Jung sentado em sua poltrona fumando seu cachimbo e refletindo sobre suas percepções junguianas

Ehmi Nanthis’s/Shutterstock Conheça as percepções de Carl Jung sobre os arquétipos

Todos vocês sabem que o Coaching é, em sua essência, multiteórico ou transdisciplinar. Isso quer dizer que há muitas ciências e campos do saber no desenvolvimento do conhecimento e das ferramentas desta metodologia. Um dos principais campos do saber é a psicologia/ psicanálise. Sou um grande estudioso e interessado desse campo e sempre que posso trago para meus coaches alguns conhecimentos que nos ajudam a entender melhor o ser humano.

O conceito de arquétipo tem sido muito presente nas minhas formações. Escrevi um livro, recentemente, dedicado a esse assunto, se chama Crenças e Arquétipos: Você Pode Curar Sua Vida. Nesse livro me dedico a explicar um pouco sobre a relação dos arquétipos e da nossa identidade que juntos dão base às nossas crenças. Os arquétipos precisam ser conhecidos por todos os coaches, independente da sua formação, para dar sustentação às suas sessões.

Os arquétipos são, em resumo, padrões de comportamento. Todos nós que lidamos com pessoas (esse é o trabalho do Coach), sabe que cada indivíduo tem uma forma de ser e agir. É essa individualidade nas nossas ações, emoções, pensamentos, que nos faz seres únicos, exclusivos e, portanto, especiais.

Contudo, mesmo que tenhamos nossa individualidade, há formas muito semelhantes de agir que acompanham a humanidade de tempos imemoriais e que não tiram de nenhuma forma a nossa individualidade. A esses padrões universais e milenares de nos comportar damos o nome de arquétipos.

Os arquétipos independem da cultura, pois são universais. Eles estão principalmente nos nossos mitos e crenças, e têm uma influência invisível sobre nós, diante da forma como nós enxergamos todos os aspectos de nossas vidas. Assim vindos dos mitos e de outras narrativas milenares, podemos dizer que os arquétipos são “dramas sintetizados”, dramas no sentido de gênero narrativo, como as tragédias gregas que, por exemplo, nos apresentam Édipo, um arquétipo central na psicanálise de Freud, mas menos presente na psicanálise de Jung.

Por serem estruturas inconscientes e coletivas Jung diz que o arquétipo é um “órgão da alma”, que está presente em cada um. Mas não é algo que vem de fora de nós, pois ele este impregnado em nossas células e nosso cérebro: “Os arquétipos constituem sistemas de prontidão para a ação e constituem ao mesmo tempo imagens e emoções. São herdados juntamente com a estrutura do cérebro – constituem na verdade o aspecto psíquico dessa estrutura

Nesse artigo tratarei das três formas como Jung entende os arquétipos.

Quer se desenvolver e conquistar resultados extraordinários?
Clique aqui e descubra em “O Poder do Autoconhecimento!

Arquétipos Como Padrão de Comportamento segundo Jung

A primeira e mais emblemática forma de compreender os arquétipos é tomando-os como esses padrões de comportamento que transcendem a individualidade do ser humano e são ao mesmo tempo universais e coletivos. São padrões que se repetem indiferentemente da cultura. Não se ensina, é da natureza da evolução do ser humano.

Um bom exemplo é o arquétipo de Deméter e Perséfone. Deméter, na mitologia grega, é a deusa da agricultura e da fertilidade da Terra. Também é mãe de uma linda jovem chamada Perséfone. Quando a notícia sobre a beleza de Perséfone se espalhou pelo Olimpo diversos deuses e semideuses vieram até Deméter pedir permissão para desposar Perséfone, mas a mãe recusava a todos por ciúmes da filha, pois não queria se afastar de Perséfone. Um dia, Hades, deus do mundo dos mortos subiu à terra e raptou Perséfone levando-a para morar consigo. Deméter não se descansou até descobrir onde sua filha estava e, durante esse tempo, deixou suas obrigações de deusa, por isso o Trigo se recusou a germinar, as espigas de milho não cresceram a fome preocupou os deuses. Hades então fez um acordo para que Perséfone passasse três meses do ano com ele o restante do tempo com sua mãe.

Se você pensar um pouco tenho certeza de que conhece mães que cuidam de suas filhas de forma quase possessiva e tentam impedir a todo custo que elas se relacionem, para que não saiam da “casa da mamãe”. Esse comportamento é, pode se dizer, comum, e está ligado a esse comportamento maternal milenar descrito no mito de Deméter. Contudo é um padrão de comportamento que pode ser nocivo, especialmente para a filha, objeto dessa possessão (ou desse amor desmedido).

Assim acontece com diversos padrões de comportamento que conhecemos. Muitos são estruturas ancestrais que nos acompanham e que podemos compreender melhor quando estudamos os arquétipos e as imagens arquetípicas. Há aquelas mais simples como o comportamento do herói e do guerreiro e o padrão de comportamento do curandeiro e do sábio, até formas mais elaboradas da psique relacionadas aos mitos e às narrativas ancestrais.

Arquétipo como Percepção de Si e do Outro

A segunda forma que Jung entende o arquétipo é como forma de perceber e compreender a si mesmo e o outro. Os arquétipos estão no inconsciente. Nós simplesmente agimos, vivemos, nos comportamos, não estamos o tempo todo nos autoanalisando, mas quando passamos a pensar sobre nós mesmos e os outros passamos a racionalizar sobre o comportamento humano.

Pensar sobre o comportamento humano é uma missão para alguns tipos de especialistas, entre eles os coaches. Quando trazemos as estruturas arquetípicas e as imagens arquetípicas para o conhecimento das pessoas muitas delas vão se “encontrar”, isso é, vão olhar para as diversas descrições dos arquétipos e pensar: “isso se parece comigo, eu sou assim!”.

Logo, os arquétipos são também excelentes ferramentas de autopercepção e de percepção do outro. Olhar para nós mesmos de forma racional é a melhor forma para descobri quem somos e de que forma agimos no mundo – e em seguida buscar sermos cada vez pessoas melhores.

Quando fazemos, por exemplo, um teste vocacional, aquele que os adolescentes fazem em idade universitária para ajudar na definição de uma carreira, são usadas figuras arquetípicas como forma de percepção de si mesmo. Exemplo: “Você se vê como um advogado? Como um advogado se comporta? E como você se comporta? Vê alguma semelhança ou nenhuma semelhança”.

Percebe? Quando entendemos estruturas comportamentais estamos aprendendo sobre como os arquétipos nos auxiliam no autoconhecimento.

O Arquétipo na Genética

A terceira forma de explicação tem a ver com fisiologia. Vanguardista, Jung percebe que há uma ligação entre a psique e o corpo. O corpo não está desvinculado das estruturas que moldam nossa essência, nesse caso, as estruturas que darão forma ao nosso comportamento, sendo os arquétipos passados pela genética, de geração em geração.

Nas palavras do próprio Jung: “Não somente os arquétipos são aparentemente, as impressões incontavelmente repetidas de experiências, mas ao mesmo tempo, comportam-se como agentes que promovem a repetição dessas mesmas experiências”. Nesse entendimento, a repetição dos padrões está tanto no inconsciente quanto no nosso organismo, como memória genética.

Jung defende que a mente humana não nasce nula como uma folha em branco. Para ele ao nascermos já trazemos incontáveis informações, por isso, para além daquilo que nos defini como indivíduos também estamos imersos naquilo que nos define como grupo humano. Podemos entender que ao nascermos nosso cérebro não é “novo” e “único”, para Jung nosso cérebro “é o resultado do desenvolvimento de incontáveis elos ancestrais. Esse cérebro é produzido em cada embrião com toda a perfeição diferenciada, e quando começa a funcionar, produzirá fielmente os mesmos resultados que foram produzidos inumeráveis vezes ao longa da linha ancestral. Toda a anatomia humana constitui um sistema herdado idêntico em sua constituição aos ancestrais e que funcionará da mesma maneira. Todos os fatores que foram essenciais aos nossos antepassados, recentes ou remotos, continuam essenciais para nós, estão embebidos no nosso sistema orgânico hereditário”

A autoconfiança só é possível se você está de bem com a vida.
Quer saber em qual nível está a sua felicidade? Clique aqui

Jung se antecipou a diversas pesquisas recentes que colocam o cérebro como uma complexa máquina de processamentos eletroquímicos, essencialmente ligado às funções básicas e complexas do corpo e, sobretudo, à psique. Conceber a mente e suas redes de significados e percepções separadas da genética e da fisiologia era uma concepção aceita 100 anos atrás, mas não hoje. Por isso consideramos o pensamento de Jung avançado e vanguardista.

A neurociência afirma que o desenvolvimento das nossas conexões sinápticas, aquelas conexões feitas pelos neurônios, no cérebro, são em parte realizadas pelo código genético e, em parte, realizadas pelos eventos vivenciais, as experiências de cada indivíduo, logo, nosso organismo e nossa vida estão interligados, sendo impossível pensar o desenvolvimento de um sem o desenvolvimento do outro.

Entender os arquétipos, a priori, pode parecer algo demasiadamente místico, mas é bom e importante lembrar que o que fez Jung se tornar um dos mais célebres psicanalistas do nosso tempo foi justamente não desprezar o elemento religioso nas suas pesquisas. Ele e Freud eram amigos, contudo, discordavam nesse ponto e Jung não abriu mão de perceber que dentro de pensamentos ditos “religiosos” ou “místicos” havia muita informação importante para se pensar a essência humana.