desde o início, esse cenário nebuloso nos leva a refletir melhor e, consequentemente, a entender o que estamos sentindo. O que a princípio parece ruim, pode nos conduzir a um relacionamento feliz, ou nos afastar de uma relação que nos faria mais mal do que bem.

Nesse sentido, um estudo publicado em 2013 pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, revelou que a ambivalência afetiva promove a autoconsciência. Isso significa que é no meio desse desconforto emocional que de fato descobrimos quem somos e o que queremos.

Além disso, o estudo também pontuou que os sentimentos contraditórios estimulam o pensamento criativo, pois o cérebro se vê obrigado a pensar de formas inovadoras quando se vê diante de emoções opostas.

Conclusão

Concluindo, podemos afirmar que, embora possa ser um pouco desagradável, a ambivalência emocional é um fator natural da mente de todos os seres humanos. As situações que vivemos nos levam a desenvolver emoções conflitantes, pois nenhuma situação é 100% clara e objetiva. Quando o assunto é a experiência humana, tudo assume diferentes contornos e nuances.

O lado bom é que esses conflitos sentimentais nos levam a parar, analisar e compreender aquilo que estamos sentindo — o que não fazemos quando as coisas estão muito evidentes. Essa reflexão nos leva à resolução dos conflitos que tanto nos aborrecem diariamente. Além disso, uma análise mais apurada e profunda de nossas emoções é essencial para que saibamos tomar decisões, tanto pessoal quanto profissionalmente.

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