Você já deve ter ouvido muitas pessoas dizendo que a ansiedade é o mal do século e que o Brasil é o país mais ansioso do mundo, não é mesmo? De fato, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), existem mais de 18 milhões de pessoas que convivem com esse transtorno somente em nosso país.

Mas será que a ansiedade é sempre um problema? Enquanto emoção, a ansiedade é sempre algo negativo que pode desencadear transtornos mentais que exigem medicação em longo prazo? Para descobrir as respostas, continue a leitura do artigo a seguir!

Ansiedade: uma emoção necessária à evolução humana

Imagine você que, num lindo dia de verão, um homem das cavernas, há milhares de anos, sai para caçar. Ele está no meio de uma savana e se depara com um leão atrás dele. Imediatamente, uma série de hormônios é ativada em seu organismo, disparando um conjunto de reações: o pensamento de que aquele leão o devorará instantaneamente provoca elevação da pressão arterial, aceleração dos batimentos cardíacos, aumento na frequência respiratória, sudorese intensa e aumento na tensão dos músculos.

Essas reações que parecem horríveis na hora são, na verdade, o motivo pelo qual esse homem das cavernas consegue sobreviver. São elas que possibilitam que ele tome decisões vitais em frações de segundos, preparando-se para lutar ou fugir, em nome da manutenção da sua vida.

Esse mecanismo, conhecido como reação de “luta ou fuga” é estudado pela área da psicologia e explica por que sentimos estresse, preocupação e ansiedade. Esses sentimentos nos levam a pensar naquilo de pior que pode acontecer. Contudo, é justamente esse momento pessimista que nos leva a planejar melhor o nosso futuro, de modo a evitar que essas visões catastróficas de fato se concretizem.

Portanto, sem a ansiedade, você provavelmente não olharia aos dois lados da rua antes de atravessá-la, correndo o risco de ser atingido por um carro, por exemplo. Por isso, se você está vivo hoje e se a sua espécie chegou até aqui, agradeça à ansiedade. Ela é um mecanismo evolutivo muito importante, sem o qual não estaríamos aqui.

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É a ansiedade que leva você a planejar as suas finanças, a estudar, a trabalhar, a cuidar da sua saúde, enfim, a ter objetivos e a agir no sentido de concretizá-los. Uma pessoa sem ansiedade nenhuma é alguém que desistiu de viver, pois já não faz planos, não se cuida e não se importa com a sua vida ou com o seu bem-estar.

E quando a ansiedade começa a fazer mal?

Como você pode perceber, a ansiedade é uma emoção que tem uma razão de existir. Ela é uma visualização antecipada do futuro que nos permite planejá-lo melhor, evitando os riscos que podem surgir no percurso. O problema é que, em alguns casos, essa emoção pode surgir de forma exagerada e desproporcional aos fatos, o que realmente pode provocar sofrimento e tornar-se uma doença, que exige tratamento.

Quando a ansiedade se manifesta de forma intensa, a pessoa experimenta uma série de pensamentos terríveis. O cérebro, na melhor das intenções, faz de tudo para proteger você dos riscos do mundo. A questão é que, na maioria das vezes, esses riscos não vão acontecer de verdade. Mas até o seu cérebro racional entender isso, a emoção já tomou conta e você já está desesperado.

Esse medo intenso do futuro gera preocupações muito intensas. Assim, o indivíduo se desconecta com o momento presente e deixa de viver no “aqui e agora”, passando a viver em função do amanhã. Será que o meu chefe vai me mandar embora? Será que o meu marido está me traindo? Será que eu estou doente? Será que vou tirar nota vermelha na prova de amanhã? Será que eu vou morrer sozinho e sem amor? Será que eu nunca vou encontrar um emprego decente?

A ansiedade é a emoção oficial do “será que”. Essas duas palavrinhas proporcionam a criação de uma série de visões hipotéticas, na maioria das vezes catastróficas. Quando esse mecanismo da mente é disparado com frequência, aqueles sintomas da reação de luta ou fuga começam a ser sentidos de forma mais intensa: suor intenso, coração acelerado, respiração ofegante, tensão muscular, dor de barriga, elevação na pressão arterial, boca seca e um medo gigantesco do futuro. Hoje, não enfrentamos mais leões, mas continuamos com outros tipos de preocupação.

Quando esse conjunto de sensações físicas e mentais começa a aparecer com frequência exagerada e com intensidade alta, de forma desproporcional aos riscos que de fato existem, diz-se que a ansiedade deixou de ser benéfica e alcançou um nível patológico, ou seja, tornou-se uma doença, conhecida como “transtorno de ansiedade”.

E agora, o que fazer?

Perceber se os níveis de ansiedade estão dentro da normalidade ou acima do que é considerado saudável é uma questão muito subjetiva. Por isso, você deve analisar o seu dia a dia: na maior parte do tempo, você se sente tranquilo ou tenso? Quando você se sente ansioso, você consegue lidar com essa emoção ou perde o controle das situações? Essas sensações desagradáveis surgem apenas de vez em quando ou na maioria dos dias?

É importante que cada indivíduo faça a si mesmo essas perguntas para refletir sobre o seu nível de ansiedade. O autoconhecimento ajuda muito nessas horas. Sentir-se ansioso diante de uma prova difícil ou de uma conversa delicada com o chefe é perfeitamente normal. O problema ocorre quando coisas muito menores desencadeiam preocupações enormes, com todos aqueles sintomas citados acima.

Se você tem sofrido com essas sensações físicas e mentais, se tem tido padrões de sono irregulares (sono em excesso ou insônia) e/ou padrões irregulares de alimentação (pouca quantidade ou quantidade exagerada), saiba que esses são sinais de alerta.

Nesse caso, não hesite em procurar ajuda especializada. É o caso dos psicólogos e psiquiatras, que poderão oferecer tratamentos apropriados. O objetivo desse tratamento não é fazer com que você elimine totalmente a ansiedade (já que precisamos dela para viver), mas trazê-la de volta a níveis saudáveis.

O tratamento adequado

As técnicas empregadas estimulam um pensamento mais racional para confrontar as preocupações: será mesmo que essa catástrofe que apareceu na sua mente tem chance de ocorrer? Qual o tamanho dessa chance? Se tudo der errado, o que você poderá fazer? Na maioria das vezes, a voz da razão nos esclarece que essas visões catastróficas são pouco prováveis. Aliás, se você examinar todas as vezes em que pensou no pior, perceberá que ele se concretizou poucas vezes, não é mesmo?

Por isso, a psicoterapia ajuda a pessoa ansiosa a analisar as situações com mais clareza e tranquilidade. Ela também ensina a pessoa a desenvolver técnicas de relaxamento e de foco no momento no presente, como a meditação e a respiração diafragmática consciente.

Além disso, há casos em que os sintomas indicam que há um comprometimento nos níveis de neurotransmissores (como a serotonina e o GABA) que deve ser corrigido por meio de um tratamento medicamentoso prescrito por um médico psiquiatra.

Portanto, saiba que você não precisa sofrer desnecessariamente. A ansiedade patológica tem tratamentos eficazes, por meio das técnicas de psicoterapia e também de diversos medicamentos prescritos pela psiquiatria, quando necessários. O tratamento não vai acabar milagrosamente com a sua ansiedade, mas fazer com que você consiga trazê-la para um nível funcional, que não comprometa a sua qualidade de vida.

Agora que você já sabe a função da ansiedade, agradeça por ela existir, afinal de contas, ela o mantém vivo e saudável. Apenas certifique-se de que você não está “exagerando na dose”, OK? Se este artigo fez sentido para você, deixe o seu comentário no espaço abaixo e o compartilhe com os seus amigos, colegas e familiares. Utilize as suas redes sociais para levar esta mensagem a quem mais precise dela!

Imagem: Por fizkes